São Paulo, terça-feira, 08 de junho de 2004

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TODA MÍDIA

Ressurreição

NELSON DE SÁ

Dez anos depois de deixar o Ministério da Fazenda, apanhado dizendo que escondia más notícias para ajudar a eleger FHC, Rubens Ricupero passou pela purgação e vai se tornando unanimidade nacional.
Com o encontro da entidade de comércio que preside, ligada à ONU, é ele o protagonista da semana no país e no mundo "em desenvolvimento".
Ontem, ensinava na cobertura da Globo e dos sites aquilo que o Brasil deve fazer para crescer no comércio mundial: apostar em inovação e qualidade. Citou o café:
- Apesar de ser um dos maiores exportadores, o Brasil não tem uma marca internacional de café.
Não falava da concorrência da Colômbia, mas daquela feita por Itália e Alemanha, "os maiores exportadores mundiais de café beneficiado".
- A qualidade não é só a alta tecnologia, às vezes é a embalagem, às vezes é vender carne desossada em vez de bruta.
Ele pode soar vago, mas o problema é bem presente.
O site do "Wall Street Journal" noticiou ontem que o preço da soja nos Estados Unidos subiu com a perspectiva de maior demanda da China.
EUA e Argentina poderiam receber mais pedidos chineses "em lugar do Brasil", segundo o jornal, devido à baixa qualidade da soja entregue por exportadores brasileiros à China.
Aqui, prossegue a resistência.
Enquanto Ricupero pedia soja de qualidade, Germano Rigotto, governador do mesmo Rio Grande do Sul cujo porto contaminou a soja enviada à China, insistia na RBS que são os chineses os errados.
 
O encontro a ser realizado pela ONU em São Paulo vai muito além da soja ou do café. Em entrevista ao "Financial Times", Ricupero falou em negociações "ambiciosas" entre os países em desenvolvimento.
Segundo o "FT", o slogan do evento é "uma nova geografia global", da frase de Lula na China. O "Valor" destacou a "negociação sul-sul". Organizadora do encontro, Lakshmi Puri falou em "revolução silenciosa".
O entusiasmo maior, até agora, está na Índia. O novo governo indiano fez reunião ontem, segundo o jornal "Financial Express", para tratar do encontro em São Paulo.
Deve, segundo o "The Times of India", sublinhar "a luta contra os subsídios das nações desenvolvidas". Segundo o "The Hindu", o país vai, ao lado de Brasil, China e África do Sul, "adotar uma postura agressiva".

INAUGURAÇÃO

Jornal Nacional/Reprodução
A fachada vermelha da Farmácia Popular, no JN


O Jornal Nacional foi contido. Os telejornais locais e rádios até que se esforçaram em registrar informações de serviço sobre as unidades da tal Farmácia Popular. Mas com dois assessores do ministro da Saúde "sob suspeita" de fraude e a novidade do arrombamento, o caso era incontornável. Após breve menção à farmácia, a Globo voltou a entrevista com Humberto Costa, ontem de manhã, ao escândalo. Uma pergunta:
- O senhor não desconfiou que os seus dois auxiliares diretos pudessem ter atitudes assim?
E foi disso que o ministro mais falou na Jovem Pan etc. Até na campanha de vacinação, no fim de semana, havia a sombra do escândalo na cobertura.
Quanto a Lula e Marta Suplicy, sobrou ontem falar sem parar que a distribuição das unidades não segue "critério político". No JN, Lula surgiu ao lado de um pefelista. Mas Boris Casoy, na Record, não se convenceu.

Paz e amor
O programa de ontem do PSDB, quase todo voltado a José Serra, confirmou o que vinham avisando alguns comentaristas. Em tom pastel, a propaganda apresentou "Serrinha paz e amor", um esforço publicitário de tornar a imagem do tucano agradável aos eleitores.
Foi terminar o programa e veio a resposta da sorridente Marta Suplicy, em comerciais sobre transporte público.

500 anos
Depois do documentário na BBC, no domingo foi o "Miami Herald" que dedicou um longo e favorável dossiê ao MST.
O enviado do jornal dos EUA ao Pontal disse que "os quase 500 anos de leis a favor dos ricos estão no coração da violência em torno da terra". José Rainha ganhou perfil, intitulado:
- Conforme obtém sucesso, líder carismático se torna alvo.

Ganha todas
O ministro da Fazenda está em estado de graça, pelo noticiário. Antonio Palocci anunciou para a internet, como um oráculo, que "o Brasil já está no quarto trimestre de crescimento".

Desafio agrícola
Já o ministro da Agricultura está cada vez mais à vontade no discurso lulista. Na Globo News, dizia Roberto Rodrigues:
- O maior desafio do século 21 é reduzir as diferenças entre os ricos e os pobres.

Casa de horrores
Garotinho, afinal, assumiu o problema. Ele surgiu nos canais de notícia, ao vivo, para falar da "situação de emergência".
Foi após dois dias de cobertura pesada da Globo, do Fantástico ao RJTV, que teve até "câmera escondida" na Casa de Custódia -a "casa de horrores".

A REAÇÃO

www.theory.org/Reprodução
Na web, uma charge amena sobre a Microsoft


A reação à defesa do software livre pelo Brasil prossegue. O site do "New York Times" dizia ontem que no Brasil, "com apoio do governo, o software livre já ganha ritmo" também fora da administração pública.
O site Carta Maior, que é hospedado no UOL, noticiou que a Microsoft, maior prejudicada, estaria "lançando uma ofensiva política para barrar o software livre no Brasil". Um especialista, segundo o site, "alertou que os monopólios estão se preparando para financiar campanhas" na eleição deste ano.
Mas a multinacional sofreu um revés de imagem. O "Financial Times" destacou em sua home a informação -que "chocou o setor no mundo"- de que ela tentou absorver recentemente a maior empresa de software da Alemanha, ampliando seu domínio global.


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