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PÓS-ELEIÇÕES
Caso ocorreu em Mato Grosso do Sul e envolve uma médica e dois políticos
Índias fizeram laqueadura em
troca de voto, diz Promotoria
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE
O Ministério Público de Mato
Grosso do Sul entrou com três
ações na Justiça Eleitoral acusando uma médica e dois políticos de
fazerem laqueaduras em 30 índias, da etnia terena, em troca de
votos delas na campanha eleitoral
deste ano em Miranda (200 km de
Campo Grande).
As ações, conforme informou
ontem o Cartório Eleitoral do
município, foram aceitas pela juíza Simone Nakamatsu.
De acordo com o administrador
da Funai (Fundação Nacional do
Índio) em Campo Grande, Wanderley Dias Cardoso, uma quantidade maior de índias pode ter sido submetida às cirurgias de laqueadura. Esse procedimento
consiste na ligação das trompas
uterinas, impedindo que as mulheres engravidem.
O município de Miranda possui
16.769 eleitores, dos quais aproximadamente 3.500 são índios terenas, cujas aldeias estão localizadas
a 10 km da cidade.
Denúncia
Tiago Di Giulio Freire, promotor da Justiça Eleitoral, denunciou
a médica Sandra Regina Albuquerque, o candidato derrotado a
prefeito Ivan Paz Bossay (PDT) e
Joarez da Silva (PDT), que tentou
sem sucesso uma vaga à Câmara
Municipal.
Bossay ficou em segundo lugar
na eleição, mas pode assumir a
Prefeitura de Miranda porque a
petista Beth Almeida, reeleita, responde a processo de cassação na
Justiça Eleitoral.
Na primeira ação, Freire denuncia os acusados com base nos artigos 299 do Código Eleitoral (compra de votos) e 288 do Código Penal (formação de quadrilha).
Para o primeiro crime, os acusados, se condenados, podem receber pena de até quatro anos, e, para o segundo, a condenação pode
ir de um a três anos de prisão.
Em outro processo, o promotor
pediu a inelegibilidade (proibição
de participar de eleições) por três
anos dos acusados.
Uma terceira ação visa proibir
Bossay de assumir a prefeitura,
caso a prefeita eleita seja impedida pela Justiça Eleitoral de tomar
posse na cidade.
A acusação do Ministério Público Estadual está baseada nos depoimentos de 30 índias que teriam feito as cirurgias no hospital
público da cidade com a participação da médica Albuquerque.
As despesas, segundo a acusação,
foram pagas pelo SUS (Sistema
Único de Saúde).
Em troca da cirurgia, as índias
foram obrigadas a votar nos dois
candidatos, diz o Ministério Público. Desde o dia 13 de outubro, o
promotor de Justiça investigava o
caso no Estado.
Em Mato Grosso do Sul, vivem
cerca de 17 mil índios da etnia terena. Segundo a Funai, as cirurgias de laqueadura representam
um "genocídio contra índios
ameaçados de extinção".
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