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ORIENTE PRÓXIMO
Apenas 16 dos 33 países convidados devem enviar chefes de Estado ou de governo para o encontro que começa na terça, em Brasília
Aliados dos EUA rejeitam a cúpula árabe
CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Cúpula América do Sul-Países
Árabes começa depois de amanhã
com 16 dos 33 países convidados
enviando chefes de Estado ou de
governo para Brasília. As ausências mais notáveis são as de países
alinhados politicamente aos Estados Unidos, país que teve rejeitado um pedido para enviar um observador ao encontro inédito.
Todos os países estarão representados, de toda forma, pelo menos por algum ministro e sua delegação. Do mundo árabe, 8 dos
22 convidados enviarão suas autoridades máximas. Na América
do Sul, isso ocorrerá com 8 dos 11
países, segundo o Itamaraty.
Entre os países mais próximos
aos Estados Unidos, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes e
Kuait vão enviar ministros de Estado para a cúpula. Da Jordânia
virá o príncipe Ali bin Hussein e a
Colômbia vai mandar o vice-presidente, Francisco Santos Calderón. Outros sul-americanos que
faltarão são o presidente do Equador, Alfredo Palácios, por causa
da situação de crise interna no
país, e do Suriname, Ronald Venetiaan, por causa das eleições
presidenciais no próximo dia 25.
O governo afirma que não houve nenhuma interferência dos
EUA com relação à adesão dos
países ao convite do presidente
Lula. "Não houve nenhum tipo de
pressão. Ao contrário, a secretária
de Estado americana, Condoleezza Rice, parabenizou o presidente
Lula pela cúpula, quando esteve
em Brasília, na semana passada",
disse o chefe do Departamento de
Promoção Comercial do Itamaraty, embaixador Mário Vilalva.
Quando reuniu-se com Rice, o
chanceler Celso Amorim deu garantias à secretária que o encontro não seria palco de propaganda
política contra Israel e afirmou
que o objetivo da cúpula será promover a aproximação das duas
regiões para a cooperação econômica e cultural.
A cúpula, que vinha sendo vendida pelo governo como mais um
lance de sucesso da política externa agressiva do governo Luiz Inácio Lula da Silva, chega às suas
vésperas com um certo esvaziamento do ponto de vista do mundo árabe. Ela vinha sendo costurada desde o giro de Lula aos países daquela região, em 2003, e não
trouxe dois freqüentes interlocutores do Brasil na área: os ditadores Muammar Gaddafi (Líbia) e
Bashar Assad (Síria).
Reservas em baixa
Os hotéis de Brasília foram os
primeiros a notar: só um terço das
3.000 reservas haviam sido confirmadas até sexta-feira, incluindo
uma grande comitiva do principal
peso-pesado econômico do encontro, a Arábia Saudita.
Há, porém, a importância do
encontro, inédito em forma e
conteúdo, e o fato de que estão
previstas presenças importantes.
No campo global, ainda que representem respectivamente um
Estado ainda não constituído e
um Estado sob ocupação militar,
Mahmoud Abbas (Palestina) e Jalal Talabani (Iraque) são figuras
de grande interesse.
No campo mais provinciano,
Hugo Chávez (Venezuela) e Néstor Kirchner (Argentina), e sua
disputa com o Brasil, também são
atrações. Lula janta na segunda
com os dois sul-americanos. O argentino ainda terá uma reunião
com o brasileiro, que vai acontecer dias depois da mais recente
crise diplomática deflagrada por
declarações de seu chanceler, Rafael Bielsa, que acusou o Brasil de
forjar protagonismo político na
região ao aspirar a todos os postos
em organismos internacionais.
"A mensagem que essa conferência quer dar ao mundo não é a
de um eixo político, mas de entendimento e de paz entre duas regiões que enfrentam dificuldades
graves", disse Vilava, referindo-se
às turbulências enfrentadas por
Colômbia, Equador, Venezuela,
Palestina e Iraque.
O Itamaraty fez questão de reforçar que o foco do encontro não
será político, mas a cooperação
econômica, tecnológica e cultural.
"Trata-se de um novo eixo de política exterior focado em comércio e investimentos que está sendo criado", disse Vilalva. A ausência de um chefe de governo da
Arábia Saudita, país que nada em
petrodólares, tira significativamente força dessa interpretação.
Além disso, tradicionalmente
grandes cúpulas não funcionam
bem para grandes negócios -isso se dá em encontros bilaterais.
Viés político
O viés político será destaque. Se
vier, essa será a primeira viagem
ao exterior do recém-eleito presidente do Iraque, Jalal Talabani.
Também deverá estar em Brasília
o presidente da autoridade palestina, Mahmoud Abbas. Ele se encontra amanhã com Lula. Segundo a Folha apurou, a delegação
palestina sugeriu que a sessão que
vai tratar de combate ao terrorismo, na declaração final da cúpula,
fizesse a ressalva de que o combate feito em nome de independência nacional fosse justificável.
No entanto, o Itamaraty, com o
apoio dos países sul-americanos,
se opôs à especificação e a ressalva
acabou sendo tirada do texto, que
deverá trazer apenas a expressão
"combate ao terrorismo".
A menção ao combate ao terrorismo será um dos pontos da sessão de cooperação política da
"Declaração de Brasília", que os
representantes dos 34 países deverão assinar ao final do encontro. A declaração também deverá
reforçar o apoio ao multilateralismo, deverá estimular o diálogo e
entendimentos no Oriente Médio
e trará uma manifestação de
apoio geral à reforma do Conselho de Segurança da ONU.
Cooperação
A declaração terá também capítulos de cooperação econômica e
comercial, tecnológica, cultural e
contará com uma sessão dedicada
ao estímulo ao desenvolvimento
social e combate à pobreza.
O Itamaraty não soube explicar
se o tema democracia fará parte
do texto, nem como deverá constar da declaração. "É uma questão
certamente difícil. Não sei se estará na declaração, deve estar", disse o chefe do Departamento da
África, embaixador Pedro da
Motta. O encontro vai reunir países democráticos e regimes totalitários, como a Líbia, a Arábia Saudita, a Síria e o Egito.
A maior expectativa do Itamaraty com relação à cúpula será
com relação à abertura de um novo eixo de cooperação e de oportunidades de negócios. "Não pretendemos comprar ou vender nada nessa cúpula, apenas criar um
ambiente para que os contatos
ocorram no futuro", disse Vilalva.
Segundo ele, durante a cúpula
os países do Mercosul (Argentina,
Brasil, Paraguai e Uruguai) deverão assinar um acordo para a formação de uma área de livre comércio com os países do Conselho de Cooperação do Golfo, formado por 20 países árabes.
Paralelamente ao encontro de
cúpula, o governo organizou um
seminário empresarial e uma feira de investimentos que devem
reunir cerca de 830 empresários,
dos quais 190 serão árabes, 188 sul
americanos e 452 serão brasileiros, segundo o Itamaraty.
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