São Paulo, sábado, 9 de janeiro de 1999

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CRIME EM ALAGOAS
PF diz ter como provar a participação de três assessores do deputado no assassinato de Ceci Cunha
Polícia acusa Talvane de ser o mandante

DENISE MADUEÑO
LUIZA DAMÉ
da Sucursal de Brasília

A polícia acusou ontem o deputado Talvane Albuquerque (PFL-AL) de ser o mandante da morte da deputada Ceci Cunha (PSDB-AL), assassinada no dia 16 de dezembro do ano passado.
A polícia também acusa três assessores de Albuquerque de participação no crime. "Talvane foi o autor intelectual", afirmou o delegado da Polícia Civil de Alagoas, Arnaldo Carvalho, presidente do inquérito que apura o assassinato da deputada.
"Teremos condições de provar quais pessoas participaram efetivamente do caso lá naquele momento, e o deputado Talvane como autor intelectual. Isso está tranquilamente comprovado nos autos", afirmou o diretor da Polícia Federal, Vicente Chelotti.
As Polícias Civil e Federal estão trabalhando em conjunto nas investigações. "Para a polícia de Alagoas, o caso está praticamente concluído. Falta a prisão dos assessores (de Albuquerque) e pequenos detalhes", disse Carvalho.
Segundo o delegado, Albuquerque será indiciado como autor intelectual da morte da deputada.
Os assessores de Albuquerque com prisão preventiva decretada são Jadielson Barbosa da Silva e Alécio César Alves Vaz, funcionários da Câmara, e José Bezerra da Silva Jr., coordenador de campanha do deputado.
"No mínimo, eles estiveram no local no momento do crime. Foram reconhecidos pelas testemunhas", disse Chelotti.
A base para a conclusão da polícia de que Albuquerque foi o mandante do crime foram as denúncias feitas pelo deputado Augusto Farias (PFL-AL), considerado um parlamentar com credibilidade pela própria polícia, e o depoimento do pistoleiro Maurício Novaes, o "Chapéu de Couro", confirmando a versão de Farias.
Farias apresentou fitas com gravações de conversas telefônicas entre o pistoleiro e Albuquerque e entre o pistoleiro e assessores do deputado, nas quais estaria sendo feito o acerto para matá-lo.
Para a polícia, Albuquerque mandou matar a deputada Ceci Cunha porque foi frustrada a tentativa de matar Farias.
"Ele estava louco para assumir o poder, certo? Está claro. Diante de uma situação dessa, como ele não conseguiu pegar o Augusto, pegou quem foi mais fácil. Podia ser qualquer um. No depoimento, ele ("Chapéu de Couro') diz que qualquer um dançaria, era para morrer", afirmou Carvalho.
Com a morte do deputado ou da deputada, primeiro suplente e sem mandato, Albuquerque assumiria uma vaga na Câmara. "Ele queria a imunidade. A imunidade é o poder para o deputado", disse Carvalho.
Albuquerque vai responder processo de perda de mandato por falta de decoro parlamentar.
O corregedor da Câmara, Severino Cavalcanti (PPB-PE), presidente da comissão de sindicância que apura o envolvimento de Albuquerque na morte de Ceci, vai pedir a acareação entre "Chapéu de Couro" e Albuquerque.
Caso o pistoleiro confirme que houve acerto para matar um deputado, o pedido de cassação será imediato, segundo Cavalcanti.
"Não há escapatória. O seu mandato tem de ser cassado, porque não podemos ter aqui na Casa ninguém que possa comprometer o bom nome do Parlamento", afirmou Cavalcanti.
O bom trânsito de "Chapéu de Couro" com a polícia e com parlamentares irritou o corregedor da Câmara. "É lamentável que, após 60 anos do fim do cangaço, tenhamos de assistir à reencarnação de Lampião, na figura de "Chapéu de Couro', em uma convivência promíscua com políticos e com a polícia."



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