São Paulo, domingo, 08 de dezembro de 2002

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Tripulação em fuga é levada para campos

DA FOLHA VALE

No dia 7 de dezembro de 1939, o navio alemão Windhuk ancorou no porto de Santos fugindo de embarcações da marinha inglesa.
O Windhuk, uma embarcação considerada luxuosa, com capacidade para 600 pessoas, estava com cerca de 250 tripulantes, entre engenheiros, médicos e marinheiros que viajavam da Alemanha com destino à África do Sul. Os demais passageiros haviam sido deixados na Cidade do Cabo.
Em 1939, embora não houvesse o posicionamento do Brasil na guerra, o navio foi apreendido em Santos, e sua tripulação, proibida de deixar os portos do país.
Os alemães viveram no navio até 1942, quando, após o posicionamento do então presidente Getúlio Vargas, contrário ao Eixo, 244 passageiros do Windhuk foram presos e levados para São Paulo, para a Casa de Detenção, no Carandiru. O governo brasileiro não podia manter os estrangeiros encarcerados como presos comuns e instalou prisões provisórias em Pirassununga, Bauru e Ribeirão Preto, até que fossem concluídos campos de concentração em Guaratinguetá e Pindamonhangaba.
A maioria dos tripulantes do navio estava na faixa dos 20 anos. Ex-babá do Windhuk, Hildegard Braak, 86, que chegou a dar à luz um filho no campo de Pindamonhangaba, afirma que os tripulantes não se revoltaram com a prisão nem pensavam em rebeliões ou fugas. ""Estávamos bem lá. Para que fugir? Só esperamos, então, o fim da guerra."
Em Pinda, aos domingos, embora a idéia fosse manter os alemães isolados no campo, os tripulantes recebiam a visita de moradores da cidade, que tinham os prisioneiros como a principal atração do município.
Na cidade, o sistema de detenção permitia ainda que os prisioneiros fizessem compras na cidade, sempre acompanhados de soldados armados de fuzis, mas que acabavam por relaxar a pena e se uniam aos prisioneiros em confraternizações acompanhadas de cerveja. Somente em uma oportunidade, os prisioneiros se rebelaram e tentaram fugir do espaço de Pinda e por isso foram presos na cadeia pública da cidade.
Em Guaratinguetá, o campo era mais rígido, e os alemães não tinham contato com os brasileiros. Os prisioneiros não podiam improvisar a alimentação e comiam invariavelmente arroz com feijão. O trabalho nas lavouras começava cedo e terminava à noite.
Apesar do sistema rígido de trabalho, dos 244 tripulantes mantidos em campos de concentração por três anos, só um voltou à Alemanha com o final da guerra.



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