São Paulo, domingo, 09 de abril de 2000


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ESCÂNDALO EM GOIÁS
Provas incriminam partido de Iris Rezende
Campanha eleitoral do PMDB teria fraudado pagamentos

LUCIO VAZ
da Sucursal de Brasília

Depoimentos à Justiça Federal de Goiás e a quebra de sigilo bancário de várias empresas comprovam que um empréstimo R$ 3,36 milhões feito pelo BEG (Banco do Estado de Goiás) à Astro Gráfica, em 1994, foi usado para pagar dívidas da campanha eleitoral do PMDB. A maior parte do empréstimo foi quitada por empreiteiras.
A Astro Gráfica elaborou material da campanha do partido, que em 94 elegeu Iris Rezende e Mauro Miranda para o Senado e Maguito Vilela para o governo.
Doze pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público, entre elas o irmão e suplente de Iris, Otoniel Carneiro, que era coordenador-geral da campanha.
Carneiro também é o principal acusado no desvio de R$ 5 milhões da Caixego (Caixa Econômica de Goiás). O Ministério Público Estadual diz que esse dinheiro foi usado na campanha eleitoral do PMDB em 1998. Os R$ 5 milhões foram devolvidos à Justiça na semana passada.
Provas colhidas pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal mostram que o empréstimo feito à Astro Gráfica foi quitado graças a uma operação que envolveu nove empreiteiras e mais dois empréstimos feitos no BEG.
Esses dois empréstimos foram feitos pelo BEG à TV Serra Dourada (R$ 2,7 milhões) e à construtora Egesa (R$ 4,2 milhões) em 95, segundo a denúncia. Essas empresas atuaram como "laranjas", emprestando seus nomes para a contração de empréstimos.
Parte desses empréstimos foi quitada quase quatro anos mais tarde graças a descontos irregulares dados pelo banco sobre o valor corrigido da dívida, num total de R$ 19 milhões, segundo afirma o Ministério Público.
O empréstimo da Serra Dourada foi liquidado com depósitos feitos por oito empreiteiras. Essas empresas receberam recursos do Dergo (Departamento de Estradas de Rodagem de Goiás), a título de correção monetária, e repassaram 50% do valor para quitar o empréstimo.
O empréstimo da Egesa foi quitado com recursos recebidos diretamente do Dergo, a titulo de correção monetária. A empresa fez a duplicação da BR-060 no trecho Goiânia-Anápolis.
A denúncia do Ministério Público diz que o dinheiro repassado pelo Dergo teve origem no processo de privatização da Usina da Cachoeira Dourada.
Os 12 denunciados são acusados de associação criminosa e de praticar crimes contra o sistema financeiro, como gestão fraudulenta e temerária, deferimento de empréstimos vedados e obtenção de empréstimo mediante fraude.
As oito empreiteiras que fizeram depósitos para a Serra Dourada ainda não foram denunciadas. Estão sendo investigadas em inquérito complementar da Polícia Federal.
Em depoimento recente à PF, os donos das empreiteiras disseram que repassaram 50% dos recursos que receberam do Dergo ao PMDB a título de empréstimo.
A quebra de sigilo bancário revelou que o empréstimo da TV Serra Dourada foi quitado com depósitos em dinheiro. Mas um rastreamento feito pelo Banco Central comprovou que as empreiteiras usaram cheques administrativos do próprio BEG, que foram depositados como se fossem dinheiro vivo.
Já os cheques administrativos foram emitidos a partir de ordens de pagamento feitas pelo Dergo, com recursos provenientes da privatização de Cachoeira Dourada, segundo o Ministério Público.
O sócio da Egesa que fez o empréstimo no BEG, Elmo Ribeiro, negou que tenha repassado dinheiro à Astro Gráfica. Disse que ficou com o cheque de R$ 1,95 milhão como empréstimo pessoal.


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