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Primeiro escalão ainda "bate cabeça"
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Nem tudo são flores na lua-de-mel do governo Lula, quando ministros batem cabeça, a área social
parece imobilizada e há forte tiroteio contra o Fome Zero -a menina-dos-olhos do presidente. No
Congresso, os radicais do PT criticam as políticas do Executivo, e os
aliados do PPS, PDT, PSB cobram
um programa estratégico.
O primeiro grande susto da lua-de-mel foram as denúncias de que
o ministro Anderson Adauto
(Transportes), indicado pelo PL,
estaria envolvido em desvio de dinheiro público em Minas. José
Dirceu (Casa Civil) classificou-as
de "requentadas", e até hoje elas
continuam no ar, sem desfecho.
Depois, vieram as dualidades de
comando, mais evidentes na área
social, mas também existentes na
política externa e na de desenvolvimento industrial. Na área social,
por falta de rumo e excesso de
pastas e ministros. Nas duas outras, por questões mais complexas: ideológicas, por exemplo.
Enquanto José Graziano (Fome
Zero) quer abocanhar as ações sociais de todas as pastas, os ministros da área tentam reagir. O Fome Zero roubou de Benedita da
Silva (Promoção Social) a intenção de concentrar o atendimento
a famílias. E Cristovam Buarque
(Educação) não só quer manter e
ampliar os valores do Bolsa-Escola sob sua gerência como usa o
"Analfabetismo Zero" para disputar apoio empresarial com o
Fome Zero. Além deles, disputam
espaço Olívio Dutra (Cidades) e
Jaques Wagner (Trabalho).
Em todos esses casos, vale uma
adaptação da sábia recomendação: "Eles, que são petistas, que se
entendam". Nas políticas externa
e industrial, o dilema é outro. Luiz
Fernando Furlan (Desenvolvimento) e Carlos Lessa (BNDES),
formalmente seu subordinado,
não têm nada de petistas e vivem
batendo cabeça. Furlan quer fomentar o mercado de capitais,
Lessa prefere o socorro a empresas estratégicas endividadas.
Celso Amorim (Itamaraty) é
embaixador de carreira e, em tese,
apartidário, mas mantém convivência no limite do cordial com o
velho assessor internacional de
Lula, Marco Aurélio Garcia, que
tem gabinete no Planalto. Um
quer cuidado com os EUA; o outro, uma posição mais agressiva.
Outro foco de problemas parte
do próprio PT, cujos radicais se
transformaram nos mais vibrantes críticos da política econômica.
Lideram o grupo a senadora Heloísa Helena (AL) e os deputados
Babá (PA), Luciana Genro (RS) e
Lindberg Faria (RJ).
Ainda no capítulo "fogo amigo", aliados do PPS, PC do B, PDT
e PSB cobram do governo a falta
de um programa estratégico. O
sintoma, dizem em resumo, é a
repetição ou aprofundamento da
política econômica tucana.
As críticas valem também para
as reformas da Previdência e tributária. "O governo precisa de
uma definição mais precisa do
que quer." A frase não partiu da
oposição nem dos radicais. Seu
autor é o presidente da Câmara, o
petista João Paulo Cunha (SP).
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