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ARAME FARPADO
Sem-terra cobram ações; UDR acusa conivência com invasões
Gestão Lula decepciona MST e causa revolta de ruralistas
EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA
O bloqueio de uma estrada no
interior de Alagoas na qual o MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra) manteve um
secretário de Estado como refém
expôs na semana passada a revolta de ruralistas e a decepção dos
sem-terra em relação às primeiras
semanas do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Dois pontos surgiram com o
término da barricada e a libertação do secretário alagoano da
Agricultura: para os ruralistas,
"mais uma ação violenta do MST
e a conivência do governo petista"; para os sem-terra, "a passagem de quase 40 dias de governo
sem nenhuma atitude sobre as famílias de trabalhadores rurais
acampadas em todo o país".
O barril de pólvora explodiu depois de um longo período de avaliações de ambas as partes. Desde
o início da campanha eleitoral,
em meados do ano passado, o
MST vinha se mantendo cauteloso, estudando suas atitudes a fim
de não prejudicar seu candidato,
Lula. Já os fazendeiros, sempre temerosos, falavam em "dar uma
oportunidade aos petistas".
"Numa atitude covarde, o ministro [Miguel Rossetto, do Desenvolvimento Agrário] não se
pronunciou sobre o caso de Alagoas (...) Ele se nega, se mantém
ausente porque fica explícita a conivência de um ministro com o
crime. O governo estendeu a mão
para quem faz barricada", afirmou Luiz Antonio Nabhan Garcia, presidente nacional da UDR
(União Democrática Ruralista).
Já João Paulo Rodrigues, da
coordenação nacional do MST,
prefere criticar a "lentidão" do governo Lula. "Nós estamos preocupados com a demora. Já se passaram 30 dias e até agora não foi tomada nenhuma atitude concreta
em relação à reforma agrária."
De acordo com o MST, existe
hoje no país cerca de 80 mil famílias de sem-terra acampadas, a
maioria delas em estradas vicinais. Sob caráter de urgência, a liderança do movimento cobra do
governo Lula que todas elas sejam
assentadas imediatamente.
Na próxima quarta-feira, em
audiência na sede do Incra, em
Brasília, o MST vai cobrar "agilidade" ao ministro Rossetto no assentamento dessas famílias e de
suas respectivas inclusões no programa Fome Zero, além da contratação de um técnico para cada
80 famílias e um custeio extra de
R$ 2.000 para cada uma delas.
Pelo lado dos ruralistas, a irritação vem desde a nomeação dos
primeiros escalões do Ministério
do Desenvolvimento Agrário e do
Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), com
nomes ligados a setores radicais
de PT, MST, CPT (Comissão Pastoral da Terra) e Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura).
"Eles [o governo federal] colocaram no cargo de ministro o
membro do partido mais xiita
que eles tinham, da ala xiita do
PT. Eu não fiquei surpreso porque essa é a marca institucional
deles [petistas]", declarou Narciso Rocha Clara, presidente do Sinapro (Sindicato Nacional dos
Produtores Rurais).
Na semana passada, além do
bloqueio da estrada alagoana, um
outro fato, considerado positivo
pelo MST, revoltou os ruralistas.
A pedido dos sem-terra, o ministério retirou de sua página na internet os nomes e os CPFs de 25
trabalhadores rurais que participaram de invasões e foram excluídos da reforma agrária.
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