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EMPRESAS
Conglomerado tem mais da metade da receita publicitária do país; Globopar tenta reestruturar dívida de US$ 1,3 bi
Globo fatura R$ 4,5 bi e emprega 20 mil
ELVIRA LOBATO
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
Um documento das Organizações Globo apresentado ao mercado financeiro internacional em
2002 dá a dimensão do império de
comunicação construído por Roberto Marinho. O grupo absorveu
52% de toda a receita publicitária
do mercado brasileiro em 2001
(US$ 4,2 bilhões), o que representou cerca de US$ 2,18 bilhões.
A presença manteve-se nos
mesmos patamares deste então.
De acordo com levantamento do
projeto Inter-Meios, da publicação "Meio e Mensagem", o mercado publicitário brasileiro somou cerca de R$ 9,5 bilhões em
2002, dos quais 60% foram para
as emissoras de televisão e TVs
pagas. Calcula-se que a Globo e
suas afiliadas ficaram com entre
60% e 65% da verba total direcionada para as TVs.
O conglomerado de mídia emprega hoje 20 mil profissionais e
fatura R$ 4,5 bilhões por ano. É
um dos maiores grupos de comunicação do mundo.
O pilar principal do grupo é a
TV Globo, surgida em 1965 com o
canal 4 no Rio de Janeiro. A concessão do canal foi outorgado à
família pelo ex-presidente Juscelino Kubitschek, em 1957, e levou
oito anos para ir ao ar.
Hoje, a Globo cobre praticamente todo o território nacional.
Com uma rede formada por 115
emissoras geradoras e afiliadas, é
vista em 99,84% dos 5.043 municípios. A empresa calcula que
concentra, no momento, 69% da
audiência no horário nobre e 75%
do total das verbas publicitária no
mercado de TV aberta, com
transmissão gratuita.
Até o ano passado, o peso da Rede Globo podia ser medido também pelo número de concessões
de emissoras de televisão que ela
detinha. A família Marinho chegou a acumular participações
acionárias em 32 emissoras de
TV, mas a crise financeira obrigou-a a rever esta política.
No ano passado, o grupo colocou 27 emissoras à venda. Segundo as Organizações Globo, 21
emissoras já foram transferidas
para terceiros e as outras seis estão em fase final de negociação de
venda. As cinco emissoras mantidas são consideradas a espinha
dorsal da rede (Rio, São Paulo,
Belo Horizonte, Recife e Brasília).
Mídia impressa
Nos últimos cinco anos, as Organizações Globo avançaram
também sobre o mercado de mídia impressa. Em 1998, a família
Marinho surpreendeu com o lançamento quase simultâneo do
jornal "Extra", no Rio de Janeiro,
e da revista "Época", em São Paulo. Os dois lançamentos consumiram investimentos estimados na
ocasião em R$ 100 milhões.
Em 2000, o grupo lançou, em
sociedade com a Empresa Folha
da Manhã S.A (que edita a Folha),
o jornal "Valor Econômico", com
investimento conjunto de US$ 50
milhões.
Em 2001, comprou o "Diário
Popular", que pertencia ao ex-governador de São Paulo Orestes
Quércia. Mudou o título para
"Diário de S. Paulo".
O pilar do grupo no segmento
de mídia impressa continua sendo "O Globo", lançado em 29 de
julho de 1925 por Irineu Marinho.
Segundo o IVC, é o segundo
maior jornal do país (a liderança
pertence à Folha) e teve uma circulação média diária de 254.386
exemplares em junho.
Sucessão
As Organizações Globo estão
preparadas há cinco anos para a
falta de Roberto Marinho. Segundo analistas, a morte do empresário não deverá provocar alterações na rotina da conglomerado,
porque a divisão de poder entre
os herdeiros foi estabelecida em
uma reestruturação feita em 1998.
Na época, os herdeiros Roberto
Irineu, João Roberto e José Roberto Marinho deixaram as funções
executivas e passaram a se dedicar às ações estratégicas. Roberto
Marinho ficou como presidente
do grupo e os filhos assumiram as
três vice-presidências criadas.
A mudança, segundo explicações da época, buscou diferenciar
a empresa da estrutura tradicional familiar, deixando a gestão
executiva para profissionais.
A estrutura montada em 98
mantém-se até hoje. No ano passado, o grupo esboçou uma reestruturação mais ampla, criando a
Globo S.A. A nova holding passaria a controlar as emissoras de rádio, televisão e jornais que, por
força da lei, eram mantidas como
empresas isoladas.
A crise financeira na qual o grupo já estava mergulhado abortou
o projeto. Quatro meses depois de
os herdeiros de Roberto Marinho
anunciarem a criação da Globo
S.A., a holding Globopar -que
detém a participação acionária na
Net Serviços, ex-Globo Cabo -
comunicou a suspensão do pagamento de sua dívida (de US$ 1,365
bilhão), dando início a uma longa,
e ainda inconclusa, renegociação
com credores.
Na sequência, a Net Serviços se
viu obrigada também a suspender
o pagamento de suas dívidas, por
incapacidade financeira de honrar os compromisso.
A crise do império
Na estratégia de diversificação
das atividades do grupo, iniciada
nos anos 90, está a origem da crise
financeira. A diversificação começou com a entrada no mercado de
TV a cabo, inicialmente com participações minoritárias e, depois,
assumindo o controle acionário
das operações.
Na época, a avaliação dos especialistas era que o mercado brasileiro atingiria 6 milhões de assinantes de TV paga no ano 2000. A
Globo Cabo (hoje Net), esperava
chegar a 2001 com 3,5 milhões de
assinantes. Hoje ela tem 1,3 milhão.
A expansão da rede da Net foi financiada com recursos captados
no exterior. As sucessivas crises
cambiais brasileiras e a queda de
poder aquisitivo da população
atingiram em cheio o projeto. De
1996 a 2002, a Net Serviços acumulou R$ 3 bilhões de prejuízos.
A situação da empresa só não é
pior graças a um esforço de capitalização feito em 2002 que contou com a ajuda estatal do BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). A
participação do banco no capital
da empresa saltou de aproximadamente 4% para 22,1%.
No primeiro trimestre deste ano
a empresa conseguiu obter lucro
(R$ 42,8 milhões), atribuído basicamente ao efeito do movimento
de valorização do real em relação
ao dólar registrado este ano.
A Globopar, principal holding
do grupo, apresentou no ano passado prejuízo de R$ 5 bilhões. A
cifra é maior que os lucros somados do Bradesco e do Itaú, os dois
maiores bancos privados do país
no mesmo período (R$ 4,2 bilhões).
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