São Paulo, domingo, 08 de abril de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SÃO PAULO

Área foi alvo de 18 das 34 medidas do novo chefe do Executivo; ênfase deve se manter nos próximos 20 meses

Segurança domina 1º mês da era Alckmin

SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL

A segurança pública dominou a maior parte da agenda do governador Geraldo Alckmin (PSDB) durante o primeiro mês em que ele esteve à frente do comando definitivo do Estado de São Paulo.
Alckmin assumiu o posto em 6 de março, com a morte do titular, Mário Covas, vítima de câncer. Desde então, das 34 medidas tomadas pelo novo governador -anúncios e entregas de equipamentos, programas ou obras-, 18 foram na área da segurança.
Elas vão de punições disciplinares a presos rebelados, passam por nomeação de policiais, entregas de Land Rovers e desativação de carceragens, chegando ao tão ambicioso quanto antigo projeto de desativação da Casa de Detenção -o primeiro vôo próprio do novo governador tucano.
Esse primeiro mês -34 dias completados hoje- dá tom de como serão os próximos 20 meses do governo. O motivo é simples: a segurança pública é considerada o calcanhar-de-aquiles dos seis anos que Mário Covas administrou o Estado e já aparece como o tema central da sucessão estadual -dominando as críticas e as inserções partidárias dos potenciais adversários dos tucanos em 2002.
Todos os índices de criminalidade aumentaram entre 1995 e 1999, apresentando uma pequena queda em 2000, em percentual ainda inexpressivo para um governo que prometeu reduzir pela metade a criminalidade. Os homicídios na capital, por exemplo, passaram de 4.814 (98) para 5.418 (99). Em 2000, caíram a 5.327.
"Esse é o maior desafio do governo. Muito já foi feito, mas temos que avançar ainda mais", sintetizou o governador à Folha, durante uma entrevista na quinta.
Quem ouve Alckmin acredita que a auto-avaliação é positiva. Ele não garante que a promessa da campanha de 1998 será cumprida, mas fala orgulhoso que o governo "pôs o dedo na ferida" ao transferir líderes do crime organizado e não ceder "um milímetro" após o motim geral do sistema.
"É a escola política Mário Covas: enfrente o problema. Se errar, você corrige lá na frente", diz ele.

Primeiras idéias
Prioridade da gestão, a segurança surge também como a área em que Geraldo Alckmin poderá deixar uma das duas marcas que seus assessores vislumbram para o seu governo: a desativação da Detenção e, um sonho mais distante, a despoluição do rio Pinheiros.
Nas palavras do próprio Alckmin, a Detenção é o "estigma de São Paulo" e o "símbolo da falência do sistema carcerário". Natural que se conclua, portanto, que quem conseguir riscá-la do mapa terá na medida seu grande trunfo político-administrativo-eleitoral.
Alckmin, porém, prefere evitar essa conclusão. Apesar de admitir que a desativação foi a primeira medida que tomou fora do script herdado do padrinho político, ele afirma que o governo tucano será lembrado pelo ajuste das contas públicas -reafirmando, diariamente, que ele é obra de Covas.
Os tucanos acreditam, porém, que até esse primeiro vôo foi assistido: Alckmin teria conversado com Covas, já internado, sobre a urgência de se tomar uma medida nessa linha, obtendo seu aval.
De qualquer forma, avaliam, a decisão de anunciar a desativação ainda no primeiro mês de gestão mostra maturidade do herdeiro: o aplicado Alckmin teria notado que, em política, só trabalhar não basta. É preciso tomar medidas simbólicas e impactantes.

O galego e o mineiro
A reafirmação da autoria dos feitos e da continuidade do governo Covas tem sido a principal marca do discurso de um Geraldo Alckmin ainda pouco à vontade no novo cargo (leia texto abaixo).
Ao lado delas, surgem sempre respostas prontas e idênticas para temas que o novo governador quer evitar -sucessão, gestão petista, disputas no PSDB. O tom varia do evasivo ao brincalhão.
A estratégia tem dado certo. O tucano que diz ter aprendido com o padrinho que um político vale menos pelo que diz e mais pelo que faz tem figurado nas páginas dos jornais mais por suas obras do que por sua tímida oratória.
Entre os secretários e assessores, Alckmin é tido como um workaholic (obcecado por trabalho). Acorda às 6h, lê todos os jornais em casa -chega a corrigir o clipping de notícias que recebe da assessoria de imprensa-, lê o pensamento do dia de uma folhinha católica e, antes da 7h, já dá os primeiros telefonemas. Tem tirado muita gente da cama.
No final do dia, após checar o caixa do Estado -hábito institucionalizado por Covas-, gosta de esticar o expediente no Palácio dos Bandeirantes. Deixa o gabinete depois das 22h e ainda leva alguns documentos para casa -que agora fica a poucos metros de sua sala. Antes de dormir, sempre de madrugada, navega na Internet, sua principal distração.
Se a dedicação faz com que o novo governador mostre total domínio dos dados administrativos do Estado, é ela também a responsável pelo que seus interlocutores apontam como sendo seu maior defeito: a eterna repetição.
Alckmin, dizem, repete tudo. Dá a mesma ordem sempre mais de uma vez. Pede a mesma informação uma, duas, três vezes.
Em contrapartida, afirmam os mesmos assessores, é um excelente ouvinte. Paciente e didático, torna as reuniões menos estressantes do que eram com Covas.
"Há entre os dois (Alckmin e Covas) todas as diferenças que existem entre um galego briguento e um mineiro conciliador", resume o secretário de Comunicação, Osvaldo Martins.
Cabe agora ao mineiro ganhar o peso político do galego briguento.



Texto Anterior: Diplomacia: Jospin ouve elogio a Lula e almoça com FHC
Próximo Texto: Isto é Alckmin
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.