São Paulo, segunda, 9 de março de 1998

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SUCESSÃO
Ex-presidente faz críticas à aprovação da reeleição, à venda da Vale do Rio Doce e à equipe econômica.
Para Itamar, PMDB deve deixar "periferia'

Lula Marques/Folha Imagem
Itamar Franco após discurso em que afirmou ter autoridade para discordar "democraticamente"de FHC


WILLIAM FRANÇA
da Sucursal de Brasília


O ex-presidente Itamar Franco afirmou ontem, num discurso inflamado na abertura da Convenção Nacional do PMDB, que o partido "continuará a ser periférico" se optar por permanecer no governo. Ou seja: ter cargos em setores não fundamentais -como o dele, de embaixador da OEA (Organização dos Estados Americanos).
Para Itamar, optar por ficar agregado ao poder sem o controle da economia pode levar o PMDB ao desgaste junto à opinião pública. "Os candidatos a deputado e a senador do PMDB neste ano vão sentir nas ruas toda a pressão por essa política que aí está."
"Onde está o PMDB hoje na ordem nacional? Onde está o PMDB no controle da moeda, dos juros, no controle do câmbio, no Banco Central?", questionou. "Para que esperar o ano de 2002? A sucessão ainda não está formada e ainda há espaço para o PMDB", disse Itamar, afirmando que não havia outra alternativa senão o partido ter candidatura própria à Presidência.
Itamar disse que o PMDB já havia servido a FHC. "Ele não está abandonando o governo, apenas optando por ter candidato próprio." Itamar atribuiu ao governador do Rio Grande do Sul, Antônio Britto, o fato de o PMDB não estar hoje no comando do país. Ele desafiou Britto a desmenti-lo se, antes de tornar FHC seu candidato, não havia convidado o peemedebista a ser o candidato à sua sucessão. "Ele disse que não queria por ser muito jovem e por preferir disputar o governo do Estado", explicou depois Itamar.
"As pesquisas de 2 de julho de 94 davam 2% a Fernando Henrique, 19% a Antônio Britto e 46% a Lula, que já seria o grande vencedor do primeiro turno. Se não fosse o nosso apoio, FHC não estaria no Palácio do Planalto", disse Itamar.
Por ter dado esse apoio, Itamar disse que era o único na convenção que teria autoridade "para discordar democraticamente do presidente da República". Fez então críticas à aprovação da reeleição, à venda da Vale do Rio Doce e à equipe econômica.
"Nesse processo de globalização selvagem, nós temos de defender o sentimento nacional. O sentimento de pátria não existe naqueles que dirigem a ordem econômica desse país. Porque, quando largam o serviço público, vão ser banqueiros ou vão servir aos interesses internacionais."
Itamar citou o profeta Isaías para criticar as taxas de desemprego. "Ele (Isaías) diz: 'Vamos olhar para o lado'. E, olhando para o lado, o que nós estamos vendo são milhões de desempregados."
Itamar ocupou a tribuna usada pelos partidos de oposição na Câmara durante 28 minutos, mas só falou durante 16. Foi interrompido cinco vezes por vaias e apitos da claque dos governistas.
Ele citou nominalmente os ministros da Fazenda de seu governo. Na hora de citar FHC, disse "o atual presidente". Ao citar Ciro Gomes, candidato à Presidência pelo PPS, foi vaiado. Afirmou então que as vaias não eram dirigidas a ele, "mas ao Brasil".



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