São Paulo, segunda-feira, 08 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PT NO DIVÃ

Resolução, aprovada pelo Diretório Nacional do partido, não pune renúncia e não prevê afastamento de possíveis envolvidos em escândalo

Dirceu endossa texto sobre futuro do PT

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

MARCELO SALINAS
DA REDAÇÃO

A resolução aprovada pelo PT no sábado, menos autocrítica em relação ao papel do próprio partido na crise política e responsabilizando parte da imprensa e setores da direita pela conturbação do cenário, passou pelo crivo do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
Segundo a Folha apurou, a redação do documento, que define a posição oficial da legenda sobre a situação atual e futura do partido, teve influência do presidente da legenda, Tarso Genro, de Marco Aurélio Garcia, assessor de política externa da Presidência, e de Aloizio Mercadante, líder do governo no Senado, que contribuiu na concepção das teses econômicas do texto final.
Antes de ser apresentada para votação, a resolução foi endossada por José Dirceu, que foi presidente do PT e é um dos principais nomes do Campo Majoritário, tendência dominante do partido.
O teor do texto desagradou à esquerda petista, que esperava uma posição mais crítica com relação aos erros e mais dura quanto a punição a possíveis crimes cometidos pelo partido.
Além disso, essa ala pedia a suspensão das atividades partidárias dos parlamentares envolvidos no escândalo do "mensalão", o que não foi aceito.
O texto aprovado pela maioria (29 de 56 votos) chama mais atenção pelo que falta nele do que pelo que contém. A resolução não faz nenhuma menção a crimes eleitorais praticados pelo partido.
A prática do chamado "caixa dois" foi admitido pelo ex-tesoureiro Delúbio Soares, que teve sua filiação partidária suspensa no sábado, como sendo um aporte de "recursos não contabilizados".
Desde então, membros do partido vêm tentando justificar a contração de empréstimos avalizados pelo publicitário Marcos Valério de Souza ao PT e saques feitos das contas de suas empresas, como retiradas "não contabilizadas" para pagar custos e dívidas de campanha eleitoral.
O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva justificou de maneira implícita o caixa dois confessado pelo ex-tesoureiro de seu partido ao dizer, "que o PT fez do ponto de vista eleitoral o que é feito no Brasil sistematicamente".
A proposta apresentada pelo bloco de esquerda, rejeitada no votação, condenava o argumento de tratar crimes eleitorais, mais brandos, como "informalidades de campanha" e atacava a justificativa de que são "práticas correntes em todos os partidos".
Ao mesmo tempo em que critica a "blindagem" da economia, o texto aprovado elogia os resultados econômicos obtidos pelo governo Lula. A crítica, no entanto, foi mais discreta que os elogios.
O partido, no texto, decidiu posicionar-se contra a tese da estabilidade pela via do aumento do superávit primário, que, segundo diz a resolução, gera "maiores restrições orçamentárias".
O documento pede também mais agilidade na execução orçamentária (liberação dos recursos previstos no Orçamento). Por outro lado, elogia o governo Lula, que "fez o Brasil voltar a crescer após anos de estagnação, criou mais de três milhões de empregos formais". O texto também cita como conquistas os recordes de exportação e a "reversão da fragilidade das contas públicas".
Outro tema que não consta na resolução aprovada, considerada "genérica demais" pelo deputado Ivan Valente (SP) e "morna" pelo deputado Chico Alencar (RJ) a possibilidade de "punição", com perda de legenda, a deputados petistas que renunciarem ao mandato para escapar de uma eventual cassação. A "punição" com perda da legenda foi defendida na proposta do bloco de esquerda.

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