São Paulo, segunda-feira, 08 de maio de 2006

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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/ ARQUIVO VIVO

Partido procura desqualificar entrevista de seu ex-secretário-geral, que sai de circuito

PT diz agora que Silvio está confuso, mente e é traidor

CHICO DE GOIS
MALU DELGADO

DA REPORTAGEM LOCAL

O PT atuou unido ontem para desqualificar seu ex-secretário-geral Silvio Pereira, que, em entrevista ao jornal "O Globo", reacendeu o pavio da crise do mensalão ao revelar detalhes do esquema.
A estratégia utilizada durante o dia por dirigentes petistas consistiu em apontar Silvinho, como era carinhosamente chamado pelos ex-companheiros, como alguém abalado emocionalmente, para dizer o mínimo, ou como um traidor que se vendeu por um jipe.
Os líderes do PT se revezaram em classificá-lo ora como "mentiroso", nas palavras do presidente nacional do partido, Ricardo Berzoini (SP), ora como uma pessoa "que não está muito bem", como disse a ex-prefeita Marta Suplicy, ou ainda como "muito confuso", na concepção do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante.
O secretário de Finanças do PT, Paulo Ferreira, acredita que Silvio "vive um momento infeliz da vida e parece angustiado". E um dirigente que pediu para não ser identificado foi mais contumaz: "Ele está completamente louco."
Paralelamente a essa manobra, os petistas se esforçaram em afirmar que as informações de Silvio "não acrescentam nada de novo" ao que já era de conhecimento público sobre o envolvimento do PT com o empresário Marcos Valério de Souza e o repasse de verbas "não contabilizadas" para aliados do governo.
Procurado pela Folha, Silvio Pereira não estava em casa e não atendeu telefonemas ontem.

Arrecadação
Ao jornal "O Globo", ele disse que a intenção de Marcos Valério e de dirigentes do PT era arrecadar R$ 1 bilhão por meio de negociatas envolvendo bancos em processo de liquidação no Banco Central. Os lucros seriam distribuídos para partidos como o próprio PT, o PTB e outros aliados.
Ao se referir às reuniões entre dirigentes petistas e empresários para arrecadar fundos para o partido, Silvio negou que tenha participado desses encontros, mas insinuou que os maiores quadros do partido faziam isso. "Quem mandava eram Lula, Genoino, Mercadante e José Dirceu. Eu não estava à altura deste time."
Silvio disse também que procurou a atual direção do partido para contar esses detalhes, mas não foi ouvido. "Eu liguei para o Berzoini e lhe disse que gostaria muito de ser ouvido para que minhas informações ajudassem nas investigações internas." Ele disse que nunca foi ouvido.

"Acalme-se"
"Recebi as denúncias com surpresa porque ele teve toda a oportunidade para dizer isso na CPI, na Polícia Federal e no Ministério Público", afirmou Berzoini. A CPI dos Bingos vai convocá-lo a depor provavelmente na quarta-feira.
Berzoini afirmou que Silvio conta "mentiras" e que "traiu" o partido. No entanto, acabou confirmando que o ex-secretário-geral o procurou por telefone e ainda revelou qual foi sua atitude: mandá-lo "se acalmar".
"Ele falou comigo por telefone uma única vez, quando eu o aconselhei a se acalmar e cuidar da vida para restabelecer sua perspectiva profissional."
Para Berzoini, "não há nenhuma razão para ter interlocução com uma pessoa que traiu o partido ao aceitar um jipe de presente da iniciativa privada". Ele se referia a um Land Rover que Silvinho ganhou da empresa GDK.
O presidente nacional do PT procurou ligar as denúncias do ex-secretário-geral às prévias para a escolha do candidato do PT ao governo do Estado realizadas ontem. "Quando temos uma prévia, acontece este tipo de entrevista." No depoimento, Silvinho diz que Mercadante era um dos que "mandavam" no partido.
"Acho que pode ter alguém que não goste de um dos candidatos e que tenha querido estabelecer qualquer tipo de desgaste na véspera da prévia", disse Berzoini.
A discussão sobre a entrevista de Silvio, aliás, contagiou as prévias em São Paulo (leia mais na página 8-A). A ex-prefeita Marta Suplicy negou que seu grupo tivesse alguma influência nas declarações do ex-secretário-geral. Sobre Silvio Pereira, ela afirmou achar "que ele está muito mal". "As declarações não levam a nada e não sei por que [Silvio] resolveu fazer isso", disse Marta.
Mercadante reiterou que considera "fantasiosas" e "irreais" as declarações do ex-secretário-geral. O senador também insistiu na tese de que Silvio não apresentou nenhum fato novo. "Parte do que está sendo discutido é requentado de outros episódios." Em resposta à afirmação de Silvio de que quatro petistas controlavam o partido, Mercadante disse que está afastado da Executiva desde 2002.
"Não consegui entender a entrevista", disse o deputado federal João Paulo Cunha, ex-presidente da Câmara que recebeu R$ 50 mil do esquema de Marcos Valério.


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