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QUESTÃO INDÍGENA
Vivendo na Amazônia em local quase inacessível, são dominados por índios vizinhos, os canamaris
Funai tem encontro
inédito com grupo
indígena do AM
THOMAS TRAUMANN
ENVIADO ESPECIAL AO RIO JUTAÍ
Eles se chamam tsohon-djapa.
São cerca de trinta e vivem em
uma aldeia de palafitas na cabeceira do rio Jutaí, um dos lugares
mais inacessíveis do sudoeste do
Amazonas. Ontem, pouco antes
das 11h (13h de Brasília), os tsohon-djapa se encontraram pela
primeira vez com um grupo branco. Eles são dominados por outros índios, os vizinhos canamaris, de quem recebem roupas velhas e poucos mantimentos em
troca de trabalho e caça.
A equipe de 11 pessoas, lideradas pelo sertanista Sydney Possuelo, da Funai, visitou a aldeia
por cerca de uma hora.
Foi a primeira vez que os funcionários da Funai encontraram
os tsohon-djapa (chamados de
tucanos pelos canamaris). Os djapa sabiam da existência dos brancos, de quem os canamaris obtém
os instrumentos para dominá-los.
Eles conhecem um único branco,
o ribeirinho Pedro dos Santos, para quem alguns tsohon-djapa trabalharam uma vez, em uma roça
de mandioca. Mas, fora a roupa
maltrapilha, a vida dos tsohon-djapa é completamente isolada do
mundo tecnológico.
Oficialmente, o que houve ontem não foi um contato. "Embora
eles nunca tenham tido contato
com brancos, não podem ser considerados isolados, pois através
dos canamaris recebem informações e instrumentos do mundo
exterior. Sem conhecer a nossa
cultura, eles sofreram o pior tipo
de contato, a exploração do homem pelo homem", explica
Sydney Possuelo.
Diretor do Departamento de Índios Isolados da Funai, Possuelo é
radicalmente contra o contato
com grupos que não conhecem a
cultura branca. "Só visitamos a aldeia porque estão dominados pelos canamaris e vamos ver o que
podemos fazer." A expedição liderada por Possuelo já navegou
1.568 km de rios do Estado do
Amazonas para identificar grupos de índios isolados e descobrir
se suas terras estão ameaçadas
por invasão de madeireiros, garimpeiros ou traficantes. No total,
serão mais de 50 dias de viagem,
navegando 4.000 km em rios e outros 100 km à pé pela floresta.
Ontem a Funai recebeu a informação de que existem dois grupos completamente solitários na
região, um de tsohon-djapa que
moram próximo ao rio Curuena e
outro de índios que vivem às margens do rio Jandiatuba.
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