São Paulo, quinta-feira, 09 de março de 2006

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Ministro jantou com angolanos, diz Buratti

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O coordenador da última campanha presidencial do PT, Antonio Palocci, jantou com os dois angolanos ligados aos bingos que doaram R$ 1 milhão para o caixa dois do PT em 2002, segundo relato do advogado Rogério Buratti feito em entrevista à Folha. O jantar ocorreu no segundo semestre de 2002 em São Paulo, na casa do empresário Roberto Carlos Kurzweil, de acordo com Buratti.
O jantar foi marcado, conta Buratti, porque os empresários José Paulo Teixeira Cruz Figueiredo e Artur José Valente Oliveira Caio, fabricantes de máquinas para casa de bingos, queriam certificar-se dos planos do PT para essa área de jogos. Afinal, ninguém doa R$ 1 milhão a um partido em troca de vento. Palocci teria reafirmado aos dois que o PT defenderia a regulamentação dos bingos. Na época, as casas viviam no limbo jurídico e só operavam se obtivessem liminar da Justiça.
É virtualmente impossível saber se essa conversa existiu assim, mas o programa do PT defendia a regulamentação dos bingos. Com a proibição dos bingos, em janeiro de 2004, os dois angolanos deixaram o país. Vivem entre Lisboa e Miami e têm fábricas na Europa.
Buratti diz que soube do jantar por meio do próprio Palocci e de Ralf Barquete, ex-secretário da Fazenda na Prefeitura de Ribeirão Preto (2001-2002), que morreu em 2004 de câncer: "Soube desse jantar por causa das relações que tinha com o Palocci. Eu não vi o dinheiro para a campanha sendo entregue, mas essas coisas ninguém vê. Mas tenho certeza absoluta de que essa contribuição aconteceu. Não tenho dúvidas".
Até agora, Buratti só havia contado à CPI dos Bingos que sabia da doação. É a primeira vez que fala sobre a participação de Palocci no jantar que resultou na contribuição para o caixa dois do PT.

Kurzweil, o contato
Quem levou a Palocci os dois empresários, nascidos em Angola e que hoje têm cidadania portuguesa, foi Kurzweil, ainda segundo Buratti. Kurzweil conhece Palocci desde 1991. À época, uma das empresas de Kurzweil, a Rek, cuidava da coleta de lixo em Ribeirão, e Palocci era vereador. Em 1993, quando Palocci assumiu a prefeitura pela primeira vez, a Rek aumentou o volume de serviços que prestava à prefeitura.
O melhor negócio que Kurzweil fez, no entanto, foi ganhar a licitação para o tratamento de lixo em Ribeirão. Sem nenhuma experiência na área, abocanhou um contrato que deve lhe render R$ 400 milhões em 15 anos.
Foi uma empresa de Kurzweil, a Locablind, que alugou carros para a campanha do PT em 2002, entre os quais o Omega blindado que teria sido usado para transportar dólares recebidos pela partido de Cuba, segundo a "Veja".
Kurzweil foi sócio dos angolanos em uma empresa de telefonia, a Cincotelecom, que visava fornecer torres para empresas de telefonia celular. Faliu em 2004.
Paulo Morais, advogado de Caio, diz que seu cliente nunca fez doações para a campanha. Kurzweil nega que o jantar com Palocci e os dois empresários tenha ocorrido. Diz que não há nada de irregular na concessão que obteve para tratamento de esgoto. Palocci não quis comentar a informação.


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