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RUMO ÀS ELEIÇÕES
Investidor compara poder americano ao do Império Romano
Soros diz que EUA irão impor Serra e que Lula seria o caos
CLÓVIS ROSSI
EM NOVA YORK
George Soros, sinônimo mundial de megainvestidor (ou megaespeculador, como muitos preferem), avisa: o Brasil está condenado a eleger José Serra ou a mergulhar no caos, assim que um
eventual governo Luiz Inácio Lula
da Silva se instalar.
Não se trata, desta vez, apenas
da habitual má vontade do mundo financeiro em relação a Lula e
ao PT. É muito pior: trata-se de
uma análise fria de como se mexem as engrenagens do capitalismo global, de que Soros é não
apenas um perito mas também
um ativo agente.
O caos virá, acha Soros, por
uma questão de "profecia que se
autocumpre". Funcionaria assim,
na sua avaliação: os mercados
acham que Lula dará o calote
quando assumir e já começaram a
se prevenir, apostando contra o
Brasil -ou, mais especificamente, contra o real.
A aposta só pode aumentar enquanto as chances de Lula permanecerem de pé, uma tendência
que provavelmente irá até o dia
do segundo turno. Se Lula de fato
vencer, assumirá com uma situação financeira tão dramática que
não lhe restará alternativa a não
ser dar o calote que o mercado antecipava que ele daria. A profecia
então se autocumpriria.
Em circunstâncias distintas, foi
o que ocorreu na Argentina. Ou
seja, não foi um calote ideológico
ou voluntarioso, mas uma imposição das circunstâncias. Não havia mais como pagar a dívida.
"Só os americanos"
A Folha ponderou a Soros que
esse mecanismo é absolutamente
antidemocrático, na medida em
que impede que os eleitores, teoricamente soberanos, elejam
quem bem entendam.
O investidor concorda. E compara os Estados Unidos de hoje à
antiga Roma imperial. "Na Roma
antiga, só votavam os romanos.
No capitalismo global moderno,
só votam os americanos, os brasileiros não votam", diz Soros.
É claro que os americanos a que
Soros se refere são os agentes financeiros, não necessariamente o
governo dos Estados Unidos ou o
conjunto da sociedade, que, com
certeza, nem faz idéia de que haverá eleição no Brasil, salvo os
minguados acadêmicos interessados no país.
É uma avaliação sombria, mas
não é novidade na boca desse financista nascido na Hungria, há
71 anos, e naturalizado norte-americano. Faz pouco, Soros
equiparou comunismo e capitalismo, dizendo que ambos são geneticamente autoritários.
"O "laissez-faire" [liberalismo
absoluto" baseia-se na mesma estrutura mental do marxismo",
chegou a dizer. Explicou então:
ambos nasceram em um momento em que havia certezas supostamente científicas sobre o mundo,
uma visão que ele considera totalitária e teria impregnado as duas
grandes correntes ideológicas do
século passado.
"O melhor aluno"
O megainvestidor acha que, se
Serra vencer, a situação muda,
apesar de a dinâmica da crise já
estar instalada. "Os mercados se
acalmarão", prevê. E explica por
que: o capitalismo global não se
arriscaria a inviabilizar um país
como o Brasil, que Soros chama
de "o melhor aluno" do modelo
econômico hegemônico.
Claro que é impossível saber se
as previsões de Soros estão ou não
corretas, mas convém lembrar
que "melhor aluno" era a designação que se dava à Argentina,
antes de começar a espiral que a
levou a um poço sem fundo. Não
obstante, "a melhor aluna" foi
abandonada à própria sorte.
Pela análise de Soros, a única hipótese de o caos não se estabelecer no país seria evitar a crise financeira. É possível? "Com o dólar a R$ 2,66, a crise já começou",
fulmina, em alusão à cotação do
dólar no momento da conversa
com a Folha, na chuvosa noite de
quinta-feira em Nova York, durante jantar organizado pelo
Council on Foreign Relations.
O paradoxal é que Soros tem
propostas que, se implementadas,
minariam as chances de especular
contra o Brasil. Propostas antigas,
todas relativas à reforma da arquitetura do sistema financeiro
internacional.
Para o Brasil, especificamente,
recomenda o alívio da dívida,
com uma intervenção direta do
Tesouro dos EUA. Mas ele próprio diz que "o Tesouro não parece nada interessado".
O jornalista CLÓVIS ROSSI viajou a Nova York a convite do Council on Foreign
Relations, para participar de seminário
sobre o pós-11 de setembro
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