São Paulo, quarta-feira, 08 de fevereiro de 2006

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CPI DOS BINGOS

Roberto Kurzweil afirmou à comissão que partido alugou, por R$ 264 mil, três Omegas de sua empresa para usar na campanha de 2002

PT pagou carro do caso Cuba, diz empresário

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O empresário Roberto Carlos da Silva Kurzweil, 49, afirmou ontem, à CPI dos Bingos, que o carro blindado que supostamente transportou dólares vindos de Cuba foi alugado pela campanha do PT em 2002.
À Folha o empresário disse que o carro -um Omega preto- também pode ser o mesmo posto à disposição naquele ano ao ministro Antonio Palocci (Fazenda), então coordenador de campanha.
Segundo Kurzweil, o motorista Éder Eustáquio Macedo, que dirigiu o Omega que estaria levando dólares, era o "preferido de Palocci". Hoje Macedo é motorista do Ministério da Fazenda no Rio de Janeiro, nomeado em 2003.
"Se o Éder confirmou que estava dirigindo, o carro era o meu. Em 2002, minha empresa Locablin locou para o PT três veículos blindados que foram utilizados na campanha", afirmou.
A despesa, segundo ele, foi da campanha daquele ano, pois sua empresa recebeu formulário do Tribunal Regional Eleitoral para confirmar a prestação do serviço. No TSE (Tribunal Superior Eleitoral), não consta o gasto.
"Inicialmente, eram dois Omegas e um Passat. Depois passaram a ser três Omegas", disse o empresário. Entre esses carros, estaria o que teria transportado de US$ 1,4 milhão a US$ 3 milhões de Cuba. O dinheiro teria sido levado em caixas de bebidas, do aeroporto de Amarais, em Campinas, a São Paulo, em 31 de julho de 2002.
Em outubro, a revista "Veja" publicou reportagem sobre o suposto transporte de dólares de Cuba para caixa dois do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva. A reportagem foi baseada em declarações de Vladimir Poleto, ex-funcionário da Prefeitura de Ribeirão Preto em 2001, quando Palocci era prefeito, e de Rogério Buratti, ex-secretário de Governo em 1993 -primeiro mandato do ministro em Ribeirão (SP). Poleto estava no Omega, mas negou que transportasse dinheiro.
"Apenas loquei um carro", disse o empresário, afirmando que soube da suposta operação Cuba pela imprensa. No depoimento, Kurzweil disse acreditar que os três Omegas ficavam com Lula, com o deputado cassado José Dirceu, então presidente do PT, e com Palocci. Por mês, cada um custou R$ 11 mil ao partido, disse o empresário, totalizando R$ 264 mil.
Ele entregou cópias de três contratos de locação, um assinado por Dirceu. As outras assinaturas não são conhecidas. Advogados de Kurzweil não permitiram acesso da imprensa aos documentos.
O senador Efraim Morais (PFL-PB), presidente da CPI, afirmou que os documentos devem passar por perícia por suspeita de montagem. Mas deu crédito às afirmações do empresário. "O depoimento dele confirma a versão de que o PT estava envolvido no transporte de dólares de Cuba."
No fim do depoimento, Kurzweil afirmou "achar" que o Omega usado no transporte foi o de placa ACX-0404, que ficava naquele ano sempre à disposição de Antonio Palocci.

Contradições
Em depoimento de janeiro, o motorista Éder Eustáquio Macedo, que dirigiu o Omega que estaria com dólares, disse que era taxista em São Paulo e foi chamado pela Locablin para atender Ralf Barquete, ex-secretário de Fazenda de Palocci em Ribeirão, morto em junho de 2004.
Ontem, Kurzweil derrubou a versão. "[Macedo] era o único motorista que atendia os carros do PT. Nesta época [2002], ele ficava direto com os [carros] locados pelo PT", disse o empresário.


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