São Paulo, domingo, 08 de abril de 2001

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Em maratona de inaugurações, placas levam nome de Covas

DA REPORTAGEM LOCAL

Desde que assumiu definitivamente o governo do Estado, Geraldo Alckmin já visitou 18 cidades -uma média de uma a cada dois dias. Nelas, fez 34 entregas e anúncios de medidas.
Nesse ritmo, participará de quase 700 cerimônias até o final de sua gestão. Outras 2.500 deverão ocorrer sem a sua presença.
A face visível do saneamento herdado é um trunfo eleitoral invejável para quem é hoje o potencial candidato tucano à sua própria sucessão. Mas, apesar das bandas municipais e dos fogos de artifício que o recebem em cada município, dando às inaugurações um tom de comício, Alckmin -mangas da camisa invariavelmente dobradas- não gosta dessa comparação.
Discreto, prefere a posição de discípulo fiel -co-piloto e aluno, conforme suas analogias-, ao qual cabe continuar um trabalho.
Materializou o princípio nas placas inaugurais dessas tantas obras. Nelas, seu nome aparece pequeno, escrito no mesmo corpo de nomes de secretários. No topo das placas, em letras garrafais, aparece o nome de Covas.
Nas cerimônias, costuma não reagir às falas nem comentar as faixas que lançam sua candidatura ao governo estadual.
"Queremos que o senhor receba o carinho e sinta a torcida do nosso povo pelo seu mandato de hoje e pelo mandato futuro", disparou na sexta, de cima do palanque, o prefeito de Osasco, Celso Giglio, sob os gritos de cerca de 400 pessoas: "Alckmin, Alckmin".
O governador pareceu não ouvir. Manteve-se na mesma posição -dedo indicador empurrando os óculos contra o rosto e leve sorriso nos lábios. Ao falar, respondeu aos pedidos que lhe foram feitos -em geral, promete estudá-los- e comentou algumas falas dos oradores que o antecederam. Mas ignorou a insinuação do cabo eleitoral.

A "coisa do telefone"
O palanque onde estavam Alckmin, Giglio e a costumeira dezenas de autoridades locais estava cercado por 11 faixas de saudação ao governador. Uma delas agradecia especificamente pelas "obras do governo Alckmin".
Mas falar em governo Geraldo Alckmin parece ainda soar estranho para o próprio governador.
No gabinete do titular, ele está há menos de 15 dias. Para o Palácio dos Bandeirantes, mudou-se apenas no domingo passado, levando consigo a mobília de seu apartamento para "diminuir a grande impessoalidade" do lugar.
Politicamente, só agora começa a sentir os primeiros sinais do que os governantes costumam chamar de solidão do poder.
"Sabe que eu sinto falta daquela coisa do telefone. Antes tinha o Mário Covas, que me ligava toda hora, convocava. Vem aqui, vai lá, faz isso, aquilo. Agora fico lá, e ninguém me liga", disse Alckmin, mão estendida como se estivesse agarrado ao fone de um aparelho imaginário -e mudo.
Cotado para a Executiva Nacional do PSDB e estreando nas pesquisas presidenciais, Alckmin ainda se mostra tímido ao circular pelo pantanoso terreno político. Sobre o governo FHC, por exemplo, limita-se a fazer comentários sobre o "bom momento" nacional. Evita críticas até quando recebe calote: a União não mandou até hoje as verbas de 2001 para o Rodoanel, mas Alckmin classifica o fato como "pequeno atraso".
Talvez seja esse o cerne da diferença entre Covas e Alckmin. O primeiro sabia ser capaz de definir os rumos do partido e, em alguma medida, da política nacional. O segundo aguarda as decisões colegiadas do tucanato.
No ninho tucano, a avaliação é que a desenvoltura virá com o tempo -que também reduzirá as constantes reafirmações dos princípios do governo. (SC)

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