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CAMPO
950 PMs acompanharam retirada
Sem-terra saem de
fazenda no RS
CARLOS ALBERTO DE SOUZA
da Agência Folha
Os cerca de 2.000 sem-terra que
estavam acampados na fazenda
Capão do Leão, em Santo Antônio
das Missões (533 km a noroeste de
Porto Alegre), decidiram deixar a
área ontem pela manhã, depois de
receber a notificação de reintegração de posse.
Depois de longa negociação com
o comando regional da Brigada
Militar (a PM gaúcha), os trabalhadores, ligados ao MST (Movimentos dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra), saíram da área de
2.700 hectares, por volta das
11h30. Eles marcharam em fila indiana pela BR-285, que teve o
trânsito interrompido.
A pé, os sem-terra dirigiram-se à
fazenda Cinamomo -área de assentamento do Incra), a 15 quilômetros da fazenda, onde ficarão
acampados provisoriamente. A líder sem-terra Irma Ostroski, 25,
disse que a retirada da fazenda foi
uma "rendição".
Segundo ela, não havia outra alternativa, pois a Brigada montou
um "aparato de guerra" no local,
com 950 homens. "Não daríamos
motivo para o governo massacrar
as famílias. Mas isso não vai ficar
de graça", disse.
A juíza Carla Cristina Santos,
que concedeu a liminar de reintegração de posse ao proprietário da
fazenda, Jaulin Ourique, assistiu à
desocupação da área a uma distância de dois quilômetros do local, junto com o secretário da Justiça e da Segurança do Estado, José
Fernando Eichenberg. Um grupo
de deputados estaduais e federais,
solidários aos sem-terra, acompanhou a negociação com a polícia.
Na fazenda Guabiju, em Jóia
(434 km a noroeste de Porto Alegre), o clima permaneceu tenso
ontem de manhã. As cerca de 1.700
famílias que invadiram a fazenda
na última segunda-feira mantêm a
disposição de atear fogo ao maquinário e aos galpões da fazenda
caso a polícia invada o local.
Segundo os sem-terra, fazendeiros da região os intimidaram na
madrugada de ontem, disparando
tiros para o alto. Os sem-terra cavaram trincheiras e disseram estar
dispostos a resistir.
"As pessoas não têm para onde ir
e perguntam: o que é pior, morrer
de fome ou enfrentar a polícia?",
disse a líder do MST Nina Tonin.
A líder sem-terra disse não saber
o paradeiro do seu colega Ailton
Deli Martins Croda, cuja prisão
preventiva foi solicitada pela Justiça na última quinta-feira. Ela disse
que ele não apareceu no acampamento nos últimos dias. Croda é
acusado de sete crimes que teriam
sido cometidos em uma invasão
da mesma fazenda, em fevereiro
de 1997.
Na fazenda Rubira, invadida no
início da semana passada por 800
famílias em Piratini (340 km ao sul
de Porto Alegre), a situação continuava tranquila ontem.
Assassinato
Um dos principais líderes de trabalhadores rurais sem terra do
Norte de Mato Grosso, Teodomiro Ferreira dos Santos, 62, foi assassinado com três tiros, na última
quarta, em Terra Nova do Norte
(530 km ao norte de Cuiabá -MT).
Santos foi um dos fundadores do
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Terra Nova do Norte.
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