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Presidente do Senado elogia a política econômica e diz que não é justo criticar demora em enviar as propostas de reformas
Críticas a Lula são injustas, diz Sarney
RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde o primeiro
turno da eleição, o presidente do
Senado, José Sarney (PMDB-AP),
avalia como "excelente" o desempenho do petista nesses cem primeiros dias de governo e mostra
mais transigência com o Planalto
do que alguns petistas, que têm
feito cobranças públicas.
Sarney elogia a política econômica e considera "injustas" as críticas à demora do governo em enviar as propostas de reformas tributária e previdenciária ao Congresso. Mas avisa: Câmara e Senado não têm compromisso em
aprovar as propostas aprovadas
pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
A seguir, trechos da entrevista
concedida à Folha.
Folha - Qual é a avaliação que o
sr. faz dos cem primeiros dias de
governo Lula?
Sarney -Não só eu como o povo
brasileiro -as pesquisas mostram isso- achamos que o presidente está tendo um excelente desempenho. Todo início é difícil,
mas o presidente Lula mudou
completamente duas coisas, que
tiveram a maior importância na
condução da política brasileira.
Primeiro, é um presidente
oriundo da área do trabalho.
Anunciaram que isso seria uma
grande catástrofe, um grande fracasso para o Brasil. Não aconteceu. Ao contrário, ele está tendo
um excelente desempenho, e, por
outro lado, nós estamos vendo
também que na área da política
econômica os índices macroeconômicos estão caindo, restabeleceu-se a confiança no país, e Lula
hoje internacionalmente tem um
peso. Acho que a avaliação é extremamente positiva.
Folha - Uma das críticas que se faz
é que a melhor área do governo é a
econômica -e em razão de ele não
ter feito grandes transformações.
Não é frustrante para o eleitor do
Lula, que queria mudança?
Sarney -Governar é inspirar
confiança. A área econômica depende sobretudo da confiança.
Lula inspira uma grande confiança, e é por isso que a área econômica vai bem. A área econômica
melhorou. Agora, não há muito o
que inovar hoje em matéria de
economia. Nós temos uma economia em nível mundial, da qual
todos somos dependentes, e Lula
recebeu hipotecas dessa política
que ele tem de manter, que são
compromissos internacionais.
Em matéria de política econômica hoje, não só para o Brasil como para o mundo inteiro, não há
opção de escolher esta ou aquela.
É seguir as coisas, mas administrá-las bem, em favor do interesse
nacional. É o que ele está fazendo.
Folha - E a demora do governo em
enviar ao Congresso as propostas
de reformas? O sr. acha que o governo poderia apressar um pouco
ou está levando o tempo certo?
Sarney -Desde o conselheiro Nabuco está se falando de reformas
no Brasil. É uma palavra que tem
mais de cem anos como uma
constante na política brasileira. E,
se o presidente que assumiu há
cem dias diz que já vai mandá-las
no mês de abril, ninguém pode
cobrar morosidade. As críticas
são injustas.
Folha - O fato de o governo submeter as reformas ao exame de um
conselho, dos governadores e dos
prefeitos de capitais vai facilitar a
tramitação no Congresso ou não há
nenhuma garantia nesse sentido?
Sarney -Eu acho que facilita,
porque, de certo modo, vão aflorando as questões divergentes na
discussão da reforma. E é uma
maneira de procurar harmonizar
esses conflitos.
Folha - O Congresso vai acatar as
propostas pelo fato de elas terem
sido debatidas nesses fóruns?
Sarney -Não, o Congresso não
está obrigado a acatá-las. Mas
também não está impedido de
aceitá-las. Não podemos, de maneira global, dizer que aceitaremos. As reformas implicam discussões de problemas tópicos. É
essa tarefa que está sendo feita:
ouvir a sociedade, as áreas interessadas, os segmentos, os governadores, as bancadas, as classes
produtoras, porque é uma coisa
que atinge todo mundo.
Folha - A idéia do líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), de
iniciar a tramitação da reforma tributária pelo Senado provocou reação na Câmara. O sr. defende a proposta?
Sarney -Não há nenhum impedimento para que elas comecem
pela Câmara ou pelo Senado.
Mas, evidentemente, já temos
tantos problemas nessas reformas, que são assuntos extremamente polêmicos, e vamos acrescentar um outro problema, de saber por onde começa ou por onde
termina? Eu, como presidente do
Senado, acho que seria uma boa
idéia. Mas isso não é uma coisa
fundamental. Não é por isso que
devamos brigar. Vamos acertar
isso em conjunto.
Folha - Nesses cem dias Lula não
conseguiu, ainda, garantir o PMDB
no governo. O que falta?
Sarney -Avançamos muito. Porque o PMDB votou institucionalmente contra o Lula na eleição.
Mais da metade do partido votou
no Lula. Mas institucionalmente,
como partido, a sua decisão foi
outra. Mas a partir da eleição nós
avançamos demais. O partido hoje politicamente dá um apoio total
ao governo: às reformas, às políticas econômicas, às política sociais. Apenas achamos que não
devemos participar de cargos.
Folha - O sr. está mais transigente
com o governo do que alguns petistas, como o deputado João Paulo
Cunha -para quem o governo estaria "batendo cabeça"-, e o senador Paulo Paim (RS), primeiro vice-presidente do Senado -que criticou a demora no encaminhamento das reformas. Isso atrapalha Lula? Falta mais compromisso com o
governo?
Sarney -Ora, não tenho tido
tempo de ver a outra parte. Só o
lado bom. Esse é um problema interno do PT que eu não quero
examinar.
Folha - Uma das marcas desses
cem dias são as reuniões para discutir tudo. O sr. acha que é um bom
método de governar? Esse método
funciona?
Sarney -Ele está usando o sistema que sempre usou e que é muito bom, de democracia interna.
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