São Paulo, sexta-feira, 09 de fevereiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

análise

Parceria nos negócios supera repúdio aos EUA

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já tinha decidido ir aos EUA até julho. O presidente George W. Bush, porém, se antecipou e está chegando primeiro ao Brasil, em 8 e 9 de março, abrindo uma nova turnê pela América Latina, desde o Uruguai até o México.
Esse Bush deve ser meio masoquista, a se acreditar nas insistentes versões de que há um antiamericanismo ativo no governo do PT, particularmente no Itamaraty de Celso Amorim. Além de fazer a segunda visita ao Brasil, ele já mandou toda a cúpula política e econômica de Washington ao país.
A mais nova rodada é do subsecretário de Política, Nicholas Burns, e do responsável pela América Latina, Thomas Shannon, discutindo etanol, segurança, a América do Sul -inclusive a Venezuela de Hugo Chávez, esta, sim, ostensivamente antiamericanista.
Em paralelo, o procurador-geral Alberto Gonzáles falou com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, sobre como aprofundar um combate comum ao crime organizado e está indo ao Rio ver como andam a violência e os Jogos Pan-Americanos.
Tudo muito objetivo, muito civilizado -tanto quanto nas relações de países que têm muitíssimos interesses em comum, mas não precisam concordar e dizer amém em tudo, muito menos apoiar a invasão do Iraque nem engolir a Alca a seco.
A semana da visita dos enviados do Departamento de Estado foi sombreada pela entrevista do ex-embaixador em Washington Roberto Abdenur à revista "Veja", em que ele disse que há "um substrato ideológico vagamente antiamericano" na política externa, para em seguida opinar que a relação dos dois países "prosperou significativamente nos últimos anos".
O próprio Abdenur disse que poderia parecer paradoxal. Pareceu, embaixador, pareceu...
Segundo ele, o Brasil estacionou em 1,4% do mercado americano. Mas seu sucessor, Antônio Patriota, prefere usar valores absolutos.
Nos últimos quatro anos do governo FHC, as exportações brasileiras para os EUA somaram em torno de US$ 5 bilhões; nos primeiros quatro de Lula, dobraram.
Há um certo antiamericanismo? Há -nas esquerdas, em parte da sociedade, em diferentes países do mundo e em gabinetes até importantes do governo brasileiro.
Mas o antiamericanismo é um sentimento difuso, mais forte daqui, mais leve dali, que não contamina decisões de Estado. Senão, nem Bush viria pela segunda vez, nem mandaria seus principais homens e mulheres aqui.
Ideológicos, Lula e os petistas que estão no governo podem até torcer o nariz para a maior potência do mundo, mas estão maduros o suficiente para saber que, ruim com ela, pior sem ela. O ideal é manter os laços com os EUA, mas diversificando interlocutores, interesses e negócios. "Just in case".
Pragmáticos, os americanos vêem assim: o Brasil é o principal país da região. Lula pode não ser o presidente dos sonhos da Casa Branca, mas é muito diferente de Chávez. Juntos, Brasil e Lula são elementos de equilíbrio na América do Sul, que pende cada vez mais à esquerda.


Texto Anterior: Amorim ironiza debate sobre viés ideológico
Próximo Texto: Toda Mídia - Nelson de Sá: Desde a manhã
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.