São Paulo, sábado, 08 de setembro de 2007

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Igreja barra consulta da Vale em Aparecida e acolhe na Sé

Votação é tema do Grito dos Excluídos, organizado por religiosos, MST e sindicatos

No santuário, arcebispo proíbe plebiscito informal; em São Paulo, uma urna foi levada para o altar onde a celebração era realizada

Moacyr Lopes Junior/Folha Imagem
Padre Johanson com cartaz de plebiscito sobre Vale do Rio Doce em frente à catedral da Sé


FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM APARECIDA

Dois dos principais locais onde o 13º Grito dos Excluídos foi realizado tiveram atos diferentes ontem. Enquanto o arcebispo de Aparecida, dom Raymundo Damasceno Assis, proibiu a realização dentro do Santuário Nacional do plebiscito informal sobre a anulação do leilão da Vale do Rio Doce, na catedral da Sé, no centro de São Paulo, uma urna foi levada ao altar onde se realizava a missa.
A promoção do plebiscito foi o ponto central da manifestação organizada pelo Grito dos Excluídos, organizado por setores sociais da Igreja Católica com apoio de MST, ONGs, sindicatos e associações de sem-teto. A Vale foi privatizada em 1997, no governo FHC.
Em Aparecida, d. Raymundo impediu que cartaz contrário à privatização fosse levado ao altar. Ele disse que foi uma decisão pessoal, porque a assembléia da CNBB não assumiu posição sobre o assunto.
"Essa é uma casa de oração, uma casa de romaria. Nós respeitamos a posição de qualquer pessoa que venha rezar no santuário. Nós não fazemos opção política ou partidária aqui dentro", disse. Segundo a assessoria do Santuário, cerca de 100 mil pessoas foram à basílica.
Em São Paulo, a missa foi realizada por d. Pedro Luiz Stringili, bispo auxiliar da arquidiocese e presidente da comissão episcopal pastoral da CNBB. Até anteontem, a previsão era que o arcebispo d. Odilo Scherer comandasse o culto. Segundo d. Pedro, a ausência se deu por problemas na agenda.
"A gente percebe o quanto é importante o povo ter a sua manifestação", disse d. Pedro a jornalistas. Ele também afirmou que, com a urna presente no altar, "o povo quis mostrar que está acontecendo esse plebiscito". "Tudo que o povo faz representa um símbolo daquilo que quer. Ou seja, uma nação soberana, mais justa, que a riqueza seja distribuída e não fique nas mãos do capital privado", completou, dizendo que pastorais sociais "reconhecem que o preço pela qual a Vale foi vendida é irrisório".
D. Pedro disse ainda que o Grito dos Excluídos "certamente deve ter gente de todas as tendências ideológicas. Mas vamos dizer que é uma tendência popular". Em agosto, d. Odilo Scherer reprovou o fato de ato do movimento "Cansei" ter sido agendado na catedral sem sua autorização. O encontro foi transferido para a praça da Sé. D. Odilo não foi localizado ontem pela Folha.
Questionado sobre possível diferença de tratamento, d. Pedro afirmou: "O arcebispo achou que aquele ato ficaria melhor na praça. E de fato ficou. Era uma manifestação muito mais cívica do que religiosa. E muito mais homogênea. De um grupo. Enquanto o Grito dos Excluídos é para todo mundo. Um critério é o religioso e outro critério é aquilo que é abrangente para todos".
Após a missa, um trio elétrico se dirigiu ao museu do Ipiranga. Segundo a PM, havia cerca de 5.000 pessoas, 2.000 a mais que em 2006. O frei franciscano Johanes Gierse, nascido na Alemanha, andava com cartazes pendurados no corpo pela reestatização da Vale. "A gente pede que as pessoas votem na cédulas dizendo não."
"Sabia que a Vale tinha sido vendida, mas da história real, de que forma ela foi leiloada, fiquei sabendo faz pouco tempo", disse Eduardo Ferreira, do Movimento Nacional dos Catadores de Material Recicláveis. Em cima do trio elétrico, o cantor Carlão tocava versão da marchinha carnavalesca: "Ei, você aí/ devolve a Vale aí. Devolve não/ você vai ver/ Que grande confusão".
Apesar de o PT ter apoiado o plebiscito em seu congresso poucos militantes estiveram no ato. O partido e Lula foram criticados. "Em 2006, uma das diferenças entre PSDB e PT era a questão das privatizações. O Lula fazia crítica a elas", disse Soraya Soriano, do MST. A CUT não participou do ato, apesar de ser uma das organizadoras da consulta. "Não vamos deixar um palco para o PSTU arrotar política", disse o diretor Antonio Carlos Spis.


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