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Jungmann pede inquérito policial contra o novo presidente da UDR
GLAUCE GOUVEIA
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA
O ministro Raul Jungmann
(Desenvolvimento Agrário) pediu ontem à Procuradoria Geral
da República abertura de inquérito policial contra o presidente da
UDR (União Democrática Ruralista), Almir Guedes Soriano.
Jungmann acusa Soriano de incitamento ao crime: "Essa história
de dizer que vai defender a terra
com bala vai é levar ele para a cadeia. Aliás, esse seria um excelente episódio para levá-lo à cadeia".
Ao mesmo tempo em que criticou o ruralista, Jungmann disse
que as negociações com o Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra estão suspensas. "Não
tenho nada a declarar sobre isso.
O MST deve fazer seu juízo final
sobre os últimos episódios", disse.
Para o ministro, o MST errou
duas vezes quando decidiu invadir prédios públicos no país na semana passada. "A primeira, ao
bater antes para só depois conversar. E a segunda, ao querer eleger
interlocutores no governo."
Os sem-terra haviam se negado
a sentar com Jungmann e pediam
audiência com o presidente Fernando Henrique Cardoso. Além
disso, exigiam que as negociações
fossem feitas diretamente com os
ministros Pedro Malan (Fazenda)
e Pedro Parente (Casa Civil).
Jungmann disse que o MST cometeu abusos, mas criticou o uso
da Lei de Segurança Nacional
contra os líderes do movimento,
anunciado anteontem pelo ministro José Gregori (Justiça).
"Isso quem determina é o José
Gregori, mas eu, pessoalmente,
não concordo. Acho que o Código
Penal Brasileiro cobre bem essas
faltas cometidas pelos sem-terra."
Ele afirmou que não existe, dentro do governo, a intenção de criminalizar os integrantes do MST.
"Abrir inquérito contra eles não
quer dizer que serão indiciados
pela Lei de Segurança Nacional."
Criticado por sem-terra e por
fazendeiros, Jungmann ressaltou
a criação de uma polícia especializada para as questões fundiárias,
que está no projeto de lei a ser encaminhado pelo governo ao Congresso. "Essa divisão especializada da Polícia Federal vai poder pegar a milícia, quem estiver armado e quem cometer violência contra o trabalhador também", disse.
Ele acrescentou que o pacote
antiinvasão anunciado na semana passada não é autoritário, como acusou o MST. Entre as medidas está o congelamento, por dois
anos, de vistorias de terras para
efeito de reforma agrária.
Além disso, reduziu a remuneração paga no resgate dos TDAs
(Títulos da Dívida Agrária) e aumentou o prazo para pagamento
de 20 para até 50 anos. "Se dá um
pau, como a gente deu, nos latifundiários, é autoritário, eu não
entendo mais nada."
Jungmann e o ministro Pimenta
da Veiga (Comunicações) participaram ontem, no Recife, do
anúncio oficial de acordo feito entre os dois ministérios para a descentralização da entrega dos títulos de domínio agrário.
Os agricultores assentados não
precisarão mais ir ao Incra (Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária) para receber o
documento de posse definitiva do
terreno. A entrega dos títulos será
feita nas agências dos correios.
Os primeiros beneficiados com
a medida foram as 64 famílias assentadas do Engenho Pitanga, em
Igarassu (PE). Até o final do ano
serão atendidos mais 1.600 pessoas em Pernambuco e 50 mil no
país. Jungmann lançou também
ontem o programa Nossa Terra
Nossa Escola, que pretende estimular os agricultores assentados
a manterem os filhos estudando.
O agricultor que estiver com os
filhos de 7 a 14 anos na escola poderá ter desconto de até 50% no
valor a ser pago pela terra onde
está assentado e nos juros cobrados por atraso no pagamento.
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