UOL

São Paulo, terça-feira, 08 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JANIO DE FREITAS

Dose excessiva

Sempre houve quem tentasse, poucos têm conseguido. Luiz Inácio Lula da Silva é mais um a dizer que deixou de ler jornais, como reação à quantidade de notícias ruins. Coerente, porém, com a índole contraditória do seu governo, depressa informa que, "por pior que seja a notícia", ainda assim lhe "aumenta o otimismo".
À primeira vista, então, conviria que Lula continuasse frequentador dos jornais. A idéia é equivocada. Um dos males maiores que o governo tem exibido advém do excesso de otimismo, sobretudo do otimismo presidencial. Quando parecia arrefecer, voltou com mais intensidade o clima de campanha eleitoral de candidato favorito às vésperas da vitória.
Todos os dias, discurso de empolgação, de promessa, quando não são dois ou três no mesmo dia. Mas, não fora o seu otimismo, Lula talvez pudesse perceber que seus discursos já não produzem efeito. Ou por desgaste dos discursos mesmos, ou por que a disposição de considerá-los vai se transformando em interrogação. Lula faz bem em relegar tudo que lhe causa otimismo em excesso.

Em "off"
Em seu depoimento à Comissão de Ética do Senado, sobre o seu texto relatando confissão que o senador ACM lhe teria feito, de autoria dos grampos baianos, o jornalista Luiz Cláudio Cunha estendeu suas considerações à própria atividade jornalística. Ou seja, envolveu a atividade dos demais jornalistas. Indagado sobre a validade ética da violação de um "off" (informação dada em confiança pessoal, ou porque não deva ser publicada, ou porque o informante não deva ser citado), Luiz Cláudio Cunha disse que esse recurso surgiu "na época do arbítrio", para obtenção de informações, e "alguns jornalistas preservam".
Com esse ou com outro nome, o "off" existe desde que surgiu o jornalismo informativo. Os nítidos princípios éticos que o circundam -os pessoais e os profissionais- atravessaram os séculos, ou milênios, sem alteração até hoje. Não consta, também, que a decisão de violar um compromisso de "off" seja "tomada pela direção da revista", do jornal ou de outro meio de jornalismo. Nenhum desses tem direito ou poder de obrigar a ruptura de princípios, sejam quais forem, dos seus jornalistas. O "off" está relacionado ao informante e ao jornalista. O caso mais notório, na atualidade, é o Watergate, cujo informante em "off" é mantido em segredo há 30 anos.

Desordem
Pessoas nomeadas para cargos federais em janeiro ainda não tiveram as nomeações publicadas no Diário Oficial. Se fosse só a falta de formalização do ato, seria comprometedor para o governo. Mas, sem a publicação, também está comprometido o orçamento doméstico dos que logo começaram a trabalhar, para que os respectivos setores do governo não parassem, e até hoje não puderam receber os vencimentos. Na Educação, por exemplo. Mas por deficiência de outra, que uns dizem estar no Planejamento, outros em alguma secretaria da Presidência.


Texto Anterior: Servidores prometem 1ª paralisação
Próximo Texto: Reforma tributária: Projeto do governo Lula sobre o ICMS é idêntico ao de FHC
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.