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TRAJETÓRIA
A hora e a vez do "eterno" coadjuvante do poder
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O PFL começou a nascer em
1984, desencarnando de um governo e de um regime em fim de
festa e encarnando num novo governo e num novo regime que se
instalariam, e se instalaram, no
ano seguinte. Desde então, jamais
saiu do poder.
Está no DNA partidário. Herdeiro da antiga Arena, do bipartidarismo e do regime militar
(1964-1985), ficou ao lado e a serviço dos militares quando evoluiu
para o PDS e estreou na redemocratização como PFL -o Partido
da Frente Liberal.
O poder, entretanto, jamais foi
direto, em primeiro plano. No regime militar, não eram os políticos da Arena e do PDS que davam
as cartas. No governo que seria de
Tancredo Neves e acabou sendo
de José Sarney, não era o PFL e
sim o PMDB quem mandava.
No governo FHC, o PFL ressentia-se da fama de "força auxiliar".
O PFL, porém, sempre foi um
aliado leal e decisivo em alguns
momentos delicados de todos esses governos. Até romper.
Na transição do regime militar
para o primeiro governo civil, poderia ter negociado o apoio para o
ex-prefeito Paulo Maluf, candidato oficial do regime, mas preferiu
ser fundamental para a vitória de
Tancredo, do PMDB e da oposição, no colégio eleitoral.
Quando Tancredo foi internado
no Hospital de Base de Brasília e
dali seguiu para a morte, a posse
do vice José Sarney pareceu por
instantes a grande chance de o
nascente PFL assumir o comando
do país. Mas o deputado Ulysses
Guimarães, presidente do PMDB,
garantiu com unhas e dentes a hegemonia do PMDB no governo.
Além disso, Sarney, que era presidente do PDS e rompeu com o
regime militar na undécima hora,
não pôde concorrer a vice de Tancredo pelo PFL. A legislação eleitoral da época obrigava que os
candidatos a presidente e a vice
fossem do mesmo partido.
O combinado era que, assim
que assumissem, a legislação seria
modificada e Sarney voltaria às
origens e se filiaria ao PFL. Nunca
foi feito. Até hoje, mantém-se no
PMDB. Mas seus filhos Roseana e
José Sarney Filho são do PFL.
A sina de pegar carona no poder
alheio continuou com Fernando
Collor de Mello (PRN), na interinidade de Itamar Franco (que se
elegeu pelo PRN) e nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Tanto com Collor quanto agora,
com FHC, o PFL repete a prática
de conviver com o governo nos
tempos áureos e de abandoná-lo
na reta final. Para pular em um
novo projeto.
O partido saiu do governo Collor com a CPI da Corrupção que o
derrubou e depois se equilibrou
sete anos no governo FHC, saindo
a dez meses do final. Mas o presidente FHC e os tucanos não têm
do que reclamar.
Durante todos esses anos, o PFL
foi disciplinado e fiel, sobretudo
no início do primeiro mandato e
nas votações de reformas constitucionais de cunho essencialmente liberal. Muitos tucanos torciam
o nariz, mas o PFL votou em peso,
por exemplo, pela quebra dos
monopólios de energia, telecomunicações e petróleo.
Naquele momento, o PFL era
um peixe inteiramente dentro
d"água no governo FHC. Os problemas começaram quando o
partido se dividiu em dois: o agora ex-senador Antonio Carlos
Magalhães (BA) contra FHC e o
presidente do PFL, senador Jorge
Bornhausen (SC), a favor.
Bornhausen havia vencido o
primeiro "round". A atual aliança
entre ACM e o "peemedebista"
Sarney desequilibrou o partido
que, pela primeira vez na sua curta história, tem uma chance real
de chegar ao poder sem intermediários.
Essa chance se chama Roseana
Sarney, pré-candidata à sucessão
de FHC com mais de 20% em todas as pesquisas. Como em 1984-85, os pefelistas abandonam um
governo no fim para apostar num
outro, novinho em folha.
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