São Paulo, domingo, 8 de março de 1998

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CAMPO
950 PMs acompanharam retirada
Sem-terra saem de fazenda no RS

CARLOS ALBERTO DE SOUZA
da Agência Folha

Os cerca de 2.000 sem-terra que estavam acampados na fazenda Capão do Leão, em Santo Antônio das Missões (533 km a noroeste de Porto Alegre), decidiram deixar a área ontem pela manhã, depois de receber a notificação de reintegração de posse.
Depois de longa negociação com o comando regional da Brigada Militar (a PM gaúcha), os trabalhadores, ligados ao MST (Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), saíram da área de 2.700 hectares, por volta das 11h30. Eles marcharam em fila indiana pela BR-285, que teve o trânsito interrompido.
A pé, os sem-terra dirigiram-se à fazenda Cinamomo -área de assentamento do Incra), a 15 quilômetros da fazenda, onde ficarão acampados provisoriamente. A líder sem-terra Irma Ostroski, 25, disse que a retirada da fazenda foi uma "rendição".
Segundo ela, não havia outra alternativa, pois a Brigada montou um "aparato de guerra" no local, com 950 homens. "Não daríamos motivo para o governo massacrar as famílias. Mas isso não vai ficar de graça", disse.
A juíza Carla Cristina Santos, que concedeu a liminar de reintegração de posse ao proprietário da fazenda, Jaulin Ourique, assistiu à desocupação da área a uma distância de dois quilômetros do local, junto com o secretário da Justiça e da Segurança do Estado, José Fernando Eichenberg. Um grupo de deputados estaduais e federais, solidários aos sem-terra, acompanhou a negociação com a polícia.
Na fazenda Guabiju, em Jóia (434 km a noroeste de Porto Alegre), o clima permaneceu tenso ontem de manhã. As cerca de 1.700 famílias que invadiram a fazenda na última segunda-feira mantêm a disposição de atear fogo ao maquinário e aos galpões da fazenda caso a polícia invada o local.
Segundo os sem-terra, fazendeiros da região os intimidaram na madrugada de ontem, disparando tiros para o alto. Os sem-terra cavaram trincheiras e disseram estar dispostos a resistir.
"As pessoas não têm para onde ir e perguntam: o que é pior, morrer de fome ou enfrentar a polícia?", disse a líder do MST Nina Tonin.
A líder sem-terra disse não saber o paradeiro do seu colega Ailton Deli Martins Croda, cuja prisão preventiva foi solicitada pela Justiça na última quinta-feira. Ela disse que ele não apareceu no acampamento nos últimos dias. Croda é acusado de sete crimes que teriam sido cometidos em uma invasão da mesma fazenda, em fevereiro de 1997.
Na fazenda Rubira, invadida no início da semana passada por 800 famílias em Piratini (340 km ao sul de Porto Alegre), a situação continuava tranquila ontem.
Assassinato
Um dos principais líderes de trabalhadores rurais sem terra do Norte de Mato Grosso, Teodomiro Ferreira dos Santos, 62, foi assassinado com três tiros, na última quarta, em Terra Nova do Norte (530 km ao norte de Cuiabá -MT).
Santos foi um dos fundadores do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Terra Nova do Norte.



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