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Divergências e protestos marcam chegada de Bush
Presidente norte-americano inicia hoje, no Brasil, périplo pela América Latina
Itamaraty contesta relatório dos EUA; fábrica americana é invadida por sem-terra em SP; políticos protestam; EUA se negam a discutir tarifa
Joel Silva/Folha Imagem
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MST invade usina da Cargill em Patrocínio Paulista (SP) |
DA REDAÇÃO
As 24 horas que antecederam
a chegada do presidente dos
Estados Unidos, George W.
Bush, ao Brasil foram marcadas
por protestos de movimentos
sociais, ONGs e partidos políticos por todo o país, inclusive no
Congresso. Divergências diplomáticas e políticas entre os dois
países também foram expostas.
O Ministério das Relações
Exteriores protestou, com termos duros, contra o relatório
divulgado nesta semana pelo
Departamento de Estado americano a respeito da situação
dos direitos humanos no país e
no mundo. O documento menciona a tentativa de compra de
um dossiê por integrantes do
PT contra políticos tucanos e
diz que os envolvidos tinham
relações estreitas com Lula.
Em nota, o Itamaraty disse
ontem que não reconhece a legitimidade do documento e que
o governo não "aceita relatórios elaborados unilateralmente por países, segundo critérios
domésticos, muitas vezes de
inspiração política".
Também o governador José
Serra protestou contra o relatório, que apontou supostos
abusos da Polícia Militar de São
Paulo. Disse que gostaria de ver
no relatório informações sobre
Guantánamo, base norte-americana em Cuba acusada por organizações de Direitos Humanos de maltratar prisioneiros.
No âmbito comercial, seguem os desacordos entre os
EUA e o Brasil. O governo americano reafirmou que não atenderá a um desejo explícito do
presidente Lula: a de revisão da
tarifa do álcool, o que facilitaria
o acesso do produto brasileiro
ao cobiçado mercado americano. A ministra-chefe da Casa
Civil, Dilma Rousseff, disse ontem que a queda das taxas "é
uma política que o Brasil tem
não só o direito de defender,
mas o dever".
Bush, que no front internacional liderou duas ocupações
militares (Iraque e Afeganistão) e na região tenta conter o
avanço do venezuelano Hugo
Chávez, desembarca no final da
tarde de hoje em Guarulhos.
Manifestações
As manifestações de ontem
partiram sobretudo de entidades ligadas aos sem-terra e a
partidos políticos de esquerda,
que criticam a postura política
para a América Latina e as
ações militares dos EUA.
Um grupo de mulheres ligadas ao MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem
Terra) invadiu ontem a usina
Cevasa, comandada pela empresa norte-americana Cargill,
em Patrocínio Paulista (SP). As
manifestantes portavam faixas
com palavras de ordem como
"Fora Bush!". A ocupação fez
parte da jornada nacional de lutas das mulheres da Via Campesina.
Representantes do MST, da
CPT (Comissão Pastoral da
Terra), da CUT (Central Única
dos Trabalhadores) e da Via
Campesina condenaram, em
São Paulo, o termo de acordo
para o aumento da exportação
de álcool do Brasil aos EUA.
O conselheiro da CPT, dom
Tomás Balduíno, disse que o
acordo lança "uma perspectiva
sinistra". João Pedro Stedile, da
direção nacional do MST, disse
que Bush se vale de "governos
servis" da América Latina.
No Rio de Janeiro, cerca de
cem integrantes do MST, a
maioria mulheres, invadiram a
sede do BNDES. "Terra para
produzir comida e não álcool
para os EUA", dizia um dos cartazes que carregavam.
Em Brasília, cerca de 50 militantes do PSOL fizeram um
protesto no gramado em frente
ao Congresso. A ex-senadora
Heloísa Helena (PSOL-AL)
reapareceu para queimar um
boneco de Bush. À tarde, deputados do PSOL estenderam
uma faixa com os dizeres "Bush
não é bem-vindo" no plenário
da Câmara, o que gerou uma
reação do presidente da Casa,
Arlindo Chinaglia (PT-SP).
O PC do B colocou faixas de
protesto contra Bush em vários
pontos da cidade de São Paulo
ontem. A Prefeitura de São
Paulo recolheu ontem cerca de
20 delas sob a justificativa de
que de que é proibida a instalação de faixas na cidade.
Com correspondente em Washington, a Reportagem Local, a Sucursal de Brasília, a Folha Ribeirão e a Sucursal do Rio
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