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DIREITOS HUMANOS
Facção da entidade contesta legitimidade da atual diretoria e promete divulgar dossiê contra ONG
Ala interna faz acusação contra Anistia
DA REPORTAGEM LOCAL
Integrantes da seção brasileira
da Anistia Internacional prometem divulgar, nesta semana, um
dossiê contendo denúncias contra o "comportamento irregular"
da diretoria mundial da organização, uma das maiores entidades
de defesa dos direitos humanos
do mundo.
A guerra jurídica entre duas alas
da seção brasileira da entidade está paralisando o trabalho da Anistia no país, que se notabilizou por
campanhas contra a tortura.
A ONG (organização não-governamental), sediada em Londres, foi fundada há 40 anos e tem
hoje presença em 150 países. No
Brasil, está desde 1984.
Em abril do ano passado, a diretoria da seção brasileira da entidade foi destituída por uma assembléia geral.
A diretoria que a substituiu conta com respaldo do comitê internacional da Anistia. No entanto
não é reconhecida pela Justiça
brasileira, com base em liminar
concedida ao grupo destituído.
"A decisão da assembléia foi absurda e autoritária. A assembléia
foi convocada de forma irregular.
A Anistia adota as mesmas práticas que denuncia", diz Márcio
Gontijo, o presidente destituído.
Gontijo e seu grupo movem 11
ações judiciais contra seu substituto, o advogado paraibano Alexandre Guedes.
A decisão da assembléia de destituir a antiga diretoria da Anistia
foi baseada em duas acusações
feitas contra ela.
Uma é a contratação sem licitação da Pater Editora para realizar
traduções de textos da Anistia para o português. A editora pertence
à família de um dos antigos diretores da organização.
O grupo de Guedes também
acusa a Anistia de criar um centro
de pesquisas e ensino de direitos
humanos, o Capec, com a intenção de receber verbas do governo
federal, o que iria contra o estatuto da entidade.
"Mancharam o nome da instituição. Por isso, foram removidos, para restabelecer a transparência na Anistia", diz Guedes.
Gontijo, por outro lado, tem a
simpatia dos fundadores da seção
brasileira da entidade e o apoio de
três ex-presidentes.
Um deles, Ricardo Balestreri,
diz que as acusações de Guedes
são "absurdas".
"O Capec tem algumas pessoas
ligadas à Anistia, mas não foi criado pela entidade nem tem vinculação com ela", diz Balestreri.
O ex-presidente afirma ainda
que, quanto ao processo de escolha da editora, não havia exigência de licitação por a Anistia não
ser órgão governamental.
"O preço acertado no contrato
também foi menor que o de mercado. Não houve prejuízo, mas lucro para a entidade", diz.
O grupo destituído vai divulgar
nesta semana um dossiê com denúncias sobre a "arbitrariedade"
da decisão e pensa até em denunciar a entidade em cortes internacionais.
"No fundo, o que está em jogo é
o grau de autonomia das seções
nacionais. A Anistia quer controlar o escritório brasileiro com
mão de ferro", afirma Gontijo.
Guedes rebate a acusação e afirma não temer dossiês. "Estamos
do lado da transparência e da moralidade", declara.
Enquanto a disputa não se resolve, os trabalhos da organização
estão praticamente paralisados.
O escritório de Porto Alegre está
sob intervenção da seção internacional, enquanto o de São Paulo
está fechado.
Ambas as alas admitem a possibilidade de um acordo, mas se
mostram pouco otimistas com essa possibilidade.
(FÁBIO ZANINI)
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