São Paulo, quarta-feira, 07 de dezembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CAIXA-PRETA

Ex-tesoureiro afirma ter mantido reserva de caixa 2; publicitário não confirma nem nega

Dinheiro para Coteminas veio de Valério, diz agora Delúbio

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em nova versão para o pagamento em espécie de R$ 1 milhão à Coteminas -a empresa do vice-presidente José Alencar-, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares afirmou ontem que o dinheiro saiu de uma reserva do caixa dois do partido, alimentado pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza.
Em nota, Delúbio diz ter se equivocado quando respondeu à Folha que o pagamento havia sido lançado na contabilidade do PT. No domingo, o jornal informou que o pagamento de R$ 1 milhão à Coteminas havia sido feito em dinheiro e não estava registrado na contabilidade do partido.
"Quando perguntado sobre esse pagamento, lembrei-me de sua ocorrência, mas me equivoquei, achando que tinha sido feito com recursos contabilizados. Na verdade o pagamento foi feito em espécie, com dinheiro que tinha origem nos empréstimos feitos por Marcos Valério ao Partido dos Trabalhadores. Trata-se de parte do valor que, daqueles empréstimos, foi reservado para despesas do Diretório Nacional do Partido", corrigiu-se Delúbio.
Os termos da nota divulgada no início da noite de ontem pelo advogado Arnaldo Malheiros vinham sendo estudados havia quatro dias. Além de confirmar o uso de caixa dois, a nota apresenta uma origem suspeita para os recursos. O principal problema da versão é o fato de o ex-tesoureiro afirmar ter guardado uma parcela dos repasses feitos por Marcos Valério ao Diretório Nacional do PT durante quase um ano, até o pagamento à Coteminas.
Nesse período, o dinheiro -produzido por supostos empréstimos bancários- teria ficado guardado, sem render juros nem correção monetária.
Ao todo, o publicitário mineiro afirma ter entregue ao partido R$ 4,9 milhões, entre saques em dinheiro e um repasse à corretora Bônus-Banval, do total de R$ 55,8 milhões movimentados no esquema do "valerioduto".
O dinheiro do publicitário irrigou o caixa dois do Diretório Nacional do PT entre maio de 2003 e outubro de 2004. A última parcela, de R$ 200 mil, teria entrado na contabilidade paralela do PT em 1º de outubro de 2004, mais de sete meses antes do pagamento à Coteminas, realizado em 17 de maio de 2005.
No mesmo período em que o PT mantinha uma reserva de dinheiro no caixa dois, Delúbio renegociava o pagamento de 2,7 milhões camisetas encomendadas à Coteminas para a campanha do partido nas eleições municipais de 2004. A primeira e a segunda parcelas da renegociação venceram em março e abril de 2005 e não foram pagas.
"Novas dificuldades financeiras do partido impediram que as parcelas fossem honradas na forma acordada", justifica Delúbio na nota. "Ante a necessidade da Coteminas de receber ao menos parte do crédito e das dificuldades de caixa do PT, foi feito um pagamento de R$ 1 milhão, em maio de 2005", diz o ex-tesoureiro.
Delúbio Soares e Arnaldo Malheiros não quiseram dar entrevista ontem sobre a nota.

Valério
Ouvido pela Folha, o publicitário Marcos Valério não quis se envolver com a versão do ex-tesoureiro petista: "Não posso falar que ele está mentindo ou falando a verdade. O dinheiro era do Delúbio, não sei o que ele fez com ele".
Valério insistiu em que o último repasse feito com dinheiro dos supostos empréstimos tomados no BMG e no Banco Rural ocorreu em outubro de 2004.
Uma planilha entregue pelo publicitário à Procuradoria Geral da República e à CPI dos Correios, Valério registra que parte do dinheiro repassado ao Diretório Nacional do PT se destinou ao pagamento da defesa institucional do partido no caso do assassinato do prefeito Celso Daniel. Uma parte foi repassada à funcionária Solange Pereira Oliveira. O documento é pobre em detalhes sobre o destino do dinheiro no partido.
Informado à noite sobre a nota de Delúbio, o atual secretário de Finanças do PT, Paulo Ferreira, disse que não tem como aferir se a versão é verdadeira ou não porque o ex-tesoureiro não teria deixado registro da contabilidade paralela do partido.
Questionado se a nota de Delúbio apresenta uma explicação definitiva e encerra a investigação no partido sobre a origem dos recursos do caixa dois, Paulo Ferreira afirmou: "É evidente que não; é mais um elemento que arrolaremos nessa investigação".
A versão de Delúbio será analisada pela CPI dos Correios, que investiga a hipótese de o caixa dois do PT ter movimentado mais do que os R$ 55,8 milhões declarados por Valério.
A CPI acredita que os empréstimos citados por Valério seriam de fachada. Ao menos R$ 10 milhões teriam vindo da Visanet, empresa ligada ao Banco do Brasil, segundo o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR).


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