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Ordem da Santa Cruz tem 2.000 seguidores
DA ENVIADA AO ALTO SOLIMÕES
Em uma vila isolada no meio da
floresta Amazônica, vivem 2.000
seguidores da Missão Cruzada
Católica Apostólica Evangélica,
também conhecida como Ordem
da Santa Cruz. A seita é comandada com mãos-de-ferro por Walter
de Souza Neves, o pastor Walter,
que se intitula representante de
Deus na terra.
O estatuto da seita define assim
os poderes do líder: "Sua palavra é
a palavra de Deus. Só ele pode
perdoar. O que ele ligar na Terra,
será ligado no céu".
A seita tem uma estrutura paralela de governo e de polícia. A segurança é feita por um "capitão" e
dez "soldados" uniformizados de
branco, com uma faixa diagonal
verde e amarelo no peito.
A comunidade foi criada em
1974 com o nome de Vila Alterosa
UPA (União, Paz e Amor) de Jesus. Os moradores vivem da agricultura e doam 10% da produção
para a igreja. O pastor tem direito
a 20% do dízimo.
Adultos e crianças são obrigados a assistir cultos diários às 4h
da manhã e às 5h da tarde.
Infrações são punidas com penitências e castigos. O consumo
de bebida alcóolica é punido com
sete dias de penitência: rezar ajoelhado, aos pés da cruz, durante
uma hora e meia pela manhã e
por igual período à tarde. Para o
adultério, são sete meses.
A vila fica na margem do rio Juí,
próximo da fronteira com a Colômbia. Em volta da vila só há
água e selva. A cidade mais próxima é Santo Antônio do Içá e está a
24h de viagem por barco.
O estatuto confere poder total e
vitalício ao pastor. Todos os
membros têm direito de eleger e
de ser eleito para os cargos da cúpula administrativa. Os dirigentes
atuais estão nos cargos desde
1993.
Com 964 eleitores, a vila é o segundo maior colégio eleitoral do
município de Santo Antônio do
Içá. O estatuto proíbe propaganda política na vila e diz que o pastor escolherá o candidato que terá
o apoio da congregação.
Seis moradores da vila se candidataram a vereador de Santo Antônio do Içá nesta eleição. O pastor apoiou dois: seu genro Ocenir
Gomes (PL) e o agente de saúde
Raimundo Neves (PDT).
Homossexuais e prostitutas são
proibidos de entrar na vila. Os
moradores não podem receber visitas duradouras. Os homens só
podem se ausentar da vila por
mais de 30 dias com autorização.
São proibidos usar de ouro nos
dentes e até de entrar sozinhos na
mata para caçar.
As mulheres não podem usar
maquiagem, pintar as unhas, nem
viajar sem a companhia dos maridos. Meninos e meninas estudam
em salas separadas. Só é permitido cantar hinos religiosos.
Em entrevista à Folha, pastor
Walter afirmou acreditar na superioridade masculina e que as mulheres seriam a origem do pecado.
Por isso, quando elas dão à luz, ficam proibidas de frequentar a
igreja até se "purificarem".
Walter Neves tem filhos e se
converteu à seita em 1978. Moreno, com traços indígenas, ele não
se deixa fotografar. Disse que antes de se tornar religioso foi construtor de embarcações no município de Benjamim Constant, próximo de Tabatinga.
A Ordem da Santa Cruz foi fundada pelo mineiro José Francisco
da Cruz, no início dos anos 70. Semi-analfabeto, ele acreditou ter
sido visitado pelo Espírito Santo,
que lhe teria dado a missão de divulgar o Evangelho.
Em janeiro de 1962, ele deixou
Minas Gerais e, durante 12 anos,
percorreu o Paraguai, Uruguai,
Argentina, Chile, Bolívia e Peru.
Irmão José, como ficou conhecido, chegou a Tabatinga em 1974,
acompanhado de 118 brasileiros.
Numa viagem que durou dois
anos, o grupo navegou pelos rios
Solimões e Içá e acabou por instalar-se na margem do Juí. Irmão
José morreu em 1982.
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