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Igreja barra consulta da Vale em Aparecida e acolhe na Sé
Votação é tema do Grito dos Excluídos, organizado por religiosos, MST e sindicatos
No santuário, arcebispo proíbe plebiscito informal; em São Paulo, uma urna foi levada para o altar onde a celebração era realizada
Moacyr Lopes Junior/Folha Imagem
![](../images/n0809200701.jpg) |
Padre Johanson com cartaz de plebiscito sobre Vale do Rio Doce em frente à catedral da Sé |
FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM APARECIDA
Dois dos principais locais onde o 13º Grito dos Excluídos foi
realizado tiveram atos diferentes ontem. Enquanto o arcebispo de Aparecida, dom Raymundo Damasceno Assis, proibiu a
realização dentro do Santuário
Nacional do plebiscito informal sobre a anulação do leilão
da Vale do Rio Doce, na catedral da Sé, no centro de São
Paulo, uma urna foi levada ao
altar onde se realizava a missa.
A promoção do plebiscito foi
o ponto central da manifestação organizada pelo Grito dos
Excluídos, organizado por setores sociais da Igreja Católica
com apoio de MST, ONGs, sindicatos e associações de sem-teto. A Vale foi privatizada em
1997, no governo FHC.
Em Aparecida, d. Raymundo
impediu que cartaz contrário à
privatização fosse levado ao altar. Ele disse que foi uma decisão pessoal, porque a assembléia da CNBB não assumiu posição sobre o assunto.
"Essa é uma casa de oração,
uma casa de romaria. Nós respeitamos a posição de qualquer
pessoa que venha rezar no santuário. Nós não fazemos opção
política ou partidária aqui dentro", disse. Segundo a assessoria do Santuário, cerca de 100
mil pessoas foram à basílica.
Em São Paulo, a missa foi
realizada por d. Pedro Luiz
Stringili, bispo auxiliar da arquidiocese e presidente da comissão episcopal pastoral da
CNBB. Até anteontem, a previsão era que o arcebispo d. Odilo
Scherer comandasse o culto.
Segundo d. Pedro, a ausência se
deu por problemas na agenda.
"A gente percebe o quanto é
importante o povo ter a sua manifestação", disse d. Pedro a
jornalistas. Ele também afirmou que, com a urna presente
no altar, "o povo quis mostrar
que está acontecendo esse plebiscito". "Tudo que o povo faz
representa um símbolo daquilo
que quer. Ou seja, uma nação
soberana, mais justa, que a riqueza seja distribuída e não fique nas mãos do capital privado", completou, dizendo que
pastorais sociais "reconhecem
que o preço pela qual a Vale foi
vendida é irrisório".
D. Pedro disse ainda que o
Grito dos Excluídos "certamente deve ter gente de todas
as tendências ideológicas. Mas
vamos dizer que é uma tendência popular". Em agosto, d. Odilo Scherer reprovou o fato de
ato do movimento "Cansei" ter
sido agendado na catedral sem
sua autorização. O encontro foi
transferido para a praça da Sé.
D. Odilo não foi localizado ontem pela Folha.
Questionado sobre possível
diferença de tratamento, d. Pedro afirmou: "O arcebispo
achou que aquele ato ficaria
melhor na praça. E de fato ficou. Era uma manifestação
muito mais cívica do que religiosa. E muito mais homogênea. De um grupo. Enquanto o
Grito dos Excluídos é para todo
mundo. Um critério é o religioso e outro critério é aquilo que
é abrangente para todos".
Após a missa, um trio elétrico se dirigiu ao museu do Ipiranga. Segundo a PM, havia
cerca de 5.000 pessoas, 2.000 a
mais que em 2006. O frei franciscano Johanes Gierse, nascido na Alemanha, andava com
cartazes pendurados no corpo
pela reestatização da Vale. "A
gente pede que as pessoas votem na cédulas dizendo não."
"Sabia que a Vale tinha sido
vendida, mas da história real,
de que forma ela foi leiloada, fiquei sabendo faz pouco tempo", disse Eduardo Ferreira, do
Movimento Nacional dos Catadores de Material Recicláveis.
Em cima do trio elétrico, o cantor Carlão tocava versão da
marchinha carnavalesca: "Ei,
você aí/ devolve a Vale aí. Devolve não/ você vai ver/ Que
grande confusão".
Apesar de o PT ter apoiado o
plebiscito em seu congresso
poucos militantes estiveram
no ato. O partido e Lula foram
criticados. "Em 2006, uma das
diferenças entre PSDB e PT era
a questão das privatizações. O
Lula fazia crítica a elas", disse
Soraya Soriano, do MST. A
CUT não participou do ato,
apesar de ser uma das organizadoras da consulta. "Não vamos deixar um palco para o
PSTU arrotar política", disse o
diretor Antonio Carlos Spis.
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