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QUESTÃO INDÍGENA
Procuradoria também pede à Justiça o desbloqueio das estradas e a desocupação da Funai em Roraima
PF desocupa o Incra; índios soltam reféns
DA AGÊNCIA FOLHA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BOA VISTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS
A Polícia Federal, cumprindo
ordem judicial, promoveu ontem
a desocupação do prédio do Incra
em Boa Vista (Roraima) às 14h
(16h em Brasília), com o auxílio
da Polícia Militar. O prédio tinha
sido invadido por agricultores em
protesto contra a homologação
de uma terra indígena equivalente
a 7,7% do Estado de Roraima.
Mais tarde foram libertados um
missionário e dois padres que tinham sido feitos reféns por índios
contrários à homologação da reserva. Os religiosos chegaram a
Boa Vista de helicóptero às 17h
(horário local), vindos da aldeia
de Uiramutã, e foram levados ao
Instituto Médico-Legal, para serem examinados. Segundo a PF,
eles não foram agredidos.
O líder indígena Jonas Marcolino, que acompanhou os padres
Cézar Avellaneda e Ronildo Pinto
França e o missionário Juan Carlos Martinez no helicóptero, negou que os três tenham sido mantidos em cativeiro. Ele disse que os
padres não tinham autorização
para entrar na reserva e foram detidos apenas para "averiguação".
Ouvido pela Agência Folha
quando ainda estava detido, o padre Ronildo não transmitiu uma
versão tão amena: "Peço para que
as autoridades federais solucionem nosso caso. Tomem uma
providência, o quanto antes, para
que vidas possam ser poupadas".
Genival Costa da Silva, líder do
grupo de macuxis que sequestrou
os religiosos, disse que os índios
contrários à homologação da área
se preparam para a guerra.
Fazendeiros e garimpeiros do
Estado protestam contra a homologação da reserva Raposa/Serra
do Sol como uma área contínua, o
que obrigará o Estado a remover
todos os não-índios que vivem na
região. Dividir a reserva em ilhas é
a proposta do governo de Roraima, dos fazendeiros e dos garimpeiros, que conta com o apoio dos
índios aliados aos fazendeiros.
Já os antropólogos que apóiam
a homologação dizem que a área
precisa ser contínua porque os índios (cerca de 15 mil, das etnias
macuxi, taurepague, wapixana,
ingaricó e patamona) são nômades. Segundo o antropólogo Paulo Santilli, a demarcação descontínua "significa que os índios não
vão circular para casar, produzir,
nem comer, ou coisa nenhuma.
Estará sendo retaliada uma sociedade, não apenas um território".
Desocupação
A desocupação da sede do Incra
(Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) foi determinada pelo juiz federal Helder
Girão Barreto, a pedido da Advocacia Geral da União, que também requereu a desocupação do
prédio da Funai (Fundação Nacional do Índio), também invadido. A desobstrução das estradas
que dão acesso a Boa Vista, bloqueadas pelos manifestantes na
terça-feira, foi pedida pelo Ministério Público Federal. Até a conclusão desta edição, o juiz ainda
não havia concedido as liminares
ordenando o desbloqueio das estradas e a desocupação da Funai.
Havia cerca de 200 agricultores
na sede do Incra, além de caminhões obstruindo a entrada. Eles
saíram pacificamente. "Já perdi
duas propriedades quando homologaram a reserva São Marcos.
Fui obrigado a assinar a desapropriação pela PF, com duas metralhadoras em cima da mesa. O dinheiro da indenização só deu para comprar um cachorro", disse o
fazendeiro Wilson Bezerra, 62.
Em Boa Vista, vários carros e táxis circulavam ontem com as inscrições "Xô Funai", "Fora ONGs"
e "100% Roraima". Nos postos de
combustível, praticamente acabou a gasolina e o álcool. O comércio de Boa Vista, que havia
cerrado as portas anteontem em
apoio aos manifestantes, reabriu.
Na manhã de ontem, segundo a
Funai, uma pessoa doente teria
morrido num bloqueio. A PM negou e disse que o homem, de 41
anos, morreu no Hospital de Rorainópolis, com leucemia.
(MAURO ALBANO, ALESSANDRA KORMANN, KÁTIA BRASIL e JOSÉ EDUARDO RONDON)
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