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Senador ignora STF e recontrata mulher de aliado
FILIPE COUTINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do Senado, José
Sarney (PMDB-AP), recontratou em abril a mulher do ministro do TCU (Tribunal de Contas da União) Raimundo Carreiro, responsável direto pela
análise das contas da Casa, um
ano e meio depois que ela foi
demitida por nepotismo.
Carreiro foi secretário-geral
do Senado por 12 anos e indicado para o TCU pelo próprio
Sarney. No tribunal, o ministro
foi sorteado para ser o relator
da prestação de contas do Senado para os anos de 2009 e 2010.
O TCU é um órgão auxiliar do
Congresso Nacional e tem como principal responsabilidade
analisar os gastos da União.
Na mesma semana em que a
mulher do ministro foi recontratada por Sarney, Carreiro
pediu o arquivamento de um
processo sobre a contratação
sem licitação de uma empresa
de serviços elétricos no Senado
por R$ 485 mil. O voto de Carreiro foi seguido pelo tribunal.
Maria José de Ávila, mulher
de Carreiro, era assessora da diretoria-geral do Senado em
agosto de 2008, mas teve que
deixar o cargo quando foi publicada a súmula do Supremo Tribunal Federal que proibiu nepotismo nos três poderes.
Ele nega qualquer influência
na contratação da mulher. Sarney, por meio da assessoria,
disse que ela foi contratada por
razões técnicas. Maria José,
por sua vez, não quis falar.
À época das demissões, o Senado decidiu que o TCU, por
ser vinculado ao Legislativo,
deveria ser considerado para
casos de nepotismo.
Em abril, Maria José voltou
ao Senado para assumir outro
cargo, com salário de R$ 10 mil.
Em geral, as contratações são
assinadas pela diretoria-geral,
mas, neste caso, foi o próprio
Sarney quem assinou o ato.
A mulher do ministro do
TCU trabalha hoje na Secretaria do Sistema Integrado de
Saúde. Em 2008, também deixaram a Casa dois filhos e uma
sobrinha de Carreiro -e outras
82 pessoas demitidas por conta
da súmula antinepotismo.
Sarney já foi alvo de denúncias de contratação de familiares no Senado. A Folha mostrou, por exemplo, que Sarney
contratou a própria irmã, apesar de sempre ter negado influência nessas nomeações.
Para o presidente da AMB
(Associação dos Magistrados
Brasileiros), Mozart Valadares,
a recontratação da mulher de
Carreiro é uma "incoerência".
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