São Paulo, quinta-feira, 08 de agosto de 2002

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NO AR

O maduro

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

Lula tomou de Ciro Gomes a posição de entrevistado do dia, saltando da Rede Globo à rádio Bandeirantes e de volta depois à Globo.
A cada nova entrevista, "Lula reforça o tom pragmático", no dizer da rádio. Nas palavras do próprio petista, "o PT é um partido maduro".
Falando aos âncoras ultraconservadores das manhãs na Bandeirantes, Salomão Ésper e José Paulo de Andrade, Lula chegou a comentar:
- O Maluf diz que amadureci e que pode votar em mim. Antigamente eu recusaria, hoje não. Ele entendeu que votar em mim é a atitude sensata.
E Orestes Quércia? Lula respondeu a Ana Paula Padrão e Franklin Martins, no Jornal da Globo:
- O Quércia o tempo inteiro fez oposição ao governo.
No Globo Rural, o petista foi além e prometeu "investimentos pesados" para a "agricultura empresarial".
Mais algumas entrevistas e ele ainda elogia a UDR.
 
Ciro vai na direção oposta. Quer mostrar que é de esquerda, ele que acredita -afirmou no debate- que ACM é um político de centro-esquerda.
Foi-se então o candidato a uma universidade em Brasília. Mas chegou e já foi vaiado, como relatou a CBN.
Questionado se apóia cotas para negros, foi contra. Afirmou que "ninguém pode tirar o caráter meritocrático, de entrar quem tem mérito". Um jovem negro tentou fazer uma pergunta. Ciro não permitiu:
- Dar o microfone só porque é negro, isso é demagogia. Só porque é negro, fica com peninha... Vamos seguir as regras. Discuto com você depois.
Não queria o diálogo diante das câmeras. O estudante não gostou nada do tom de Ciro, da "peninha", e foi embora.
 
José Serra demorou semanas para anunciar seu programa de governo. E errou não só o dia, mas até o horário.
No exato momento em que ele divulgou as propostas, o governo fechou o acordo com o FMI e praticamente não se falou mais de outra coisa, nos telejornais noturnos. Ou melhor, falou-se, no Jornal Nacional.
William Bonner, dizendo que "até agora só Serra e Lula apresentaram programa", iniciou uma longa cobertura do projeto -com atenção especial para a segurança pública e os milhões de empregos.
Mais tarde, avisou-se, haveria uma coincidente entrevista ao Jornal da Globo.
 
Bonner, vale registrar, fechou o JN com editorial furioso contra "o investigador" do caso de Tim Lopes, questionando de quebra toda a polícia do Rio. É o poder em ação.



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