São Paulo, sexta-feira, 09 de janeiro de 2004

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QUESTÃO INDÍGENA

Procuradoria também pede à Justiça o desbloqueio das estradas e a desocupação da Funai em Roraima

PF desocupa o Incra; índios soltam reféns

DA AGÊNCIA FOLHA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BOA VISTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

A Polícia Federal, cumprindo ordem judicial, promoveu ontem a desocupação do prédio do Incra em Boa Vista (Roraima) às 14h (16h em Brasília), com o auxílio da Polícia Militar. O prédio tinha sido invadido por agricultores em protesto contra a homologação de uma terra indígena equivalente a 7,7% do Estado de Roraima.
Mais tarde foram libertados um missionário e dois padres que tinham sido feitos reféns por índios contrários à homologação da reserva. Os religiosos chegaram a Boa Vista de helicóptero às 17h (horário local), vindos da aldeia de Uiramutã, e foram levados ao Instituto Médico-Legal, para serem examinados. Segundo a PF, eles não foram agredidos.
O líder indígena Jonas Marcolino, que acompanhou os padres Cézar Avellaneda e Ronildo Pinto França e o missionário Juan Carlos Martinez no helicóptero, negou que os três tenham sido mantidos em cativeiro. Ele disse que os padres não tinham autorização para entrar na reserva e foram detidos apenas para "averiguação".
Ouvido pela Agência Folha quando ainda estava detido, o padre Ronildo não transmitiu uma versão tão amena: "Peço para que as autoridades federais solucionem nosso caso. Tomem uma providência, o quanto antes, para que vidas possam ser poupadas". Genival Costa da Silva, líder do grupo de macuxis que sequestrou os religiosos, disse que os índios contrários à homologação da área se preparam para a guerra.
Fazendeiros e garimpeiros do Estado protestam contra a homologação da reserva Raposa/Serra do Sol como uma área contínua, o que obrigará o Estado a remover todos os não-índios que vivem na região. Dividir a reserva em ilhas é a proposta do governo de Roraima, dos fazendeiros e dos garimpeiros, que conta com o apoio dos índios aliados aos fazendeiros.
Já os antropólogos que apóiam a homologação dizem que a área precisa ser contínua porque os índios (cerca de 15 mil, das etnias macuxi, taurepague, wapixana, ingaricó e patamona) são nômades. Segundo o antropólogo Paulo Santilli, a demarcação descontínua "significa que os índios não vão circular para casar, produzir, nem comer, ou coisa nenhuma. Estará sendo retaliada uma sociedade, não apenas um território".

Desocupação
A desocupação da sede do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) foi determinada pelo juiz federal Helder Girão Barreto, a pedido da Advocacia Geral da União, que também requereu a desocupação do prédio da Funai (Fundação Nacional do Índio), também invadido. A desobstrução das estradas que dão acesso a Boa Vista, bloqueadas pelos manifestantes na terça-feira, foi pedida pelo Ministério Público Federal. Até a conclusão desta edição, o juiz ainda não havia concedido as liminares ordenando o desbloqueio das estradas e a desocupação da Funai.
Havia cerca de 200 agricultores na sede do Incra, além de caminhões obstruindo a entrada. Eles saíram pacificamente. "Já perdi duas propriedades quando homologaram a reserva São Marcos. Fui obrigado a assinar a desapropriação pela PF, com duas metralhadoras em cima da mesa. O dinheiro da indenização só deu para comprar um cachorro", disse o fazendeiro Wilson Bezerra, 62.
Em Boa Vista, vários carros e táxis circulavam ontem com as inscrições "Xô Funai", "Fora ONGs" e "100% Roraima". Nos postos de combustível, praticamente acabou a gasolina e o álcool. O comércio de Boa Vista, que havia cerrado as portas anteontem em apoio aos manifestantes, reabriu.
Na manhã de ontem, segundo a Funai, uma pessoa doente teria morrido num bloqueio. A PM negou e disse que o homem, de 41 anos, morreu no Hospital de Rorainópolis, com leucemia. (MAURO ALBANO, ALESSANDRA KORMANN, KÁTIA BRASIL e JOSÉ EDUARDO RONDON)


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