São Paulo, domingo, 08 de abril de 2001

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QUESTÃO INDÍGENA

Vivendo na Amazônia em local quase inacessível, são dominados por índios vizinhos, os canamaris

Funai tem encontro inédito com grupo indígena do AM

THOMAS TRAUMANN
ENVIADO ESPECIAL AO RIO JUTAÍ

Eles se chamam tsohon-djapa. São cerca de trinta e vivem em uma aldeia de palafitas na cabeceira do rio Jutaí, um dos lugares mais inacessíveis do sudoeste do Amazonas. Ontem, pouco antes das 11h (13h de Brasília), os tsohon-djapa se encontraram pela primeira vez com um grupo branco. Eles são dominados por outros índios, os vizinhos canamaris, de quem recebem roupas velhas e poucos mantimentos em troca de trabalho e caça.
A equipe de 11 pessoas, lideradas pelo sertanista Sydney Possuelo, da Funai, visitou a aldeia por cerca de uma hora.
Foi a primeira vez que os funcionários da Funai encontraram os tsohon-djapa (chamados de tucanos pelos canamaris). Os djapa sabiam da existência dos brancos, de quem os canamaris obtém os instrumentos para dominá-los. Eles conhecem um único branco, o ribeirinho Pedro dos Santos, para quem alguns tsohon-djapa trabalharam uma vez, em uma roça de mandioca. Mas, fora a roupa maltrapilha, a vida dos tsohon-djapa é completamente isolada do mundo tecnológico.
Oficialmente, o que houve ontem não foi um contato. "Embora eles nunca tenham tido contato com brancos, não podem ser considerados isolados, pois através dos canamaris recebem informações e instrumentos do mundo exterior. Sem conhecer a nossa cultura, eles sofreram o pior tipo de contato, a exploração do homem pelo homem", explica Sydney Possuelo.
Diretor do Departamento de Índios Isolados da Funai, Possuelo é radicalmente contra o contato com grupos que não conhecem a cultura branca. "Só visitamos a aldeia porque estão dominados pelos canamaris e vamos ver o que podemos fazer." A expedição liderada por Possuelo já navegou 1.568 km de rios do Estado do Amazonas para identificar grupos de índios isolados e descobrir se suas terras estão ameaçadas por invasão de madeireiros, garimpeiros ou traficantes. No total, serão mais de 50 dias de viagem, navegando 4.000 km em rios e outros 100 km à pé pela floresta.
Ontem a Funai recebeu a informação de que existem dois grupos completamente solitários na região, um de tsohon-djapa que moram próximo ao rio Curuena e outro de índios que vivem às margens do rio Jandiatuba.



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