São Paulo, quinta-feira, 08 de março de 2007

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Toda Mídia

Nelson de Sá

As elites e as famílias

Hugo Chávez, diz o editorial do "New York Times", "vai estar na mente de Mr. Bush" ao longo da visita. Mas tudo bem, "se é preciso a demagogia de Chávez para incitar Washington a políticas mais iluminadas, que seja". O jornal só cobra que Bush "se comprometa a assegurar que os benefícios de mais investimento e comércio alcancem os milhões de pobres da América Latina, e não apenas as estreitas elites de sempre".

 

A reportagem do "Wall Street Journal" vai por aí, sob o enunciado "os novos investidores enfrentam as velhas famílias do açúcar". George Soros, Cargill e a japonesa Mitsui "não estão esperando por um acordo e já põem dinheiro em usinas e plantações". A ação "está mudando um setor dominado por operações familiares" que muitas vezes "não têm suas finanças auditadas e trazem impostos e obrigações não-pagas por anos". Por isso alguns investidores já voltam do país "de mãos vazias" e "outros buscam erguer novas plantações do nada, fora das áreas tradicionais em torno de São Paulo". Cita Minas e Mato Grosso do Sul.

CONTRA A TARIFA
O editorial do "Washington Post", de sua parte, lamenta que "a turnê de Bush tenha a sombra de Chávez". E avisa que a Casa Branca "ainda não está fazendo o bastante para dar o que os mais importantes países da região, Brasil, México e Colômbia, querem":
- O Brasil, por exemplo, gostaria de obter a redução nas tarifas comerciais... Mas Mr. Bush não vai apoiar a remoção das tarifas sem sentido [senseless] impostas ao etanol importado do país.

"SUPERPOTÊNCIA"
Chávez, Chávez, Chávez. A "Time" foi das poucas a não embarcar na obsessão com o venezuelano. Pelo contrário, louvou o Brasil em excesso. Sob o enunciado "Brasil, a superpotência do etanol", o correspondente escreveu:
- Não é sempre que o Brasil pode reivindicar ser um líder em tecnologia, mas aqui, cercado por cana-de-açúcar, qualquer um aceita o país se gabar que os combustíveis limpos e renováveis do futuro estão ao alcance de sua mão.

OUTROS EIXOS OU...
O ex-chanceler do México Jorge Castañeda, professor da New York University, surgiu ontem no "WP" e anteontem no "El País" dizendo que "a batalha pela América Latina começou" e opõe Chávez ao conservador Felipe González, o presidente do México.
Ele abandona sua imagem anterior de duas esquerdas na região e diz que, por exemplo, "a brasileira nunca permitiria a Lula enfrentar Chávez" -e só o México pode encarar o eixo "Chávez-Havana-La Paz-Buenos Aires-Manágua".

ESTADOS AUTÔNOMOS
No francês "Le Monde", George Couffignal, professor na universidade Paris-III-Sorbonne, duvida dos "eixos". Cita as atitudes do Brasil, que "jamais incorporou o discurso antiamericano de Chávez", e do próprio México, que "votou na ONU contra os EUA no Iraque". E conclui:
- Hoje em dia nós temos [na região] Estados bem mais autônomos na elaboração de suas políticas externas e alianças. E bem pragmáticos.

blogs.tampabay.com/energy/ Reprodução
NO CHURRASCO
No blog The Fueling Station, da Flórida, um dos primeiros a seguir o então governador Jeb Bush em seu lobby do etanol, o jornalista David Adams relata:
- Bush e Lula forjaram uma relação pessoal em torno de sua paixão por biocombustíveis [a ponto de eles] se falarem por telefone freqüentemente fora do horário de trabalho. O laço biocombustível foi forjado num churrasco na residência de Lula, em novembro de 2005.
Destaca que Allan Hubbard, principal assessor econômico de Bush, conta que "ele voltou [da Granja do Torto] todo animado, vou dizer... ele ficou muito impressionado com o sucesso deles na substituição de petróleo por cana". Jeb, o irmão, diz que "eles [dois] são muito parecidos, diretos, não-diplomáticos, o presidente respeita mesmo o presidente Lula. George é gente simples [people person]".

QUASE TODO MUNDO
A escalada do "Jornal Nacional" deu que Lula "critica a Igreja" Católica ao falar em hipocrisia no combate à Aids. Na reprodução, "hipocrisia porque deixamos de combater por puro preconceito, "ah, minha mãe não gosta, a igreja não gosta'". O "JN" não deu o trecho mais cômico, "sexo é coisa que quase todo mundo gosta, é uma necessidade orgânica", que o blog de humor de Tutty Vasques verteu:
- Isso quer dizer o seguinte: fodam-se!

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@ - Nelson de Sá


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