São Paulo, quarta, 8 de abril de 1998

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Justiça investiga correligionários de novo ministro

ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió

Empossado ontem no Ministério da Justiça, Renan Calheiros (PMDB-AL) vai ter a missão de chefiar as investigações contra o crime organizado alagoano. Entre os investigados estão correligionários do novo ministro.
Na lista, está o coronel da Polícia Militar de Alagoas, Manoel Francisco Cavalcante, que é candidato a deputado estadual pelo partido de Calheiros, apesar de estar preso há três meses. Cavalcante é acusado de ser o principal líder do crime organizado no Estado.
As investigações contra o crime organizado alagoano deixam na mira da Polícia Federal, ligada à pasta de Calheiros, os deputados estaduais João Beltrão e Danilo Dâmaso, ambos do partido do ministro, e o ex-presidente da Assembléia Legislativa Antônio Albuquerque (95-96), que deixou o PMDB no ano passado para se filiar ao PSD.
As investigações contra o crime organizado alagoano começaram em janeiro. Foram presas 42 pessoas, entre elas 32 policiais militares, um delegado da Polícia Civil e um ex-prefeito.
As polícias Civil, Militar e Federal apreenderam uma tonelada de armas contrabandeadas e cinco toneladas de pólvora e de chumbo. Além disso, localizaram 32 ossadas de vítimas de crimes de aluguel em cemitérios clandestinos e capturaram 158 carros roubados -80 deles abandonados e queimados em várias cidades.
As investigações provocaram suspeitas contra os deputados e correligionários de Calheiros. Beltrão é o único que foi indiciado sob acusação de receptação de carros roubados. Ele nega tudo.
O ex-presidente da Assembléia é acusado de ser o mandante de 12 assassinatos no interior. A PF tenta encontrar provas que fortaleçam os depoimentos já colhidos de testemunhas.
Foi na gestão de Albuquerque que sumiram R$ 25 milhões da Assembléia. Um incêndio no início do ano passado destruiu toda a documentação que poderia comprovar o desvio do dinheiro.
O deputado Dâmaso também é acusado por assassinatos e de ser ligado ao contrabando de armas. A PF chegou a conseguir na Justiça um mandado de busca e apreensão de armas nas propriedades dos três deputados.
Porém não pôde cumprir a missão, planejada para fevereiro. A informação vazou antes da execução da operação.
"O Renan Calheiros vai usar de todos os meios legais para obstruir ao máximo as investigações contra seus amigos e aliados do crime organizado", afirmou o ex-deputado federal Mendonça Neto (PDT-AL), advogado da família de uma das vítimas.
Calheiros disse que vai incentivar as investigações da PF no Estado. "Estou planejando fazer uma visita ao Estado o mais breve possível. Vou com o diretor-geral da PF para saber do que os policiais envolvidos nas investigações estão precisando. Acabar com o crime organizado em Alagoas sempre foi uma bandeira minha", afirmou.



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