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SÃO PAULO
Área foi alvo de 18 das 34 medidas do novo chefe do Executivo; ênfase deve se manter nos próximos 20 meses
Segurança domina 1º mês da era Alckmin
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL
A segurança pública dominou a
maior parte da agenda do governador Geraldo Alckmin (PSDB)
durante o primeiro mês em que
ele esteve à frente do comando definitivo do Estado de São Paulo.
Alckmin assumiu o posto em 6
de março, com a morte do titular,
Mário Covas, vítima de câncer.
Desde então, das 34 medidas tomadas pelo novo governador
-anúncios e entregas de equipamentos, programas ou obras-,
18 foram na área da segurança.
Elas vão de punições disciplinares a presos rebelados, passam
por nomeação de policiais, entregas de Land Rovers e desativação
de carceragens, chegando ao tão
ambicioso quanto antigo projeto
de desativação da Casa de Detenção -o primeiro vôo próprio do
novo governador tucano.
Esse primeiro mês -34 dias
completados hoje- dá tom de
como serão os próximos 20 meses
do governo. O motivo é simples: a
segurança pública é considerada
o calcanhar-de-aquiles dos seis
anos que Mário Covas administrou o Estado e já aparece como o
tema central da sucessão estadual
-dominando as críticas e as inserções partidárias dos potenciais
adversários dos tucanos em 2002.
Todos os índices de criminalidade aumentaram entre 1995 e
1999, apresentando uma pequena
queda em 2000, em percentual
ainda inexpressivo para um governo que prometeu reduzir pela
metade a criminalidade. Os homicídios na capital, por exemplo,
passaram de 4.814 (98) para 5.418
(99). Em 2000, caíram a 5.327.
"Esse é o maior desafio do governo. Muito já foi feito, mas temos que avançar ainda mais",
sintetizou o governador à Folha,
durante uma entrevista na quinta.
Quem ouve Alckmin acredita
que a auto-avaliação é positiva.
Ele não garante que a promessa
da campanha de 1998 será cumprida, mas fala orgulhoso que o
governo "pôs o dedo na ferida" ao
transferir líderes do crime organizado e não ceder "um milímetro"
após o motim geral do sistema.
"É a escola política Mário Covas: enfrente o problema. Se errar,
você corrige lá na frente", diz ele.
Primeiras idéias
Prioridade da gestão, a segurança surge também como a área em
que Geraldo Alckmin poderá deixar uma das duas marcas que seus
assessores vislumbram para o seu
governo: a desativação da Detenção e, um sonho mais distante, a
despoluição do rio Pinheiros.
Nas palavras do próprio Alckmin, a Detenção é o "estigma de
São Paulo" e o "símbolo da falência do sistema carcerário". Natural que se conclua, portanto, que
quem conseguir riscá-la do mapa
terá na medida seu grande trunfo
político-administrativo-eleitoral.
Alckmin, porém, prefere evitar
essa conclusão. Apesar de admitir
que a desativação foi a primeira
medida que tomou fora do script
herdado do padrinho político, ele
afirma que o governo tucano será
lembrado pelo ajuste das contas
públicas -reafirmando, diariamente, que ele é obra de Covas.
Os tucanos acreditam, porém,
que até esse primeiro vôo foi assistido: Alckmin teria conversado
com Covas, já internado, sobre a
urgência de se tomar uma medida
nessa linha, obtendo seu aval.
De qualquer forma, avaliam, a
decisão de anunciar a desativação
ainda no primeiro mês de gestão
mostra maturidade do herdeiro: o
aplicado Alckmin teria notado
que, em política, só trabalhar não
basta. É preciso tomar medidas
simbólicas e impactantes.
O galego e o mineiro
A reafirmação da autoria dos
feitos e da continuidade do governo Covas tem sido a principal
marca do discurso de um Geraldo
Alckmin ainda pouco à vontade
no novo cargo (leia texto abaixo).
Ao lado delas, surgem sempre
respostas prontas e idênticas para
temas que o novo governador
quer evitar -sucessão, gestão petista, disputas no PSDB. O tom varia do evasivo ao brincalhão.
A estratégia tem dado certo. O
tucano que diz ter aprendido com
o padrinho que um político vale
menos pelo que diz e mais pelo
que faz tem figurado nas páginas
dos jornais mais por suas obras
do que por sua tímida oratória.
Entre os secretários e assessores, Alckmin é tido como um workaholic (obcecado por trabalho).
Acorda às 6h, lê todos os jornais
em casa -chega a corrigir o clipping de notícias que recebe da assessoria de imprensa-, lê o pensamento do dia de uma folhinha
católica e, antes da 7h, já dá os primeiros telefonemas. Tem tirado
muita gente da cama.
No final do dia, após checar o
caixa do Estado -hábito institucionalizado por Covas-, gosta
de esticar o expediente no Palácio
dos Bandeirantes. Deixa o gabinete depois das 22h e ainda leva alguns documentos para casa
-que agora fica a poucos metros
de sua sala. Antes de dormir, sempre de madrugada, navega na Internet, sua principal distração.
Se a dedicação faz com que o
novo governador mostre total domínio dos dados administrativos
do Estado, é ela também a responsável pelo que seus interlocutores
apontam como sendo seu maior
defeito: a eterna repetição.
Alckmin, dizem, repete tudo.
Dá a mesma ordem sempre mais
de uma vez. Pede a mesma informação uma, duas, três vezes.
Em contrapartida, afirmam os
mesmos assessores, é um excelente ouvinte. Paciente e didático,
torna as reuniões menos estressantes do que eram com Covas.
"Há entre os dois (Alckmin e
Covas) todas as diferenças que
existem entre um galego briguento e um mineiro conciliador", resume o secretário de Comunicação, Osvaldo Martins.
Cabe agora ao mineiro ganhar o
peso político do galego briguento.
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