|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CAIXA-PRETA
Ex-tesoureiro afirma ter mantido reserva de caixa 2; publicitário não confirma nem nega
Dinheiro para Coteminas veio de Valério, diz agora Delúbio
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em nova versão para o pagamento em espécie de R$ 1 milhão
à Coteminas -a empresa do vice-presidente José Alencar-, o
ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares afirmou ontem que o dinheiro
saiu de uma reserva do caixa dois
do partido, alimentado pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza.
Em nota, Delúbio diz ter se
equivocado quando respondeu à
Folha que o pagamento havia sido lançado na contabilidade do
PT. No domingo, o jornal informou que o pagamento de R$ 1 milhão à Coteminas havia sido feito
em dinheiro e não estava registrado na contabilidade do partido.
"Quando perguntado sobre esse
pagamento, lembrei-me de sua
ocorrência, mas me equivoquei,
achando que tinha sido feito com
recursos contabilizados. Na verdade o pagamento foi feito em espécie, com dinheiro que tinha origem nos empréstimos feitos por
Marcos Valério ao Partido dos
Trabalhadores. Trata-se de parte
do valor que, daqueles empréstimos, foi reservado para despesas
do Diretório Nacional do Partido", corrigiu-se Delúbio.
Os termos da nota divulgada no
início da noite de ontem pelo advogado Arnaldo Malheiros vinham sendo estudados havia
quatro dias. Além de confirmar o
uso de caixa dois, a nota apresenta
uma origem suspeita para os recursos. O principal problema da
versão é o fato de o ex-tesoureiro
afirmar ter guardado uma parcela
dos repasses feitos por Marcos
Valério ao Diretório Nacional do
PT durante quase um ano, até o
pagamento à Coteminas.
Nesse período, o dinheiro
-produzido por supostos empréstimos bancários- teria ficado guardado, sem render juros
nem correção monetária.
Ao todo, o publicitário mineiro
afirma ter entregue ao partido R$
4,9 milhões, entre saques em dinheiro e um repasse à corretora
Bônus-Banval, do total de R$ 55,8
milhões movimentados no esquema do "valerioduto".
O dinheiro do publicitário irrigou o caixa dois do Diretório Nacional do PT entre maio de 2003 e
outubro de 2004. A última parcela, de R$ 200 mil, teria entrado na
contabilidade paralela do PT em
1º de outubro de 2004, mais de sete meses antes do pagamento à
Coteminas, realizado em 17 de
maio de 2005.
No mesmo período em que o
PT mantinha uma reserva de dinheiro no caixa dois, Delúbio renegociava o pagamento de 2,7 milhões camisetas encomendadas à
Coteminas para a campanha do
partido nas eleições municipais
de 2004. A primeira e a segunda
parcelas da renegociação venceram em março e abril de 2005 e
não foram pagas.
"Novas dificuldades financeiras
do partido impediram que as parcelas fossem honradas na forma
acordada", justifica Delúbio na
nota. "Ante a necessidade da Coteminas de receber ao menos parte do crédito e das dificuldades de
caixa do PT, foi feito um pagamento de R$ 1 milhão, em maio
de 2005", diz o ex-tesoureiro.
Delúbio Soares e Arnaldo Malheiros não quiseram dar entrevista ontem sobre a nota.
Valério
Ouvido pela Folha, o publicitário Marcos Valério não quis se envolver com a versão do ex-tesoureiro petista: "Não posso falar que
ele está mentindo ou falando a
verdade. O dinheiro era do Delúbio, não sei o que ele fez com ele".
Valério insistiu em que o último
repasse feito com dinheiro dos supostos empréstimos tomados no
BMG e no Banco Rural ocorreu
em outubro de 2004.
Uma planilha entregue pelo publicitário à Procuradoria Geral da
República e à CPI dos Correios,
Valério registra que parte do dinheiro repassado ao Diretório
Nacional do PT se destinou ao pagamento da defesa institucional
do partido no caso do assassinato
do prefeito Celso Daniel. Uma
parte foi repassada à funcionária
Solange Pereira Oliveira. O documento é pobre em detalhes sobre
o destino do dinheiro no partido.
Informado à noite sobre a nota
de Delúbio, o atual secretário de
Finanças do PT, Paulo Ferreira,
disse que não tem como aferir se a
versão é verdadeira ou não porque o ex-tesoureiro não teria deixado registro da contabilidade
paralela do partido.
Questionado se a nota de Delúbio apresenta uma explicação definitiva e encerra a investigação
no partido sobre a origem dos recursos do caixa dois, Paulo Ferreira afirmou: "É evidente que não; é
mais um elemento que arrolaremos nessa investigação".
A versão de Delúbio será analisada pela CPI dos Correios, que
investiga a hipótese de o caixa
dois do PT ter movimentado mais
do que os R$ 55,8 milhões declarados por Valério.
A CPI acredita que os empréstimos citados por Valério seriam de
fachada. Ao menos R$ 10 milhões
teriam vindo da Visanet, empresa
ligada ao Banco do Brasil, segundo o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR).
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Ex-tesoureiro diz que se equivocou sobre o dinheiro Índice
|