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JANIO DE FREITAS
O erro na contagem
A inexplicada ocorrência na
contagem dos votos de Lula da
Silva, por alguns instantes diminuindo-os até chegarem ao absurdo de 41 mil abaixo de zero,
faz com que a legitimidade eleitoral esteja na dependência de duas
providências indispensáveis do
TSE: o exame rigoroso do programa informático de apuração,
particularmente dos votos para a
Presidência, e a recontagem total
desses votos.
A atitude do TSE diante do problema é previsível. O autoritarismo que o preside ficou bem exposto, publicamente, na prepotência com que o ministro Nelson
Jobim censurou, a meio de suas
tergiversações na "entrevista" de
domingo à noite, a correta pergunta sobre a contradição entre o
recurso à eletrônica e a lentidão
que prejudicou as eleições.
A totalização dos votos pode estar exata. Mas disso não há certeza. A incorreção que em instantes
devorou uma multidão, e forçou
a suspensão da contagem por uns
dez minutos, pode ter ocorrido, e
não necessariamente uma só vez,
com menos voracidade e por isso
não ter sido notada. Tanto no caso de Lula da Silva, como de algum dos outros. Tanto fazendo
subtração de votos, como acréscimo.
Uma certeza é resistente a tudo
o que seja dito em contrário: ficou
provado que o programa de totalização dos votos para presidente
é falho e capaz de retirá-los a pelo
menos um candidato.
Não é o caso, e tomara que não
venha a sê-lo, de suspeitas. Ao
menos por ora, o fato não é mais
do que um comprovado defeito
técnico, do qual todo o país pôde
ter conhecimento pela notícia
imediata em TV e rádio, embora
rápida e logo mandada ao conveniente esquecimento. A explicação devida pelo TSE bastou-se em
declarar um "erro de formatação
nos votos de Lula". Mais vago, só
um "pois é". E, no entanto, é isso
mesmo: um erro em programa
que não pode errar sem que isso
fira gravemente o princípio da
democracia e o fundamento do
regime constitucional brasileiro.
A primeira utilização de contagem eletrônica deixou um precedente que deve sobreviver como
alerta para todas as eleições. O
"caso Proconsult" consistiu na
adoção de um programa que, a
cada quantidade determinada de
votos para Leonel Brizola, transferia xis votos dele para Moreira
Franco. A operação envolvera o
próprio Moreira Franco, os técnicos em informática da Proconsult, o SNI e gente da TV Globo,
na qual se realizaram reuniões
das quais Brizola foi avisado por
Homero Caza y Sanchez, então
especialista da TV em marketing.
Mas a difícil descoberta da manipulação, por intermédio da totalização informatizada, foi feita pelo jornalista Procópio Mineira
com César Maia.
A rememoração do "caso Proconsult" não serve para comparação com o ocorrido agora, na contagem pelo TSE. Presta-se para
lembrar o quanto é fácil, em informática, o uso de irrealidades
reais para criar realidades irreais.
Daqui a três semanas, o programa de totalização informatizada
de votos do TSE será incumbido
de dizer quem presidirá o Brasil.
Sua legitimidade para esta incumbência está em questão.
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