São Paulo, quinta-feira, 09 de março de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Por coincidência

Ecoou pelo mundo a opção de Lula pelo padrão japonês para a TV digital, como tanto queriam o ministro Hélio Costa e a Globo. No site do "Wall Street Jornal":
- O sistema japonês traria "mais vantagens" ao Brasil do que as alternativas.
Entre as "vantagens", estrear a TV digital até setembro.
 
E ontem, em Londres e nos jornais nacionais, Lula só queria falar de futebol. A descrição é do correspondente da Globo, sobre cenas da visita à exposição londrina da Tropicália:
- Na saída, por coincidência, o técnico da seleção telefonou. O presidente Lula quis falar com Parreira e contou da preocupação com Ronaldo. Pediu que Parreira, em Londres para o jogo Arsenal e Real Madri, falasse a Ronaldo do apoio dele.
E Lula, ao telefone:
- Dê um abração nele, querido. Tudo de bom.
O "JN" ainda ouviu e relatou os agradecimentos de Parreira e do próprio Ronaldo.
 
Lula apelou mais à bola.
No Parlamento britânico, o presidente da casa "mencionou em tom informal que o futebol foi levado ao Brasil por Charles Miller e, desde então, o país já venceu cinco Copas". O brasileiro, segundo BBC Brasil e telejornais, brincou então no discurso aos parlamentares:
- Charles Miller fez uma avaliação incorreta. Se tivesse assistido ao jogo de Barcelona e Chelsea e visto o gol do Ronaldinho, certamente não teria levado mais a bola ao Brasil.
 
Lula só queria falar de futebol, mas o foco da cobertura britânica era outro: um relatório oficial divulgado ontem apoiou a política antiterror do Reino Unido, de atirar-para-matar.
Na prática, defendeu a polícia no assassinato do brasileiro Jean Charles de Menezes.
E havia mais, ontem, sobre o caso. A rede BBC, em especial do programa "Panorama", levou ao ar "o que realmente ocorreu naquele dia" -em detalhes que foram adiantados num texto do jornalista Peter Taylor, da BBC, ontem no "Guardian".
Para além da discussão sobre a política e da identificação dos responsáveis, o programa ouviu e retratou a tragédia da família. Aquela, que Lula tanto reluta em receber em audiência.
 
Se Lula se fixou no futebol, Tony Blair apelou ao comércio. Ontem na agência Reuters, o primeiro-ministro britânico só tratou da "ambiciosa reforma do comércio no mundo" que ele apresenta hoje a Lula.

Reprodução
No "Jornal Nacional", Lula fala com o treinador da seleção pelo celular da correspondente da Globo

Demanda
Não bastasse tudo o que se viu de deslumbramento da mídia britânica com Lula, vem ontem o "Financial Times":
- A indústria do açúcar do Brasil se prepara para novo combustível mundial.
O correspondente foi até o porto de Santos e mostrou "um símbolo do poder: terminais de etanol, que indicam mudança com implicações para o futuro dos combustíveis no mundo". Por aí foi, com todas as vantagens sobre o petróleo.
Tem mais. A "Nature", que cobre ciência e pesquisa, dedicou longa reportagem ao acordo de Brasil e Japão para venda de etanol, com o enunciado:
- Preços do petróleo em alta e temor pelo aquecimento global levam governos a repensar suprimento de energia.
O aumento na demanda "vai testar a indústria no Brasil".

Encomenda
Depois de uma semana sem trégua contra a Vila Isabel, escola de samba que ousou vencer o Carnaval com apoio de Hugo Chávez, as Globos destacavam ontem, por exemplo, na home page do Globo Online:
- Venezuela encomenda 36 navios ao Brasil.
E na chamada logo abaixo:
- Após patrocinar Carnaval vitorioso da Vila, PDVSA anunca maior investimento em petroleiros já feito no país.
É a estatal venezuelana de petróleo. O volume é tamanho que o site abriu enquete:
- Os estaleiros darão conta das encomendas?
Do "El Universal", oposição na Venezuela, às agências americanas AP e Dow Jones, o negócio ecoou pelo hemisfério.

@ - nelsondesa@folhasp.com.br

MAIS DOIS

Os canais Band News e Globo News e os portais UOL e iG transmitiam ao vivo, os blogs de Fernando Rodrigues e de Ricardo Noblat faziam "live-blogging", mas nem assim os parlamentares pareciam se animar.
A certa altura, a manchete no site da Agência Nordeste, por exemplo, observava que a "Sessão não atrai atenção de deputados". Estavam lá uns 20, se tanto, somou um blog. Os dois canais de notícias e os dois portais acabaram por desistir, aos poucos. E no fim escaparam ambos, pefelista e petista. Eles nunca foram tão iguais.


Texto Anterior: MST invade 5 fazendas no Pontal; ação policial reintegra área em PE
Próximo Texto: Diplomacia: China deixa Brasil para trás, diz príncipe
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.