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Ministro jantou com angolanos, diz Buratti
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O coordenador da última campanha presidencial do PT, Antonio Palocci, jantou com os dois
angolanos ligados aos bingos que
doaram R$ 1 milhão para o caixa
dois do PT em 2002, segundo relato do advogado Rogério Buratti
feito em entrevista à Folha. O jantar ocorreu no segundo semestre
de 2002 em São Paulo, na casa do
empresário Roberto Carlos Kurzweil, de acordo com Buratti.
O jantar foi marcado, conta Buratti, porque os empresários José
Paulo Teixeira Cruz Figueiredo e
Artur José Valente Oliveira Caio,
fabricantes de máquinas para casa de bingos, queriam certificar-se
dos planos do PT para essa área
de jogos. Afinal, ninguém doa
R$ 1 milhão a um partido em troca de vento. Palocci teria reafirmado aos dois que o PT defenderia a regulamentação dos bingos.
Na época, as casas viviam no limbo jurídico e só operavam se obtivessem liminar da Justiça.
É virtualmente impossível saber
se essa conversa existiu assim,
mas o programa do PT defendia a
regulamentação dos bingos. Com
a proibição dos bingos, em janeiro de 2004, os dois angolanos deixaram o país. Vivem entre Lisboa
e Miami e têm fábricas na Europa.
Buratti diz que soube do jantar
por meio do próprio Palocci e de
Ralf Barquete, ex-secretário da
Fazenda na Prefeitura de Ribeirão
Preto (2001-2002), que morreu
em 2004 de câncer: "Soube desse
jantar por causa das relações que
tinha com o Palocci. Eu não vi o
dinheiro para a campanha sendo
entregue, mas essas coisas ninguém vê. Mas tenho certeza absoluta de que essa contribuição
aconteceu. Não tenho dúvidas".
Até agora, Buratti só havia contado à CPI dos Bingos que sabia
da doação. É a primeira vez que
fala sobre a participação de Palocci no jantar que resultou na contribuição para o caixa dois do PT.
Kurzweil, o contato
Quem levou a Palocci os dois
empresários, nascidos em Angola
e que hoje têm cidadania portuguesa, foi Kurzweil, ainda segundo Buratti. Kurzweil conhece Palocci desde 1991. À época, uma
das empresas de Kurzweil, a Rek,
cuidava da coleta de lixo em Ribeirão, e Palocci era vereador. Em
1993, quando Palocci assumiu a
prefeitura pela primeira vez, a
Rek aumentou o volume de serviços que prestava à prefeitura.
O melhor negócio que Kurzweil
fez, no entanto, foi ganhar a licitação para o tratamento de lixo em
Ribeirão. Sem nenhuma experiência na área, abocanhou um
contrato que deve lhe render R$
400 milhões em 15 anos.
Foi uma empresa de Kurzweil, a
Locablind, que alugou carros para
a campanha do PT em 2002, entre
os quais o Omega blindado que
teria sido usado para transportar
dólares recebidos pela partido de
Cuba, segundo a "Veja".
Kurzweil foi sócio dos angolanos em uma empresa de telefonia,
a Cincotelecom, que visava fornecer torres para empresas de telefonia celular. Faliu em 2004.
Paulo Morais, advogado de
Caio, diz que seu cliente nunca fez
doações para a campanha. Kurzweil nega que o jantar com Palocci
e os dois empresários tenha ocorrido. Diz que não há nada de irregular na concessão que obteve para tratamento de esgoto. Palocci
não quis comentar a informação.
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