UOL

São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CASO SANTO ANDRÉ

Sérgio Gomes da Silva nega ter sido mandante da morte de Celso Daniel e afirma que é acusado por bandidos

Ação tem todo tipo de loucura, diz empresário

DA REPORTAGEM LOCAL

O empresário Sérgio Gomes da Silva, denunciado criminalmente anteontem como um dos mandantes do assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel, disse ontem, em entrevista coletiva, que o processo que o acusa tem "todo tipo de loucura". Ele também questionou a credibilidade das testemunhas e disse estar sendo acusado por "bandidos".
Com cópia do processo sigiloso nas mãos, Gomes da Silva disse que "tem uma carta de uma mulher que diz que cozinhava para o Arcanjo [provavelmente o ex-policial civil João Arcanjo Ribeiro, preso no Uruguai em abril]".
"Não sei que Arcanjo [...]. Mas ela diz que me viu em uma festa tramando a morte, eu e o Palocci [Antonio Palocci Filho, ministro da Fazenda]. Isso está aqui", afirmou Gomes da Silva, abrindo o processo na página da carta, que estava previamente marcada.
O empresário respondeu a perguntas de jornalistas durante 40 minutos. Tenso e emocionado, falou lentamente e chorou diversas vezes. Sempre que citou Daniel, interrompeu as frases, olhou para baixo, ficou em silêncio por algum tempo e depois voltou a falar com os olhos marejados.
Ele repetiu diversas frases que têm sido ditas por seu advogado, Roberto Podval. Disse, por exemplo, que o processo é inquisitorial e que estamos vivendo uma "democracia às avessas".
"Estou sendo julgado, condenado e execrado publicamente", disse o empresário. Ele afirmou que sua inocência será provada daqui a dois ou três anos, mas que sua vida já estará destruída. "Não existe nada que possa consertar o que essas pessoas [promotores] fizeram comigo."
O empresário disse que perdeu sua vida social, que não tem condições de trabalhar e que é apontado na rua. "Eles [os promotores] acabam com a sua vida. Tenho meu amigo morto, minha vida na lata do lixo. E tenho de enfrentar um monte de mentiras."

Bandidos
Gomes da Silva questionou a credibilidade das testemunhas. "Estou sendo acusado pelo Ministério Público e por bandidos", afirmou, em referência ao histórico criminal de Dionízio Severo e Ailton Alves Feitosa -ambos resgatados de helicóptero da Penitenciária de Guarulhos dois dias antes do sequestro de Daniel.
"Quanto eles foram presos, disseram que eram inocentes e o Ministério Público não acreditou. Mas quando eles fazem acusações infundadas contra mim, o Ministério Público acredita."
O empresário afirmou enfaticamente que não conheceu Severo e disse que o sequestrador jamais namorou sua mulher, Adriana.
"Dizer que o Dionízio namorou a Adriana? Eu estava casado com ela em 1988. Ele namorou a Adriana em 1989. E [mais de] dez anos depois, "em agradecimento", contrato ele para matar meu irmão [referência a Celso Daniel]."
Ele também questionou os procedimentos do Ministério Público em relação à investigação sobre a relação de Severo com a Prefeitura de Santo André. "Dezenas de pessoas trabalham no gabinete do prefeito, mas o Ministério Público ouviu apenas o José Cicote, que era inimigo público do Celso."
Gomes da Silva disse que Severo jamais trabalhou na Prefeitura de Santo André. "Um advogado disse que encontrou o Dionízio no pátio da prefeitura. Mas qualquer prefeitura é visitada por milhares de pessoas. É mentira que ele trabalhava lá, é mentira que eu o conhecia", disse o empresário.
Outro argumento utilizado pelo empresário para afirmar sua inocência é o fato de que Celso Daniel estava cotado para ser o coordenador do programa econômico de Luiz Inácio Lula da Silva, que na época do assassinato era candidato à Presidência. Com a morte de Daniel, Antonio Palocci Filho assumiu o papel e se tornou ministro da Fazenda.
"Se essa hipótese, absolutamente absurda fosse verdadeira, por que eu faria isso? Se é o que eles [os promotores] dizem na denúncia, que eu me interesso por poder e dinheiro, como eu teria mais poder do que ter um amigo no Ministério da Fazenda? Não tem sentido [a tese da Promotoria]."
Sobre a existência de supostos esquemas de corrupção na Prefeitura de Santo André, Gomes da Silva disse que nunca conversou sobre o assunto com Celso Daniel.
"Sobre essa alegada corrupção, eles [os promotores] já fizeram uma investigação que foi anulada pelo Tribunal de Justiça."
O empresário disse que a família de Celso Daniel tem o direito de ter dúvidas sobre as circunstâncias da morte dele e concluiu a entrevista dizendo que gostaria de ter morrido no lugar de Daniel. "O Celso era um irmão para mim", afirmou Gomes da Silva.


Texto Anterior: Outro lado: Genoino defende deputado do PT, e Murad rebate
Próximo Texto: Frase
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.