|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Dantas diz a senadores que PT pressionou Opportunity
Banqueiro afirma na CCJ que sócio foi sondado para contribuir com o partido
"Houve extorsão. Pode não ter sido bem-sucedida, mas houve extorsão", afirma Arthur Virgílio; "Essa é uma conclusão do sr.", diz Dantas
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O banqueiro Daniel Dantas
(Opportunity) confirmou ontem, em audiência na Comissão
de Constituição e Justiça do Senado, que seu ex-sócio Carlos
Rodenburg foi procurado pelos
petistas Ivan Guimarães e Delúbio Soares, ex-tesoureiro do
PT, em ocasiões distintas, para
que a instituição contribuísse
com o partido.
Dantas preferiu não usar termos como "extorsão" ou "achaque", no entanto afirmou que
foi até os Estados Unidos para
consultar o Citibank sobre o assunto. Na época, o Opportunity
tinha um acordo com o Citi que
permitia a Dantas controlar a
Brasil Telecom.
De acordo com Dantas, pouco antes de o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva tomar posse, Guimarães, que depois assumiria o Banco Popular do Brasil, procurou Rodenburg e lhe
entregou uma caixa vermelha
com um "kit" do PT.
Dantas disse que Rodenburg
não entendeu o gesto como um
pedido de doação e devolveu a
caixa ao partido. Segundo o
banqueiro, o PT não teria gostado disso.
Meses depois, quando já estava no governo, Delúbio teria
procurado Rodenburg. O então
tesoureiro teria dito que o partido enfrentava uma dificuldade financeira da ordem de US$
50 milhões: "Somos administradores de fundos, não seria
possível atender a esse pleito",
afirmou Dantas. Segundo ele, o
Citibank lhe enviou uma carta
dizendo que não aceitaria fazer
pagamentos ao partido. O banqueiro disse não ter feito doação ao PT.
"Houve extorsão. Pode não
ter sido bem-sucedida, mas é
claro que houve extorsão", disse o senador Arthur Virgílio
(PSDB-AM). "Essa é uma conclusão do senhor", replicou
Dantas. Durante a sessão, os senadores do PFL José Agripino
(RN), Edson Lobão (MA) e Heráclito Fortes (PI) defenderam
Dantas ou levantaram pontos
favoráveis à sua defesa.
Dantas contou também no
Senado que foi procurado pelo
então ministro José Dirceu
(Casa Civil). De acordo com sua
fala na audiência, o ministro o
chamou para uma conversa no
Palácio do Planalto.
Dirceu teria dito que o governo queria resolver a disputa entre os fundos de pensão e o Opportunity pelo controle da Brasil Telecom e que o presidente
do Banco do Brasil na época,
Cássio Casseb, teria sido escolhido pelo governo para tratar
do assunto.
Dantas contou que teve encontro com Casseb na sede do
BB e que o tom da conversa foi
duro. Segundo o banqueiro,
Casseb teria dito a ele para que
o Opportunity abrisse mão do
controle da Brasil Telecom.
"Perguntei o que receberia em
troca. Ele disse: "Nada.'"
"O tom do Delúbio não era de
intimidação, ao contrário do
Casseb, nitidamente intimidatório", disse. Dantas relatou
conversas que diz ter tido com
o presidente do Citibank no
Brasil, Gustavo Marin.
O dirigente do banco americano teria contado a Dantas
que o governo vinha pressionando o Citibank por conta de
sua associação com o Opportunity. Segundo ele, por conta
dessas pressões, o Citibank teria desfeito o acordo com o Opportunity, que perdeu o controle da Brasil Telecom.
Investigação
Dantas voltou a negar que tenha responsabilidade na contratação da Kroll pela Brasil
Telecom. Admitiu, porém, que
participou de reuniões com o
fundador da empresa, Jules
Kroll, e de conferências telefônicas com membros daquela
agência de investigação. O banqueiro contou que chegou a recomendar a Jules que procurasse o governo para dizer que a
Kroll não havia espionado autoridades do país.
Questionado pelo senador
Eduardo Suplicy (PT-SP) se
não seria responsável pelo trabalho da Kroll, já que a agência
fora contratada pela Brasil Telecom na gestão do Opportunity, disse: "Por esse caso, o
presidente Lula seria o responsável pelo mensalão. O mensalão ocorreu no governo Lula".
Outro lado
Procurado pela Folha, o ex-presidente do Banco do Brasil
Cássio Casseb disse que não
iria comentar nada sobre Daniel Dantas, Opportunity ou
Brasil Telecom. O Citibank informou que não não podia comentar o caso uma vez que tem
um processo na Justiça americana contra Dantas.
No ano passado, em depoimento à CPI dos Correios, o
presidente do Citi no Brasil,
Gustavo Marin negou que tivesse sido pressionado por autoridades brasileiras a desfazer
o acordo com o Opportunity.
Texto Anterior: Quem pratcou vandalismo vai pagar, diz Lula Próximo Texto: Advogado de Dirceu atuou para Dantas no caso Kroll Índice
|