São Paulo, segunda, 9 de março de 1998

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Governo vence convenção por 86 votos

LUCIO VAZ
LUIZA DAMÉ
da Sucursal de Brasília


A Convenção Nacional do PMDB rejeitou ontem o lançamento de candidatura própria a presidente da República, uma vitória de Fernando Henrique Cardoso.
O resultado foi 389 votos contra, 303 a favor e 5 em branco.
O apoio oficial do partido à reeleição de FHC, porém, só será definido em junho, quando os peemedebistas terão de decidir qual candidato vão apoiar.
Junho é o mês estabelecido pela Lei Eleitoral para definição de candidaturas e coligações.
O clima da convenção de ontem reforça a idéia de que o PMDB seguirá dividido na campanha eleitoral de outubro.
O senador Ronaldo Cunha Lima (PB), que defendeu a candidatura própria, disse: "Houve uma descortesia. Humilharam o Itamar Franco. Vai ser difícil reconstruir a unidade do partido".
O senador Roberto Requião (PR) e o ex-governador Orestes Quércia (SP) já haviam afirmado, antes do encontro de ontem, que não seguiriam o resultado no caso de derrota.
Requião disse que trabalhará pelo apoio do PMDB ao candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, na convenção de junho.
Esse racha anunciado do PMDB significa que Fernando Henrique deve ter apenas o apoio da parcela peemedebista que já o apóia hoje.
Os perdedores de ontem devem migrar para outras candidaturas ou permanecerão neutros.

Paes de Andrade
A convenção acabou não decidindo sobre o segundo ponto da pauta, a permanência do deputado Paes de Andrade à frente da presidência do partido.
Como houve uma debandada de convencionais após o anúncio da derrota da tese da candidatura própria, os dirigentes avaliaram que não haveria quórum para decidir a questão.
Confrontos físicos entre manifestantes, e insultos pessoais entre os principais líderes do partido marcaram a convenção.
O maior derrotado na convenção foi o ex-presidente Itamar Franco, que desejava ser o candidato do PMDB.
O Palácio do Planalto temia que a candidatura de Itamar levasse a disputa para o segundo turno.
Os governistas jogaram pesado na convenção, com ataques pessoais a Itamar. O ex-presidente foi humilhado.
O aspecto mais lembrado foi a sua participação na chapa de Fernando Collor (PRN), nas eleições presidenciais de 1989, contra Ulysses Guimarães.
O governo decidiu a convenção na última semana, com promessas de liberação de verbas e indicações de parlamentares que ameaçavam votar a favor da candidatura própria para cargos no governo.
No final da tarde de sábado, o ministro Iris Rezende (Justiça) fechou um acordo com o governador Paulo Afonso Vieira (SC), garantindo mais 28 votos favoráveis no Estado. Paulo Afonso teve a promessa de ajuda do governo para liberar R$ 200 milhões do BNDES para privatizar estatais.
Os tumultos em plenário já estavam previstos desde a quinta-feira, quando o presidente nacional do PMDB, deputado Paes de Andrade (CE), privilegiou os defensores da candidatura própria no programa de televisão do partido.

Porta quebrada
Um grupo de manifestantes contratados pelos governistas forçou a entrada no plenário da Câmara dos Deputados, local em que foi realizada a convenção.
Esse grupo quebrou a porta de vidro principal. Depois, entrou em choque com militantes do MR-8, que também entraram à força do plenário. Um manifestante sofreu um corte na testa durante o discurso de Itamar e saiu do local sangrando.
O líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), disse que o tumulto foi provocado pelos defensores da candidatura própria, que teriam desviado credenciais para militantes do MR-8. '"Eles queriam tomar conta do plenário", afirmou.
O acordo inicial entre governistas e dissidentes previa o ingresso de cerca de 2.000 pessoas na convenção.
Iniciado o tumulto, os governistas propuseram que apenas os convencionais permanecessem do plenário. Paes não aceitou.
O clima de confronto também tomou conta da mesa da convenção. Paes pretendia que Itamar discursasse na condição de pré-candidato.
O líder do PMDB no Senado, Jader Barbalho (PA), protestou. Ficou acertado que falariam dois defensores da candidatura própria e dois contrários.

Fernando Henrique
O presidente Fernando Henrique Cardoso passou o dia em sua residência, o Palácio da Alvorada. Ele foi informado sobre a convenção do PMDB pelo ministro dos Transportes, Eliseu Padilha (PMDB-RS).
Os dois trocaram pelo menos quatro telefonemas durante o dia.
Pela manhã, FHC se preocupou com a possibilidade de o tumulto promovido por militantes e seguranças provocar seu cancelamento, adiando a decisão do partido sobre ter ou não candidato próprio à Presidência.
Fernando Henrique foi tranquilizado pelo ministro Eliseu Padilha (Transportes) por telefone.



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