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Supremo adia decisão sobre Cunha Lima
Pedido de vistas suspendeu a sessão, que teve um bate-boca entre Marco Aurélio Mello e o relator Joaquim Barbosa
Eros Grau sinaliza que pode mudar o voto, que foi a favor do julgamento no STF, depois que soube de recurso pedindo o julgamento na PB
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em sessão tensa, o STF (Supremo Tribunal Federal) voltou a discutir ontem se o ex-deputado Ronaldo Cunha Lima
(PSDB-PB) deve ou não ser julgado pelo próprio tribunal no
processo em que é acusado de
tentativa de homicídio contra
seu adversário político Tarcísio
Burity, em 1993, mas um pedido de vista do ministro Marco
Aurélio Mello adiou a decisão.
Eros Grau, um dos quatro
ministros que na última segunda-feira votaram contra a manobra jurídica da renúncia de
Cunha Lima para escapar do
julgamento no STF, sinalizou
ontem que voltará atrás: "Estou convencido de que não
houve chicana nem escárnio".
A Folha apurou que a descoberta, pelos ministros, da existência de um recurso de Cunha
Lima, de 20 de setembro, no
qual ele pediu que fosse julgado
por Tribunal do Júri de João
Pessoa poderá enfraquecer a
tese, defendida pelo relator do
processo, Joaquim Barbosa, de
que a renúncia foi um "escárnio
com a Justiça brasileira" e que,
portanto, o STF deve julgá-lo.
O aparente recuo de Grau foi
revelado quando os ministros
começavam a apreciar esse recurso. Após a sessão, Marco
Aurélio Mello disse que pretende trazer o caso novamente à
pauta no início de dezembro.
Os advogados José Gerardo
Grossi e Eduardo Ferrão sustentam que o motivo da renúncia, na semana passada, foi o fato de Barbosa não ter submetido esse pedido de Cunha Lima
à análise dos outros ministros.
Anteontem, eles distribuíram a vários ministros memorial com os argumentos da defesa e uma cópia desse recurso,
para tentar desarmar a impressão de que a renúncia foi uma
mera estratégia de última hora
para fugir do julgamento e da
eventual condenação.
Na última segunda, Barbosa
levantou a polêmica sobre
manter o processo de Cunha
Lima no STF, independentemente da renúncia, mas não
mencionou o recurso sobre o
júri aos colegas. "Só vim a ter
conhecimento dele [do recurso] ontem [anteontem] à tarde,
quando os advogados do réu me
entregaram uma cópia", disse o
ministro Celso de Mello, que
não adiantou o seu voto.
Ontem, Marco Aurélio pediu
vista após um breve bate-boca
com Barbosa. Inicialmente
Barbosa protestou: "O senhor
não estava presente à sessão de
segunda-feira". Marco Aurélio
retrucou: "Esteja certo de que
conheço o seu voto, conheço o
seu relatório, conheço as discussões que foram travadas. Eu
acompanho a vida do tribunal e
não estive presente porque..."
Novamente interrompido
por Barbosa, disse: "Um minutinho, um minutinho, Vossa
Excelência precisa ouvir. O
bom juiz deve estar sempre
pronto a ouvir". Ele disse que
teve um compromisso inadiável no Tribunal de Contas do
município do Rio de Janeiro.
Quando Marco Aurélio pediu
vista, Barbosa lamentou: "Como relator, tenho a obrigação
de alertar que esse processo
tramita há 14 anos. A denúncia
foi recebida há cinco anos, e o
acusado já ultrapassou 70 anos.
Estamos no limiar da prescrição. Esse fato é importante e a
Corte deve considerá-lo".
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