São Paulo, quinta-feira, 09 de janeiro de 2003

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GOVERNO LULA

Meta é obter comando da Câmara sem depender de cúpula peemedebista

PT aposta em racha do PMDB e oferece cargo a dissidentes

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

O PT decidiu endurecer na negociação com a cúpula do PMDB em torno das eleições para o comando do Congresso. Ao mesmo tempo, aposta na ala dissidente do partido e num acordo com o PFL para eleger o deputado João Paulo (SP) presidente da Câmara.
Para garantir o apoio dos dissidentes, o PT acenou com cargos no governo. Os cargos de segundo ou de terceiro escalão -cerca de 22 mil- atendem a algumas demandas de parlamentares e representam um espaço no governo. Para o primeiro escalão, não há mais vagas.
Nas últimas 24 horas, os petistas recusaram exigências da cúpula do PMDB e impuseram novas condições para o cumprimento do acordo firmado após as eleições entre as duas siglas, num sinal de que o entendimento para dividir o comando do Congresso está para implodir.
Os termos do acordo inicial eram simples: o PT apoiaria o candidato do PMDB no Senado e o PMDB, o candidato do PT na Câmara. Ontem, em uma reunião entre os presidentes dos dois partidos, os petistas impuseram novas condições. Exemplo: o acerto não vale se houver alguma alteração na composição das atuais bancadas no Congresso.
Formalmente, o PT se comprometeu com a tese de que o PMDB, com 20 senadores, tem a maior bancada no Senado. Mas isso pode ser reavaliado se a Casa, mais tarde, interpretar que valem as bancadas eleitas em outubro. Neste caso, PMDB e PFL empatariam, com 19 senadores cada.
"Na nossa visão, a maior bancada é a que saiu das urnas. Nós gostaríamos que isso fosse respeitado e não houvesse troca-troca", disse o senador eleito e futuro líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), após conversa com o senador José Sarney (PMDB-AP), candidato da dissidência da sigla à presidência do Senado.
Foi um balde de água fria nas composições que o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), líder da bancada no Senado, articula para filiar novos senadores e consolidar sua própria candidatura ao cargo reivindicado por Sarney.
Pela manhã, em conversa com Renan, Mercadante disse que havia descontentamento de "setores do PMDB" com o "inchaço" artificial da bancada. Os "setores do PMDB" insatisfeitos com a prática têm nome: Sarney. A cada movimento os petistas deixam cada vez mais evidente que preferem o ex-presidente na presidência do Senado. Ontem, Mercadante fez questão de conversar tanto com Renan como com Sarney.
No PMDB, a conversa realizada ontem pelos presidentes José Genoino (PT-SP) e Michel Temer (PMDB-SP) foi interpretada como uma espécie de reabertura geral da negociação. Ou seja, tudo o que foi dito até agora pode virar pó em fevereiro.
A mudança no comportamento do PT deve-se ao fato de que a sigla passou a acreditar que pode eleger João Paulo na Câmara independentemente do apoio do PMDB. Desde então, endureceu o jogo. O PMDB, por exemplo, pediu uma carta assinada por dirigentes petistas tornando claros os termos do acordo.O PT negou.
Ontem os deputados Nelson Pellegrino (BA) e João Paulo disseram que o PMDB poderá indicar nomes para o segundo e o terceiro escalão do governo, desde que se comprometa a apoiar Lula nas votações no Congresso. Pellegrino, João Paulo, Mercadante e Genoino se reuniram ontem pela manhã no Planalto por cerca de duas horas com o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu.
Os petistas avaliam que poderão até prescindir do apoio do PMDB para fazer valer a indicação de João Paulo para a Câmara. Mesmo assim, reafirmaram a intenção de um acordo com o PMDB para o comando do Senado.


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