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REFORMA AGRÁRIA
Direção dos sem-terra diz que armas não serão empregadas
MST vai usar a violência
em conflitos em São Paulo
FÁBIO ZANINI*
da Agência Folha, no ABCD
LUIS HENRIQUE AMARAL
da Reportagem Local
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)
anunciou ontem que reagirá
com violência
caso seus integrantes sejam recebidos a tiros durante invasões de fazendas.
``A gente cansou de ser frouxo'',
disse Gilmar Mauro, da direção
nacional da entidade.
A decisão, em princípio, só se
aplica ao Estado de São Paulo. Ela
foi anunciada ontem, no final do
12º Encontro Estadual do MST.
A proposta foi apresentada pelos
representantes dos acampamentos
e assentamentos do Pontal do Paranapanema (oeste de São Paulo) e
aprovada pela maioria.
``Nós sempre fomos muito pacientes, mas a paciência já se esgotou. Não vamos mais aceitar passivamente a parcialidade da Justiça e
as arbitrariedades da PM, que acha
que tem o direito de entrar nos
acampamentos quando bem entender'', afirmou Mauro.
``Da próxima vez, o povo vai pegar na unha'', disse o dirigente. Segundo Mauro, os sem-terra não
vão se armar. ``Mas não podemos
mais impedir que os companheiros reajam à violência'', disse.
A decisão foi tomada, segundo a
liderança, depois que a direção foi
fortemente pressionada pela base.
``A companheirada não aceita
mais ser humilhada por juiz, delegado ou jagunço'', disse.
O encontro do MST paulista durou três dias e acabou ontem. Ele
foi realizado em um ginásio de esportes cedido pela Prefeitura de
Santo André (região metropolitana de São Paulo).
A mudança na estratégia do MST
paulista foi gerada pelo incidente
acontecido no dia 16 fevereiro,
quando seis sem-terra foram feridos a bala durante invasão a uma
fazenda na região do Pontal.
Além disso, a Justiça determinou
a prisão de cinco líderes dos
sem-terra na região. Apenas um
está preso, Márcio Barreto. Os demais encontram-se foragidos.
Violência
Para Mauro, o uso da violência é
justificável. ``A maior violência
contra um ser humano é a fome'',
disse. A fundamentação do líder
do MST tem um caráter quase
``romântico'': ``É melhor morrer
lutando de pé do que de fome''.
Além de permitir a reação aos
ataques dos fazendeiros, o MST
paulista decidiu ``massificar'' as
invasões. ``Seremos milhares contra meia dúzia de jagunços e fazendeiros'', afirmou Mauro.
Ontem ao final da tarde, os
sem-terra promoveram uma manifestação em São Paulo em defesa
da reforma agrária.
Segundo a Polícia Militar, 3.000
manifestantes fizeram uma passeata da praça da Sé (centro) até a
praça Charles Miller.
Governo e UDR
O presidente da UDR (União Democrática Ruralista), Roosevelt
Roque dos Santos, disse que a disposição do MST vai levar ao agravamento do conflito, já que ``os
fazendeiros vão continuar exercendo o direito constitucional de
se defender''.
``Este é o receio dos fazendeiros:
o crime de turba. Como controlar
1.500 pessoas numa invasão?'', disse, referindo-se ao número de pessoas que tentaram invadir a fazenda São Domingos, em que seis
sem-terra saíram feridos a tiros.
Disse esperar que ``as autoridades tomem medidas contra quem
incita a prática do crime''.
Para o secretário-adjunto de Justiça de São Paulo, Edson Vismona,
o MST vai ter de "responder à Justiça pelas consequências'' de sua
decisão de reagir com violência à
ação dos fazendeiros.
O presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, Yussef Cahali,
não se manifestou sobre o assunto.
Colaboraram Edmilson Zanetti, da Agência Folha, e Francisco Câmpera, free-lance para a Folha
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