São Paulo, segunda, 9 de março de 1998

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ANÁLISE
FHC festeja certeza de levar no 1º turno

CLÓVIS ROSSI
Enviado especial a Brasília


O governo Fernando Henrique Cardoso festejava ontem o resultado de todo o jogo pesado que empregou para ganhar a convenção do PMDB: ao recusar a hipótese de candidato próprio, o PMDB, acha o governo, mantém a disputa eleitoral no maniqueísmo FHC versus Lula e, graças a ele, torna mais fácil que o presidente se eleja já no primeiro turno.
"Nada pode ser melhor para o Fernando Henrique do que o maniqueísmo (doutrina que se fundamenta em princípios opostos)", admite, por exemplo, o governador Antônio Britto (RS), um dos comandantes peemedebista pró-coligação com FHC.
Em todos os cálculos que se fazem nos gabinetes governistas, aposta-se que Lula será, como em 1994, incapaz de polarizar com o presidente, o que, em consequência, daria a vitória a FHC já no primeiro turno.
Se, ao contrário, o PMDB tivesse escolhido lançar candidato próprio, a possibilidade de um segundo turno "seria muito grande", admite Michel Temer (SP), presidente da Câmara, e outros dos líderes governistas do partido.
Não que o governo tema perder em um eventual segundo turno. O receio de que ele ocorra deriva de duas análises que se fazem na intimidade do governo:
1 - Com o segundo turno, haveria forte risco de instabilidade econômica já a partir do momento em que as pesquisas de opinião pública sugerissem tal possibilidade.
Ou seja, o real ficaria sob ameaça não apenas no curto intervalo entre o primeiro e o segundo turno (21 dias em outubro), mas desde meados de agosto, época em que serão divulgadas pesquisas com um sabor mais definitivo.
2 - Um eventual segundo turno criaria o confronto que hoje, na visão do governo, praticamente inexiste.
Inexiste porque os governistas acham que Luiz Inácio Lula da Silva, virtual candidato do PT, não consegue nem conseguirá polarizar com FHC.
Mas inexiste também porque as pesquisas têm mostrado que, embora FHC não tenha a maioria absoluta das intenções de voto, não há um nome capaz de seduzir todos os que não estão, por ora, dispostos a votar no presidente.
Com o segundo turno, aí sim, o confronto seria inevitável e de resultados imprevisíveis como tem mostrado a história dos segundos turnos em pleitos estaduais.

O superpalanque
Conquistado o objetivo de consolidar o maniqueísmo e, por extensão, mais confiança em ganhar no primeiro turno, o governo parte agora para a complicada administração do gigantesco palanque armado em torno da candidatura FHC.
A primeira definição foi dada antes mesmo de a convenção do PMDB começar: o comitê que comandará a campanha terá participação igualitária de todos os partidos da coalizão (PSDB, PFL, PMDB, PPB e PTB).
FHC não escondeu, dos líderes peemedebistas, que essa solução, além de lógica, tem a conotação de equilibrar melhor o palanque "fernandista". O presidente temia que, sem o PMDB na coligação, o predomínio fosse de uma aliança mais à direita (PFL mais PPB, que estão jogando mais ou menos juntos). Até insinuou que PSDB e PMDB devem buscar o mesmo entrosamento de PFL e PPB, para acentuar ainda mais o equilíbrio interno.
A segunda definição também antecedeu a convenção: FHC ficará neutro nas disputas estaduais em que o PMDB tiver candidato próprio e que estiver concorrendo com nomes de algum outro partido da coalizão.
Na prática, significa que o presidente não se envolverá em nenhuma eleição estadual. Afinal, é quase impossível que haja Estado em que apenas um dos partidos governistas tenha candidato.
A única possível exceção é São Paulo. O virtual candidato peemedebista, Orestes Quércia, é inimigo jurado do presidente e ele não vê razão para omitir-se só porque Quércia é do PMDB.
Se houver omissão em São Paulo será por causa de Paulo Maluf (PPB) e não pela candidatura peemedebista.
A neutralidade presidencial nos pleitos estaduais não impede, de todo modo, que haja uma guerra aberta entre os partidos coligados, em torno da eleição para a Câmara e o Senado.
Primeiro, porque cada um dos partidos governistas quer maioria em uma ou ambas as Casas do Congresso, para ficar com a Presidência delas. Segundo, porque a coligação tem data marcada para acabar: 2002.
Será eleito, nesse ano, o sucessor de FHC (se ele se reeleger) e todos os partidos governistas já anunciaram que terão candidatura própria. O último a fazê-lo foi o PMDB, na convenção de ontem.
Michel Temer minimiza o potencial de conflito em uma coligação com essas características. Alega que o presidente da República tem estimulado conversas em torno de uma reformulação partidária, de tal forma que as vertentes mais à direita na coligação (PFL e PPB) se unam, assim como se aglutinariam os grupos mais à esquerda (PSDB e PMDB).
A guerra interna, se essas conversas prosperarem, ficaria limitada, então, a dois grupos em vez dos quatro que hoje sonham em fazer o presidente em 2002.



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