São Paulo, terça-feira, 08 de maio de 2001

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ALIADOS EM CRISE

Presidente determina que Aloysio Nunes use rolo compressor para frear adesões à comissão na Câmara

FHC manda liberar emendas para barrar CPI

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No dia em que a oposição aumentou de 27 para 29 as adesões à CPI da corrupção no Senado, o presidente Fernando Henrique Cardoso desencadeou pessoalmente uma operação para tentar diminuir as adesões de deputados federais e inviabilizar a investigação. FHC conversou por telefone e pessoalmente com líderes partidários e dirigentes regionais dos partidos aliados.
O presidente determinou ao ministro Aloysio Nunes Ferreira (Secretaria Geral) que priorizasse a liberação de emendas congressuais já aprovadas, mas que ainda não foram liberadas. No entanto, impôs limite para concessão de cargos.
A intenção do presidente é jogar para menos de 171 (número exigido) as adesões de deputados federais governistas à Comissão Parlamentar de Inquérito.
O governo avalia que só usando o rolo compressor tem chance de reverter os apoios na Câmara. FHC crê que será difícil abortar a investigação juridicamente.
A um deputado federal tucano, FHC disse que a CPI paralisaria o país e atingiria, além do governo, os partidos aliados que vão disputar as eleições de 2002.
Depois de dizer que não faria "barganha" para evitar a CPI, o governo reabriu negociação com parlamentares. Houve pressão dos líderes partidários para que FHC aceitasse bancar o que, eufemisticamente, chamam de "operação de governo". Ou seja, atender com cargos e emendas os parlamentares fiéis.
No mês passado, o governo se assustou com a voracidade dos pedidos dos parlamentares para não assinar o requerimento da CPI. Exemplo: dois deputados do PL queriam a direção da BR Distribuidora, empresa da Petrobras, e a bancada da Igreja Universal desejava renegociar dívida de cerca de R$ 700 milhões de empresas ligadas à igreja.

Batalha das adesões
Até a semana passada, havia descrença entre articuladores do governo. A oposição divulgou o nome de 174 deputados que já assinaram o pedido. Os partidos de oposição dizem também que têm mais 12 deputados federais governistas que assinarão o pedido de criação da CPI, mas que pediram para que seus nomes não fossem revelados até amanhã.
O líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro (BA), disse que a oposição está pronta para enfrentar a reação do governo. Considera que chegará a 190 assinaturas.
"Vamos trabalhar com uma margem de 20 assinaturas de segurança. Estamos checando um a um os nomes que apoiaram a CPI para evitar surpresas", afirmou o líder do PPS, Rubens Bueno (PR).
A operação comandada por FHC levou dirigentes dos partidos aliados a tentarem retirar as assinaturas. Exemplo: o presidente do PFL, o senador Jorge Bornhausen (SC), vai enviar uma carta aos deputados pefelistas que assinaram o pedido da CPI.
De manhã, FHC se reuniu com os líderes partidários no Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) e Sérgio Machado (PSDB-CE). Ele repetiu o argumento de que a CPI é uma manobra da oposição para tentar ferir o governo e pediu apoio para tentar derrubá-la na Câmara. Os três avaliaram que, no Senado, seria quase impossível uma reação do governo.
Enquanto FHC desencadeava a operação para barrar a CPI na Câmara, os senadores tucanos Álvaro Dias (PR) e Osmar Dias (PR) anunciaram que assinam hoje o pedido de CPI (leia texto ao lado). Com a assinatura dos dois irmãos, do partido de FHC, o pedido no Senado tem duas adesões a mais do que as 27 exigidas.
O líder do bloco de oposição, José Eduardo Dutra (PT-SE), prevê para hoje mais uma adesão. O 30º senador a assinar deve ser o peemedebista e ex-ministro da Justiça Íris Rezende (GO). As negociações para que os dois senadores do Paraná assinassem a CPI duraram semanas.
A oposição vai protocolar o pedido de CPI amanhã com uma manifestação na Câmara com a presença de representantes da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), entre outras entidades. (KENNEDY ALENCAR, RAQUEL ULHÔA, DENISE MADUEÑO E VERA MAGALHÃES)

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