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ANÁLISE
FHC festeja certeza de levar no 1º turno
CLÓVIS ROSSI
Enviado especial a Brasília
O governo
Fernando Henrique Cardoso
festejava ontem
o resultado de
todo o jogo pesado que empregou para ganhar a convenção
do PMDB: ao recusar a hipótese de
candidato próprio, o PMDB, acha
o governo, mantém a disputa eleitoral no maniqueísmo FHC versus
Lula e, graças a ele, torna mais fácil que o presidente se eleja já no
primeiro turno.
"Nada pode ser melhor para o
Fernando Henrique do que o maniqueísmo (doutrina que se fundamenta em princípios opostos)",
admite, por exemplo, o governador Antônio Britto (RS), um dos
comandantes peemedebista
pró-coligação com FHC.
Em todos os cálculos que se fazem nos gabinetes governistas,
aposta-se que Lula será, como em
1994, incapaz de polarizar com o
presidente, o que, em consequência, daria a vitória a FHC já no primeiro turno.
Se, ao contrário, o PMDB tivesse
escolhido lançar candidato próprio, a possibilidade de um segundo turno "seria muito grande",
admite Michel Temer (SP), presidente da Câmara, e outros dos líderes governistas do partido.
Não que o governo tema perder
em um eventual segundo turno. O
receio de que ele ocorra deriva de
duas análises que se fazem na intimidade do governo:
1 - Com o segundo turno, haveria forte risco de instabilidade econômica já a partir do momento
em que as pesquisas de opinião
pública sugerissem tal possibilidade.
Ou seja, o real ficaria sob ameaça
não apenas no curto intervalo entre o primeiro e o segundo turno
(21 dias em outubro), mas desde
meados de agosto, época em que
serão divulgadas pesquisas com
um sabor mais definitivo.
2 - Um eventual segundo turno
criaria o confronto que hoje, na
visão do governo, praticamente
inexiste.
Inexiste porque os governistas
acham que Luiz Inácio Lula da Silva, virtual candidato do PT, não
consegue nem conseguirá polarizar com FHC.
Mas inexiste também porque as
pesquisas têm mostrado que, embora FHC não tenha a maioria absoluta das intenções de voto, não
há um nome capaz de seduzir todos os que não estão, por ora, dispostos a votar no presidente.
Com o segundo turno, aí sim, o
confronto seria inevitável e de resultados imprevisíveis como tem
mostrado a história dos segundos
turnos em pleitos estaduais.
O superpalanque
Conquistado o objetivo de consolidar o maniqueísmo e, por extensão, mais confiança em ganhar
no primeiro turno, o governo parte agora para a complicada administração do gigantesco palanque
armado em torno da candidatura
FHC.
A primeira definição foi dada
antes mesmo de a convenção do
PMDB começar: o comitê que comandará a campanha terá participação igualitária de todos os partidos da coalizão (PSDB, PFL,
PMDB, PPB e PTB).
FHC não escondeu, dos líderes
peemedebistas, que essa solução,
além de lógica, tem a conotação de
equilibrar melhor o palanque
"fernandista". O presidente temia
que, sem o PMDB na coligação, o
predomínio fosse de uma aliança
mais à direita (PFL mais PPB, que
estão jogando mais ou menos juntos). Até insinuou que PSDB e
PMDB devem buscar o mesmo
entrosamento de PFL e PPB, para
acentuar ainda mais o equilíbrio
interno.
A segunda definição também
antecedeu a convenção: FHC ficará neutro nas disputas estaduais
em que o PMDB tiver candidato
próprio e que estiver concorrendo
com nomes de algum outro partido da coalizão.
Na prática, significa que o presidente não se envolverá em nenhuma eleição estadual. Afinal, é quase impossível que haja Estado em
que apenas um dos partidos governistas tenha candidato.
A única possível exceção é São
Paulo. O virtual candidato peemedebista, Orestes Quércia, é inimigo jurado do presidente e ele não
vê razão para omitir-se só porque
Quércia é do PMDB.
Se houver omissão em São Paulo
será por causa de Paulo Maluf
(PPB) e não pela candidatura peemedebista.
A neutralidade presidencial nos
pleitos estaduais não impede, de
todo modo, que haja uma guerra
aberta entre os partidos coligados,
em torno da eleição para a Câmara
e o Senado.
Primeiro, porque cada um dos
partidos governistas quer maioria
em uma ou ambas as Casas do
Congresso, para ficar com a Presidência delas. Segundo, porque a
coligação tem data marcada para
acabar: 2002.
Será eleito, nesse ano, o sucessor
de FHC (se ele se reeleger) e todos
os partidos governistas já anunciaram que terão candidatura própria. O último a fazê-lo foi o
PMDB, na convenção de ontem.
Michel Temer minimiza o potencial de conflito em uma coligação com essas características. Alega que o presidente da República
tem estimulado conversas em torno de uma reformulação partidária, de tal forma que as vertentes
mais à direita na coligação (PFL e
PPB) se unam, assim como se
aglutinariam os grupos mais à esquerda (PSDB e PMDB).
A guerra interna, se essas conversas prosperarem, ficaria limitada, então, a dois grupos em vez
dos quatro que hoje sonham em
fazer o presidente em 2002.
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