São Paulo, sexta-feira, 08 de março de 2002

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TRAJETÓRIA

A hora e a vez do "eterno" coadjuvante do poder

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O PFL começou a nascer em 1984, desencarnando de um governo e de um regime em fim de festa e encarnando num novo governo e num novo regime que se instalariam, e se instalaram, no ano seguinte. Desde então, jamais saiu do poder.
Está no DNA partidário. Herdeiro da antiga Arena, do bipartidarismo e do regime militar (1964-1985), ficou ao lado e a serviço dos militares quando evoluiu para o PDS e estreou na redemocratização como PFL -o Partido da Frente Liberal.
O poder, entretanto, jamais foi direto, em primeiro plano. No regime militar, não eram os políticos da Arena e do PDS que davam as cartas. No governo que seria de Tancredo Neves e acabou sendo de José Sarney, não era o PFL e sim o PMDB quem mandava.
No governo FHC, o PFL ressentia-se da fama de "força auxiliar".
O PFL, porém, sempre foi um aliado leal e decisivo em alguns momentos delicados de todos esses governos. Até romper.
Na transição do regime militar para o primeiro governo civil, poderia ter negociado o apoio para o ex-prefeito Paulo Maluf, candidato oficial do regime, mas preferiu ser fundamental para a vitória de Tancredo, do PMDB e da oposição, no colégio eleitoral.
Quando Tancredo foi internado no Hospital de Base de Brasília e dali seguiu para a morte, a posse do vice José Sarney pareceu por instantes a grande chance de o nascente PFL assumir o comando do país. Mas o deputado Ulysses Guimarães, presidente do PMDB, garantiu com unhas e dentes a hegemonia do PMDB no governo.
Além disso, Sarney, que era presidente do PDS e rompeu com o regime militar na undécima hora, não pôde concorrer a vice de Tancredo pelo PFL. A legislação eleitoral da época obrigava que os candidatos a presidente e a vice fossem do mesmo partido.
O combinado era que, assim que assumissem, a legislação seria modificada e Sarney voltaria às origens e se filiaria ao PFL. Nunca foi feito. Até hoje, mantém-se no PMDB. Mas seus filhos Roseana e José Sarney Filho são do PFL.
A sina de pegar carona no poder alheio continuou com Fernando Collor de Mello (PRN), na interinidade de Itamar Franco (que se elegeu pelo PRN) e nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Tanto com Collor quanto agora, com FHC, o PFL repete a prática de conviver com o governo nos tempos áureos e de abandoná-lo na reta final. Para pular em um novo projeto.
O partido saiu do governo Collor com a CPI da Corrupção que o derrubou e depois se equilibrou sete anos no governo FHC, saindo a dez meses do final. Mas o presidente FHC e os tucanos não têm do que reclamar.
Durante todos esses anos, o PFL foi disciplinado e fiel, sobretudo no início do primeiro mandato e nas votações de reformas constitucionais de cunho essencialmente liberal. Muitos tucanos torciam o nariz, mas o PFL votou em peso, por exemplo, pela quebra dos monopólios de energia, telecomunicações e petróleo.
Naquele momento, o PFL era um peixe inteiramente dentro d"água no governo FHC. Os problemas começaram quando o partido se dividiu em dois: o agora ex-senador Antonio Carlos Magalhães (BA) contra FHC e o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), a favor.
Bornhausen havia vencido o primeiro "round". A atual aliança entre ACM e o "peemedebista" Sarney desequilibrou o partido que, pela primeira vez na sua curta história, tem uma chance real de chegar ao poder sem intermediários.
Essa chance se chama Roseana Sarney, pré-candidata à sucessão de FHC com mais de 20% em todas as pesquisas. Como em 1984-85, os pefelistas abandonam um governo no fim para apostar num outro, novinho em folha.


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