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JANIO DE FREITAS
Cenas brasileiras
Em nome da segurança de privilegiados, milhares de favelados foram humilhados pelo espetáculo da insegurança
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A CPI DOS CARTÕES , que não sai
e quando sair não precisa
de muito mais do que verificar registros contábeis, e a CPI das
ONGs, que nem parece ter saído,
recebem as atenções do noticiário,
mas o importante começa a acontecer é na esquecida CPI dos
Grampos.
A informação das empresas telefônicas de que fizeram, só em 2007,
quase 410 mil escutas pedidas pela
polícia e autorizadas por juízes é digna dos governos americanos e inglês, maníacos de terrorismo. A CPI
vai fazer a confrontação daquele total com informações do Judiciário e
das polícias sobre escutas. Daí tanto
pode vir a descoberta de escutas
com autorização indevida, falsa ou
inexistente, revelando-se esquemas
clandestinos muito perigosos, como
a confirmação aproximada das informações oficiais. Seja isso ou aquilo, as evidências são de que algo muito grave ocorre no país.
Mas, para não faltar com as características mais tradicionais da nacionalidade, há também as gaiatices.
Em breve a CPI poderá divulgar, por
exemplo, o teor original obtido por
um dos grampos legais. É o de grampeado que providencia a contratação de um grampo clandestino, por
suspeitar de infidelidade da mulher.
Foi a inovação tecnológica à brasileira: o grampo do grampo.
As "visitas"
A encenação da visita de Lula a favelas do Rio foi, pior do que deplorável, vergonhosa. O dispositivo
policial-militar para a chegada de
Lula às bordas das três favelas e para os comícios que ali fez, com trincheiras de sacos de areia, ninhos de
metralhadoras, multidão de soldados e policiais acoitados por toda
parte, eram cenas de guerra, cenas
de um país à espera de uma invasão. E tudo isso apesar do noticiado
acordo com os comandos das tropas de elite das favelas.
Que contribuição esse desatino
pode trazer, se o propósito verdadeiro for a melhoria das condições
perversas de moradia, e não os comícios com claques selecionadas e
equipadas de faixas e cartazes pelos
organizadores da encenação? O
tempo, o número irrevelado de
funcionários, policiais e militares
ocupados por semanas para os comícios (até o general-chefe da Abin
trabalhou em organização e inspeções locais) não tem só alto custo
desviado dos cofres públicos para a
propaganda política. Em nome da
segurança de uns quantos privilegiados que podem desfrutar de dispositivos policiais-militares, os milhares de favelados decentes foram
humilhados pelo espetáculo da insegurança de suas vidas em todos
os sentidos. E o próprio Rio não ficou melhor, na encenação, do que
os seus favelados.
Em tempo
A imprensa esteve muito prestigiada na recente sessão do Supremo
Tribunal Federal, com numerosas
referências a textos jornalísticos.
Já a abertura da nervosa exposição
do tributarista Ives Gandra Martins, dirigente de uma sociedade
católica conservadora, foi dedicada
à veemente contestação a quem, na
imprensa, referiu-se à contraposição histórica de ciência e religião. O
oposto de contraposição por parte
da Igreja Católica, argumentou o líder da corrente contrária à pesquisa e tratamentos com células-tronco embrionárias, demonstra-se até
em 29 prêmios Nobel que a Academia de Ciências do Vaticano tem.
Talvez em razão das tensões do
momento, faltou um acréscimo de
possível utilidade. A Academia do
Vaticano não é "do" Vaticano em
sentido literal, não sendo composta pelo clero. Integram-na cientistas e professores de diferentes ramos e países, cuja premissa para
ser incluído na Academia de Ciências é o seu catolicismo.
Traço também comum e essencial, entrar e permanecer na Academia implica não admitir atividades
e idéias, ainda que em nome da
ciência e do saber, divergentes da
doutrina do Vaticano. Preliminares que não impedem a presença de
cientistas importantes, uma vez
que nem toda prática científica
conflita-se com a doutrina, sujeita
a variações segundo as épocas, do
Vaticano.
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