UOL

São Paulo, domingo, 08 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Fase dois" ainda é possível, rebate cientista político

DA REPORTAGEM LOCAL

Para o cientista político Fábio Wanderley Reis, professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), ainda é cedo para afirmar taxativamente que o governo Luiz Inácio Lula da Silva não fará mais que aprofundar o projeto de Fernando Henrique Cardoso. O jogo não acabou, ele diz, porque até aqui não poderia ser jogado de outra forma.
 

Folha - O que o sr. pensa dos argumentos apresentados por Francisco de Oliveira e Paulo Arantes?
Fábio Wanderley Reis -
Eu não vejo razão para que, tão precocemente, se tenha uma avaliação tão taxativa a respeito da possibilidade da chamada fase dois ou de uma reorientação no rumo do governo. Eu concordo com a idéia de que, obviamente, não se trata de engambelar os investidores internacionais durante alguns meses e depois fazer a revolução, dar uma guinada de 180 graus e ir na direção oposta.
O espaço de manobra é efetivamente estreito, mas, por outro lado, uma política de arrumação da casa bem sucedida pode sim abrir espaços para esforços que sejam eventualmente bem sucedidos.

Folha - Como?
Reis -
As reformas, em particular, me parece que são um ponto de inflexão, no qual você pode juntar algo que é percebido positivamente pelo ambiente financeiro internacional e que, por outro lado, pode também ser deflagrador de algo positivo no sentido de criar um governo com maiores recursos, com melhores condições fiscais, com melhores condições de atuação eficiente na faixa social.

Folha - Dentro do prazo de um mandato dá para escapar à mera continuidade do governo Fernando Henrique Cardoso?
Reis -
Sim, dá para escapar, no sentido de pelo menos começar uma dinâmica diferente. E deflagrar um processo que possa ser mais consistente do que coisas meramente simbólicas como o Fome Zero ou o que for.

Folha - Há recursos para crescimento?
Reis -
As condições são, sem dúvida, difíceis. Seguramente há constrições que impõem que se conte com poupança externa.
O ponto fundamental em relação à avaliação dessa posição que foi manifestada é de que você não dispõe de outra alternativa. Um governo Lula que começasse tentando fazer o que quer que fosse de diferente dessa administração da crise que já vinha, dessa arrumação da casa, teria criado uma catástrofe. Havia uma imposição. Nós estávamos dentro de uma emergência muito clara, o país estava caminhando para uma crise séria. Não faz sentido dizer que o jogo acabou, sugerindo que o jogo poderia ser jogado de outra maneira, quando isso não é verdade.



Texto Anterior: Chico de Oliveira: "Programa de Serra era melhor que o de Lula"
Próximo Texto: Mercado guerrilheiro: Brasileiros abastecem as Farc na fronteira
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.