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CÚPULA DAS AMÉRICAS
Washington quer declaração com cláusula anticorrupção
Punição a países corruptos opõe Brasil e Estados Unidos
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
Os Estados Unidos insistem em
incluir na declaração final da Cúpula das Américas, a realizar-se
na semana que vem, no México,
uma "cláusula anticorrupção"
com o mesmo peso da Cláusula
Democrática, que já está em vigor
para os 34 países-membros da
OEA (Organização dos Estados
Americanos).
Este último mecanismo elimina
do processo interamericano países em que houve grave violação
das regras democráticas. Pela
proposta dos EUA, aconteceria o
mesmo com países considerados
corruptos.
O Brasil, ao lado de uma porção
de outros países, opõe-se terminantemente a partir de um argumento lógico: "Nenhum dos 34
países está livre da corrupção,
mas quem é que vai julgar qual é
ou não corrupto e qual o montante de corrupção a partir do qual o
país seria afastado do sistema?",
pergunta Valter Pecly, embaixador do Brasil junto à OEA.
Corrupção é tema muito sensível nas relações dos Estados Unidos com seus vizinhos latino-americanos, porque a percepção
de Washington é a de que há poucos esforços para combatê-la.
Essa visão foi cruamente exposta há exatos dois anos pelo então
secretário do Tesouro, Paul
O'Neill, que, em palestra no encontro anual 2002 do Fórum Econômico Mundial, excepcionalmente realizado em Nova York,
em vez de Davos, culpou a corrupção pelos altos juros no Brasil.
É quase certo, pela reação da
maioria dos países latino-americanos, que a questão da corrupção seja tratada, na declaração final, como um apelo à transparência, bem mais anódino que uma
"cláusula anticorrupção" com finalidades punitivas.
Aliás, a tônica das negociações
para a Declaração de Novo León
(Estado do México em que fica a
cidade de Monterrey, sede da cúpula) tem sido exatamente essa:
levar tudo para o mínimo denominador comum.
Foi o que aconteceu com a questão do terrorismo. A cúpula de
Monterrey (extraordinária, já que
não está prevista no cronograma
das Cúpulas das Américas) foi
convocada pelos Estados Unidos
justamente para pôr ênfase na
questão da segurança, sua prioridade número um.
Mas Brasil e Argentina, em especial, reagiram, dizendo que o
importante era tratar de pobreza e
desenvolvimento econômico.
Resultado: a declaração final deverá conter apenas um apelo para
que os países que ainda não ratificaram a Convenção Interamericana contra o Terrorismo o façam
urgentemente. Só 6 dos 34 já ratificaram o convênio, e o Brasil não
está entre eles.
O embaixador dos Estados Unidos na OEA, John Maisto, queria
mais: "Já temos uma convenção
contra o terrorismo, mas não
houve uma reunião para discutir
como tornar concretos os conceitos", reclamou em teleconferência realizada anteontem para tratar da cúpula.
Alca
Apesar de os pontos eventualmente polêmicos estarem todos
sendo aguados, para que os presidentes possam emitir a declaração no dia 13, ainda há 36 parágrafos em aberto e apenas 20 definitivamente aprovados.
O mais complicado é o que trata
da Alca (Área de Livre Comércio
das Américas).
A combinação inicial entre Brasil e Estados Unidos era a de que a
Alca só apareceria levemente no
texto da cúpula, já que sua negociação se dá em outro âmbito (as
reuniões ministeriais).
A cúpula apenas daria respaldo
às decisões da Conferência Ministerial de Miami, que decidiu, em
novembro, por uma "Alca light"
obrigatória para todos, deixando
cada parceiro livre para aprofundar compromissos nas áreas que
acharem convenientes.
Mas o trio de países que não
saiu de Miami satisfeito (México,
Canadá e Chile) insistiu em que,
além do respaldo às decisões de
Miami, a cúpula avançasse nas
definições do conteúdo obrigatório da área de livre comércio, ao
que se opõe o Brasil.
Tudo somado, o texto será basicamente um catálogo de boas intenções, a julgar pelo preâmbulo
de três parágrafos obtido pela Folha e já definitivamente aprovado.
O segundo deles diz que os governantes trabalharão para "impulsionar a prosperidade, promover a inclusão social, uma distribuição mais equitativa do crescimento econômico, eliminar a fome, elevar os níveis de vida, gerar
novas oportunidades de emprego
e de investimento, promover o
trabalho decente, assim como enfrentar as novas ameaças à segurança, entre outras o terrorismo,
o crime organizado e o tráfico ilícito de armas".
O texto restante se divide em
três capítulos que o preâmbulo
define como "estreitamente vinculados e interdependentes":
crescimento econômico com
equidade para reduzir a pobreza,
desenvolvimento social e governabilidade democrática.
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