|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
análise
Parceria nos negócios supera repúdio aos EUA
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O presidente Luiz Inácio
Lula da Silva já tinha decidido ir aos EUA até julho. O
presidente George W. Bush,
porém, se antecipou e está
chegando primeiro ao Brasil,
em 8 e 9 de março, abrindo
uma nova turnê pela América Latina, desde o Uruguai
até o México.
Esse Bush deve ser meio
masoquista, a se acreditar
nas insistentes versões de
que há um antiamericanismo ativo no governo do PT,
particularmente no Itamaraty de Celso Amorim. Além
de fazer a segunda visita ao
Brasil, ele já mandou toda a
cúpula política e econômica
de Washington ao país.
A mais nova rodada é do
subsecretário de Política, Nicholas Burns, e do responsável pela América Latina,
Thomas Shannon, discutindo etanol, segurança, a América do Sul -inclusive a Venezuela de Hugo Chávez, esta, sim, ostensivamente antiamericanista.
Em paralelo, o procurador-geral Alberto Gonzáles
falou com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos,
sobre como aprofundar um
combate comum ao crime
organizado e está indo ao Rio
ver como andam a violência e
os Jogos Pan-Americanos.
Tudo muito objetivo, muito civilizado -tanto quanto
nas relações de países que
têm muitíssimos interesses
em comum, mas não precisam concordar e dizer amém
em tudo, muito menos
apoiar a invasão do Iraque
nem engolir a Alca a seco.
A semana da visita dos enviados do Departamento de
Estado foi sombreada pela
entrevista do ex-embaixador
em Washington Roberto Abdenur à revista "Veja", em
que ele disse que há "um
substrato ideológico vagamente antiamericano" na
política externa, para em seguida opinar que a relação
dos dois países "prosperou
significativamente nos últimos anos".
O próprio Abdenur disse
que poderia parecer paradoxal. Pareceu, embaixador,
pareceu...
Segundo ele, o Brasil estacionou em 1,4% do mercado
americano. Mas seu sucessor, Antônio Patriota, prefere usar valores absolutos.
Nos últimos quatro anos
do governo FHC, as exportações brasileiras para os EUA
somaram em torno de US$ 5
bilhões; nos primeiros quatro de Lula, dobraram.
Há um certo antiamericanismo? Há -nas esquerdas,
em parte da sociedade, em
diferentes países do mundo e
em gabinetes até importantes do governo brasileiro.
Mas o antiamericanismo é
um sentimento difuso, mais
forte daqui, mais leve dali,
que não contamina decisões
de Estado. Senão, nem Bush
viria pela segunda vez, nem
mandaria seus principais homens e mulheres aqui.
Ideológicos, Lula e os petistas que estão no governo
podem até torcer o nariz para a maior potência do mundo, mas estão maduros o suficiente para saber que, ruim
com ela, pior sem ela. O ideal
é manter os laços com os
EUA, mas diversificando interlocutores, interesses e negócios. "Just in case".
Pragmáticos, os americanos vêem assim: o Brasil é o
principal país da região. Lula
pode não ser o presidente
dos sonhos da Casa Branca,
mas é muito diferente de
Chávez. Juntos, Brasil e Lula
são elementos de equilíbrio
na América do Sul, que pende cada vez mais à esquerda.
Texto Anterior: Amorim ironiza debate sobre viés ideológico Próximo Texto: Toda Mídia - Nelson de Sá: Desde a manhã Índice
|