São Paulo, sexta-feira, 08 de novembro de 2002

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JANIO DE FREITAS

De erros e acertos

Na cúpula do PT, e mesmo entre parte dos seus aliados, conquistou muitos adeptos a impressão, a que não estaria alheio o próprio Luiz Inácio Lula da Silva, de que a perturbação que repôs o dólar em alta e a Bolsa em queda, anteontem, decorreu de notícia elaborada com má-fé. Trata-se da notícia de que a Prefeitura de São Paulo não faria o pagamento de R$ 3 bilhões da sua dívida com o governo federal.
Os jornais, de modo geral, deram como consequência de "tensão" e "interpretação equivocada do mercado" a idéia de que a Prefeitura de São Paulo estava introduzindo a suspensão petista do pagamento de dívida oficial. Nem tensão nem equívoco, porém. A notícia foi clara e firme na afirmação de um calote, com esta palavra mesmo, dando como comunicado em nota oficial da prefeitura.
O que a nota oficial comunicava era a preferência da prefeitura por não usufruir do direito, proporcionado no acordo da sua dívida, de pagar uma parcela maior e, em retribuição, obter certa vantagem nos juros cobrados. O desembolso, explicava a nota, "paralisaria grande parte dos investimentos e da manutenção da cidade".
Os que deduziram pelo pior, na cúpula petista, e os especuladores tiveram a reação lógica, em suas respectivas óticas. Os primeiros, já esfolados por muitos antecedentes. Os outros, porque são os verdadeiros praticantes do "quanto pior, melhor" sempre atribuído à esquerda, inclusive aos petistas.
Por mais grave que seja considerada, no entanto, a distorção praticada na notícia não decorreu de má-fé. Foi um erro provocado por informação insuficiente para entender e transformar o comunicado em notícia. Talvez com uma pitada de atração pela aparente oportunidade de mais uma tascadinha no PT, porém não para ir além disso -se é que mesmo isso teve alguma influência.
Os riscos do nosso despreparo, como jornalistas, para lidar com tantos assuntos específicos leva, forçosamente, a equívocos muitas vezes tomados como má-fé. Mas nem dos acertos estamos livres. Não digo dos acertos pelos quais somos levados à Justiça para lá provar que eram acertos. Exemplo definitivo e patético dos problemas provocados por alguns acertos está, agora, no jornalismo americano.
Temerosos de problemas semelhantes ao que tiveram quando, na eleição presidencial, anunciaram a vitória de Al Gore sobre Bush, os jornalistas americanos silenciaram o resultado de anteontem, a vitória histórica dos republicanos. E, no entanto, o que os pôs assim à margem de seus deveres de jornalistas, encolhidos na insegurança, foi a notícia correta de que Al Gore era vencedor nos votos - como provou a recontagem, tardia porque Bush já fora proclamado presidente.
E, para o erro ou para o acerto, no jornalismo não adianta invocar a acaciana lição que fica. Não fica.



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