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"Pelo amor de Deus, tirem o menino'
No lugar de política, mais importante encontro do PMDB tem cenas impróprias para menores
do enviado especial a Brasília
No gabinete do senador Pedro
Simon (RS), um grupo de peemedebistas gaúchos acompanha
o desenrolar da convenção partidária.
Entre eles, Martim Fogaça, 9,
filho do senador José Fogaça. A
certa altura da gigantesca baderna armada no plenário, alguém
grita: "Pelo amor de Deus, tirem
esse menino da sala".
Foi assim, literalmente indecente para menores, que se
desenvolveu o
mais importante encontro do
partido que,
desde a redemocratização
do país, em
1983, elegeu
sistematicamente as maiores
bancadas federais, o único partido a que pertencem ou pertenceram todos os
presidentes civis da República
ainda vivos (José Sarney e Itamar
Franco, ainda peemedebistas, e
Fernando Collor e Fernando
Henrique Cardoso, ex-peemedebistas).
No plenário da Câmara tomado pela claque (paga) dos governistas do PMDB e pela tropa de
choque do MR-8, o movimento
que transitou da luta armada para o quercismo, houve de tudo,
de sangue a palavrões, de socos a
pontapés. Só faltou política.
Política confinada
A política, a velha política peemedebista, estava, a rigor, confinada às imagens de três dos
grandes ícones do partido (Ulysses Guimarães, Teotonio Vilela e
Tancredo Neves), que pendiam
de um cartaz pendurado quase
no teto do plenário da Câmara
dos Deputados.
"Queira Deus
que nenhum deles
tenha olhado para
baixo", ironiza o
governador Antônio Britto (RS), veterano de convenções partidárias,
primeiro como
jornalista, depois
como político.
É verdade que o
PMDB, que Fernando Henrique certa vez definiu como "partido-ônibus",
porque nele cabiam todos, raramente fez convenções pacíficas.
Mas a de ontem superou todas os
recordes de guerra interna e de
contradições insanáveis.
Como a de Itamar Franco, que,
em seu discurso, lamentou a falta de "sentido de pátria" de parte dos homens que comandam,
hoje, a política econômica brasileira.
Esqueceu-se de que quem
manda na política econômica,
hoje, são os mesmos Pedro Malan, presidente do Banco Central
com Itamar Franco, e Gustavo
Franco, diretor de Assuntos Internacionais do banco e, como
tal, o homem que mandava no
câmbio quando Itamar era presidente da República.
Crítico
Ou como a do senador Roberto
Requião (PR), que foi o mais
violento crítico de
seu colega paulista
Orestes Quércia,
mas, ontem, minimizava as divergências, enquanto
a claque governista, paga a R$ 40 per
capita (ver reportagem à pág. 1-8),
gritava: "Disque
Quércia/Disque
Quércia".
Era uma alusão a uma antiga
proposta de Requião de se criar
um telefone do tipo 0800 para
centralizar denúncias de corrupção contra o ex-governador paulista.
A claque também gritava
"Ferreirinha/Ferreirinha" para
o senador, em alusão a um pistoleiro inventado por Requião, na
campanha para o governo do Paraná, em 1990, para desmoralizar seu adversário, José Carlos
Martinez.
O PMDB governista tampouco
deixou de dar sua contribuição
para o ambiente proibido para
menores.
Cara-de-pau
O líder do partido no Senado,
Jader Barbalho (PA), chamado
de "ladrão" pelo coro do MR-8
quercista, devolveu:
"Tem muito cara-de-pau querendo posar de oposição, mas
com cargos no governo".
Se o menino
Martim Fogaça
ficou até o fim
vendo o espetáculo, a única
coisa de política que terá
aprendido é
que sobrevive,
no PMDB, um
difuso nacionalismo, ou o que
Itamar Franco
caracterizou como "sentido de
pátria".
Ainda assim, o "sentido de pátria" varia de peemedebista para
peemedebista, porque alguns
querem exercitá-lo sob o comando de Fernando Henrique e,
outros, com Itamar Franco, que,
no entanto, afirmou: "Se não
fosse por nosso apoio, Fernando
Henrique Cardoso não seria presidente da República".
(CLÓVIS ROSSI)
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