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JANIO DE FREITAS
De erros e acertos
Na cúpula do PT, e mesmo entre parte dos seus
aliados, conquistou muitos
adeptos a impressão, a que não
estaria alheio o próprio Luiz
Inácio Lula da Silva, de que a
perturbação que repôs o dólar
em alta e a Bolsa em queda, anteontem, decorreu de notícia
elaborada com má-fé. Trata-se
da notícia de que a Prefeitura
de São Paulo não faria o pagamento de R$ 3 bilhões da sua
dívida com o governo federal.
Os jornais, de modo geral, deram como consequência de
"tensão" e "interpretação equivocada do mercado" a idéia de
que a Prefeitura de São Paulo
estava introduzindo a suspensão petista do pagamento de dívida oficial. Nem tensão nem
equívoco, porém. A notícia foi
clara e firme na afirmação de
um calote, com esta palavra
mesmo, dando como comunicado em nota oficial da prefeitura.
O que a nota oficial comunicava era a preferência da prefeitura por não usufruir do direito, proporcionado no acordo
da sua dívida, de pagar uma
parcela maior e, em retribuição, obter certa vantagem nos
juros cobrados. O desembolso,
explicava a nota, "paralisaria
grande parte dos investimentos
e da manutenção da cidade".
Os que deduziram pelo pior,
na cúpula petista, e os especuladores tiveram a reação lógica,
em suas respectivas óticas. Os
primeiros, já esfolados por muitos antecedentes. Os outros,
porque são os verdadeiros praticantes do "quanto pior, melhor" sempre atribuído à esquerda, inclusive aos petistas.
Por mais grave que seja considerada, no entanto, a distorção
praticada na notícia não decorreu de má-fé. Foi um erro provocado por informação insuficiente para entender e transformar o comunicado em notícia.
Talvez com uma pitada de
atração pela aparente oportunidade de mais uma tascadinha no PT, porém não para ir
além disso -se é que mesmo isso teve alguma influência.
Os riscos do nosso despreparo,
como jornalistas, para lidar
com tantos assuntos específicos
leva, forçosamente, a equívocos
muitas vezes tomados como
má-fé. Mas nem dos acertos estamos livres. Não digo dos acertos pelos quais somos levados à
Justiça para lá provar que eram
acertos. Exemplo definitivo e
patético dos problemas provocados por alguns acertos está,
agora, no jornalismo americano.
Temerosos de problemas semelhantes ao que tiveram
quando, na eleição presidencial, anunciaram a vitória de Al
Gore sobre Bush, os jornalistas
americanos silenciaram o resultado de anteontem, a vitória
histórica dos republicanos. E,
no entanto, o que os pôs assim à
margem de seus deveres de jornalistas, encolhidos na insegurança, foi a notícia correta de
que Al Gore era vencedor nos
votos - como provou a recontagem, tardia porque Bush já
fora proclamado presidente.
E, para o erro ou para o acerto, no jornalismo não adianta
invocar a acaciana lição que fica. Não fica.
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