São Paulo, domingo, 08 de março de 2009

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ELIO GASPARI

O encosto da "Esmeralda da Bahia"


A pedra saiu do Brasil, já chamou uma desgraça e apareceu na Califórnia, no meio de uma briga

A POLÍCIA de Los Angeles assumiu a guarda de uma pedra de 400 quilos com uma rara formação de hastes de esmeraldas. É uma das maiores peças já vistas e foi achada em 2001 no interior da Bahia. Há gemas como o magnífico diamante Hope, que ganham fama de agourentas depois de famosas. A "Esmeralda da Bahia" pegou urucubaca ainda em estado bruto. Na disputa judicial pela sua posse já há seis interessados. Um dos litigantes diz que a comprou de dois brasileiros por US$ 60 mil. Outro anexou uma avaliação de US$ 372 milhões, feita no Brasil, mas falta avaliar o avaliador. É possível que as centenas de milhões de dólares sejam conversa de garimpeiro. A pedra já apareceu no eBay com uma história cheia de lorotas, ao preço de US$ 19 milhões. A "Esmeralda da Bahia" vale pelo menos uma diretoria do fundo de pensão de Furnas. É peça para museu.
Ao sair de Pindorama, a pedra levou consigo um encosto tributário. Como ela foi retirada do Brasil? Numa transação de US$ 60 mil ou de US$ 372 milhões? Cadê os documentos da exportação?
O juiz encarregado de decidir com quem fica a rocha começou a ouvir as partes na semana passada, e a próxima reunião da corte está marcada para abril. Se a "Esmeralda da Bahia" saiu do Brasil nos conformes da lei e com um valor declarado razoável, tudo bem. Se embarcou como se fosse uma pedra qualquer, deve voltar.
O passado colonial de Pindorama está nas vitrines dos melhores museus do mundo. São brasileiros quase todos os grandes topázios e é de Minas Gerais o "American Golden Topaz", a terceira maior pedra lapidada do mundo, do tamanho de um laptop. É provável que seja brasileiro o "Portuguese Diamond", o maior diamante da coleção da Smithsonian Institution, três vezes maior que o Hope, sem a sua qualidade. (Na primeira metade do século passado, ele pertenceu a uma dançarina do Ziegfeld Follies que gostava de joias e homens. Casou-se com cinco milionários e, na sua conta, namorou 50.)
Até a polícia botar a mão na "Esmeralda da Bahia", aconteceu de tudo. Um comprador diz que pagou, mas não recebeu a mercadoria. Outro sustenta que ela serviu de colateral numa transação e não foi devolvida. Um terceiro chamou a polícia porque soube que seria roubada. Até aí, a urucubaca é dos homens. Em 2005, a "Esmeralda da Bahia" estava em Nova Orleans quando chegou o furacão Katrina, inundando o armazém onde a guardavam.
Com pedras pesadas não se brinca. O Hope, um diamante azul do tamanho de uma noz, está no Museu de História Natural de Washington e vale US$ 200 milhões. Tem fama de mau, vingando a rapinagem do olho do ídolo de uma deusa hindu (mentira). Em um ano, o mensageiro que entregou a pedra ao museu teve dois acidentes de carro, ficou viúvo e sua casa pegou fogo (verdade). A rainha Maria Antonieta teria usado a pedra (mentira), assim como seu marido Luís 16 (verdade). Ambos foram guilhotinados. Num 11 de setembro, as joias da Coroa de França foram saqueadas, e ela foi junto. Mais adiante, um dono casou a filha com um jogador bêbado, irmão de uma drogada e de um travesti. O sultão da Turquia comprou a joia em 1908 e no ano seguinte foi deposto (verdade). Um príncipe russo presenteou sua namorada do Folies Bergère com o diamante, depois matou-a e acabou assassinado por revolucionários (mentira).
Quem ajudou a construir a praga do Hope foi o joalheiro francês Pierre Cartier, quando o vendeu a um casal de milionários americanos cachaceiros e excêntricos. Ela, Evalyn McLean, achava que superstições eram uma coisa divertida. Seu filho morreu atropelado aos 9 anos, e a filha matou-se aos 25. Quanto ao marido, morreu num hospício em 1941.
Desde que o Hope entrou para um lugar de honra no Museu de História Natural de Washington, não se tem falado do seu encosto. (Salvo umas poucas cartas de visitantes reclamando do que lhes aconteceu depois de visitar a sala onde ele resplandece.)
Se a "Esmeralda da Bahia" ficou carregada, basta devolvê-la à terra do Senhor do Bonfim para que os santos do lugar cuidem do caso.

GROSSO CALIBRE
A Vale e as grandes mineradoras têm justos motivos para temer os efeitos da crise do papelório sobre seus negócios. Apesar disso, devem temer muito mais a possibilidade de abertura de um debate na Câmara dos Deputados pela reforma do Código de Minas, às vésperas de um ano eleitoral. Estima-se que a bancada atraída por esse assunto esteja entre 38 e 45 deputados. Está mais para calibre de armas do que para grupo parlamentar.

ENTRE AMIGOS
A Petrobras anunciou investimento de R$ 900 milhões em usinas para produção de álcool. Até 2013 serão cerca de R$ 5 bilhões. Pode parecer política pró-cíclica, keynesianice ou estímulo à produção, mas é apenas o velho e bom costume de botar dinheiro da Viúva em negócios de usineiros com muitos amigos e poucas fontes de crédito (o socorro do governo aos usineiros poderá chegar a R$ 11 bilhões).

VINGANÇA DE TUPÃ
Em 1997, quando o banco inglês HSBC se instalou no Brasil, circulou na sua rede uma cartilha que informava que "a aproximação do terceiro milênio está sendo marcada pela globalização, [que] exige padrões de posturas profissionais cada vez mais adequadas e competitivas". Dito isto, recomendava aos seus funcionários: "Procure manter os cuidados essenciais com os dentes, pele e unhas". O milênio trouxe a crise do papelório. O pessoal de Londres, com seus dentes limpos e unhas feitas, está no mercado batalhando por US$ 18 bilhões para ajudar a tapar um buraco de US$ 53 bilhões de créditos podres. Tupã vingou-se. A filial de Pindorama do banco fechou 2008 com um lucro de R$ 1,35 bilhão.

MADAME NATASHA
Madame Natasha aborreceu-se com o prefeito do Rio, Eduardo Paes. Feminista enrustida, ouviu-o chamar de "essa mocinha" a Solange Vieira, presidente da Agência Nacional de Aviação Civil. Como ele, dona Solange tem 40 anos. Comparando-se as duas biografias, ela tem mais currículo, com pós-graduação em economia na FGV. Ao contrário do prefeito, nunca foi filiada ao PMDB nem ao PTB, se é que isso quer dizer alguma coisa. Paes é casado com uma engenheira e não seria justo que a chamassem de "mocinha" quando trabalhava em Furnas.

EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota e toma ao pé da letra tudo o que lhe contam. Quando quis saber o que o dr. Agaciel Maia tinha a dizer a respeito da sua saída da Secretaria Geral do Senado, ouviu o seguinte: "Eu não vou ser empecilho à desagregação política e partidária desta Casa".
Como é um idiota, Eremildo se convenceu de que Agaciel disse que, dependendo dele, o Senado deveria se desagregar. Preocupado, o cretino entrou numa sala onde o senador José Sarney comentava a demissão de Agaciel. Homem de letras, ele disse o seguinte: "Lamento que esse episódio tenha chegado a esse resultado, uma vez que o dr. Agaciel é um funcionário do Senado, dos mais antigos, dos melhores e dos mais eficientes que prestou relevantes serviço a esta Casa. (...) O meu desejo é aquele que eu já transmiti, que cada vez mais a gente possa erguer a imagem do Senado". Eremildo escreverá ao senador, pois, sendo um idiota, não entendeu como a demissão de um funcionário tão qualificado pode ajudar a "erguer a imagem do Senado".


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